Capítulo 1

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O mundo acredita que "morrer" é a solução para quando um problema surge, mas não é bem assim. As coisas podem piorar ou melhorar, realmente, mas tudo o que vi até hoje, foi apenas arrependimento de pessoas que escolheram a opção de forçar a própria morte.

Eu de certa forma defendo que não me matei, porém já fui humana... Sim, fui.
Hoje vivo minha vida juntando pessoas, ajudando quem precisa de um empurrãozinho e cumprindo tarefas, e esse, é o meu trabalho praticamente permanente, ou pelo menos até cumprir o que devo.

Vocês vão acabar entendendo.

Virei uma espécie de anjo depois de deixar de ser humana. Eu não tomei outra forma, ou ganhei asas, ou melhor dizendo, isso é o que venho insistindo para ter.
Parece estranho, e até mesmo pode parecer engraçado, porém acredite.
O lugar onde eu trabalho é um edifício chamado Time of Angels, e por mais estranho que pareça, é um edifício como todos os outros, tipo aqueles de Nova York! Chique, moderno e bonito... porém não está em Nova York, e sim numa pequena cidade no Mundo dos Anjos. Nele trabalham diversos anjos que facilmente são confundidos com pessoas normais.
Os cargos vão do mais baixo até o mais alto, e eu, estou no meio.

Vejo todos os dias entrar pelas portas do edifício pessoas desacordadas, porque morreram ou se mataram. Depois, essas pessoas são direcionadas para uma sala, onde são obrigadas a responder todo tipo de pergunta, mas a principal, era sobre a causa da morte, que era enfim o que decidiria o "destino" da pessoa: se fosse uma causa natural, haveria um tipo "normal" de trabalho pós-morte; se suicídio, essas pessoas são obrigadas a cumprir uma lista enorme de coisas, como: ajudar, salvar, aconselhar, acompanhar, lavar pratos... Variando por todo tipo de coisa, exatamente para fazê-la entender a seriedade do que fez.

Eu vivo aqui cumprindo minha lista, pois já entrei por aquela porta e já estive naquela sala.

E neste momento, estava no edifício pronta para cumprir mais uma tarefa. Não vou mentir, são cansativas de tão entediantes.

- Sua próxima lição é ajudar aquela velhinha a atravessar a rua com todas aquelas sacolas, enquanto carros de todos os lados estão vindo com o intuito de atropelar ela. - falou Diego, meu supervisor, que me ditava as tarefas, e claro, vigiava meu trabalho.

- Quem seria maldoso o suficiente para atropelar uma velhinha de propósito?! - disse eu olhando o grade monitor que mostrava a imagem da mulher.

- Sabe como é o mundo, Clara. - concordei com a cabeça.

- Tarefa mole. - declarei olhando para minhas unhas, com o intuito de irritar Diego.

- Ótimo você achar isso, significa que terminará mais rápido. - sorriu falso. - Pare de tentar me enrolar e vá.

- Eu vou porque eu quero. - falei me levantando.

- Não, você vai porque é sua obrigação. - ele falou com deboche.

Talvez fosse.

- Tanto faz. - revirei os olhos e abri a porta que me levava diretamente para o mundo dos humanos, o lugar tão conhecido onde eu salvaria a tal velhinha.

Logo a vi andando a poucos metros da rua. E como ninguém podia me ver, fui correndo entre todos e quando cheguei perto dela, acompanhei a mesma na sua velocidade - que era bem lenta - até a beira da rua.

- Certo, o que eu posso fazer para ajudar a senhora? - falei em voz alta, e como ela não podia me ver nem me ouvir, não vi problema.
E acredito que posso ter esquecido de mencionar que tudo o que eu tenho de cumprir, tenho que ter minhas próprias ideias e me virar do meu jeito para conseguir fazer todas as tarefas. Não tenho ajuda nem de Diego, nem de ninguém. - Hum... - andei até o meio da rua e vi rapidamente os carros que Diego me falara, que seriam responsáveis por atropelar a senhora: um preto e um vermelho.

Entre Anjos e Humanos - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora