Capítulo 6

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-O que você está fazendo aqui? - sorri. Essa frase já tinha ficado repetitiva esses tempos. - Quanto tempo tem que você está aí me olhando? - me virei, voltando a ficar sentada normalmente.

- Eu que devo lhe perguntar por que você está aqui, em minha defesa nunca tinha te visto aqui antes. - Jake riu e continuou. - E não tem tanto tempo, já que quer saber, mas suficiente para perceber que você estava pensativa. O que houve, garota estranha? - falou essa última parte com um certo suspense.

- Não estou pensativa... - tentei arrumar uma desculpa. - Só sentei pra descansar um pouco, andei muito hoje. - Levantei e andei até ficar de frente para o garoto.

- Vou tentar acreditar. - olhou em meus olhos e deu uma risadinha. - Mas então... Vamos fazer alguma coisa por aí? Sei lá, caminhar, ir no cinema, o que quiser... Claro, se você quiser... - percebi que ele ficou meio embaraçado, obviamente porque não era tão comum Jake ter quem chamar para fazer algo, e sendo eu a pessoa que ele escolheu para convidar, o menino não faz ideia do quanto ajudou no meu trabalho, já que estou aqui exatamente para ficar perto dele.

- Se você não quiser, não tem pro-... - coçou a nuca aparentemente nervoso.

Não deixei Jake terminar a frase.

- Eu aceito. - Sorri, vendo ele ficar com uma expressão feliz e surpresa ao mesmo tempo. - Onde você quer ir? - Vi Jake pensar por alguns segundos, até se mostrar sabido de onde me levaria.

- Acho que tenho em mente aonde podemos ir, garota estranha. - desencostou da árvore - Vamos?

- Vamos. - ambos sorrimos.

Fomos andando por ruas, dobrando esquinas, atravessando ruas, até pararmos em frente um prédio cinza, não tão antigo, mas também nada novo.

- Onde é? - perguntei me referindo ao lugar onde ele queria me levar.

- Aqui. - apontou para o prédio cinza que estávamos na frente, como se fosse óbvio. Fiz cara de dúvida, mostrando que não estava entendendo. - Você já vai ver.- explicou

Jake foi até a lateral do prédio, me mostrando uma porta escondida. O menino abriu a porta sem dificuldade, me possibilitando a visão de uma longa escada levando para cima, que não dava para ver o final, já que o dia estava ficando escuro.

Ok, digamos que mesmo você sendo um anjo, você foi para um mundo de humanos para cuidar de um menino triste, e esse menino triste te leva para um lugar onde tem uma escada escura que dá para sabe-se lá onde... Você também acharia estranho? Se não, você tem algum problema.

Fiquei certo tempo observando a escada, até que olhei para Jake, fazendo uma cara de sem chance.

- Não precisa ter medo. Lá fica um terraço. - Andou e foi para o primeiro degrau. - Vem comigo. - pegou minha mão com delicadeza e começou a subir, me levando junto.

Aquela escada era realmente grande, uma vez que demoramos mais ou menos dois minutos para subir aqueles lances.

Assim que acabamos de chegar ao último degrau, havia outra porta.

- Pronta? - fiz que sim, mesmo ainda achando aquilo tudo muito estranho.

O garoto abriu aquela porta e entrou no lugar soltando minha mão, me dando espaço para entrar em seguida.

Era final de tarde, e o Sol estava se pondo. Estávamos em um terraço extremamente alto, que tinha uma vista magnífica do pôr do Sol acontecendo.

Caramba...

- Uau... - fui andando, tentando gravar cada detalhe da imagem linda que eu estava presenciando.

- Gostou? - Jake chegou ao meu lado me observando.

- Sim... - olhei de relance para ele, mas voltando meu olhar na paisagem.

Não sei se já havia dito, mas quando humana, o pôr do Sol era uma das minhas poucas coisas preferidas.

Assistimos o Sol se deitar até sumir de nossa vista, sem dar uma palavra sequer, apenas aproveitando o momento e nossa própria companhia.
Quando a luz sumiu por inteiro, fixei o olhar em Jake, ainda surpresa por tanta beleza que o mesmo havia me proporcionado.

- Que coisa... Perfeita. - dei um riso leve, tentando achar a palavra certa. - Eu amei. - sorri mais ainda.

- É muito perfeito sim... E fico feliz por você ter gostado. - sorriu também.

Jake mostrou um pequeno banco há alguns metros dali, e de imediato fomos andando até o lugar para nos sentarmos.

- Como teve a ideia de me trazer aqui? - questionei. Aquela era uma pergunta que rondava minha cabeça durante aqueles minutos.

Jake ficou alguns segundos pensativo, talvez decidindo se deveria ou não me contar algo.

- Tá legal... Eu venho aqui desde meus 15 anos. Esse prédio foi abandonado uns anos atrás, e desde então venho aqui para tentar esquecer um pouco do mundo real, das pessoas, dos julgamentos, de tudo. - suspirou. - Eu vou te contar a verdade... Nunca trouxe ninguém aqui. - olhou para mim.

- Mas então... Por que você me trouxe? - desviei o olhar.

- Não sei. - disse simplesmente desviando o olhar também. - Imaginei que poderia te trazer aqui. - olhou para baixo e voltou a olhar para mim sorrindo de leve.

- Eu fico feliz por você confiar em mim. - olhei para ele, e como o banco era pequeno, com o espaço exato para duas pessoas como nós, estávamos bem perto.

Ficamos nos olhando por não sei quanto tempo, talvez segundos ou minutos e creio que nenhum de nós fazia ideia. Até eu olhar para baixo sem jeito e rir.

- É... Eu acho que está ficando tarde. - falei olhando para cima e vendo o céu escuro.

- Está mesmo. - ele ainda estava olhando para mim do mesmo jeito de antes, e só desviou o olhar quando se levantou, o que me induziu a ficar de pé também. - Vem, eu te levo para casa. - ele sorriu e assim descemos as escadas, em seguida fazendo o mesmo caminho que tínhamos feito para chegar até ali, só aumentando um pouco para chegar na casa.

- Eu acho que é isso. - estava um pouco escuro, o que fazia a luz do poste acima de nós refletir em seus olhos, deixando-os brilhantes.

- Sim. - fixei meu olhar no seu, novamente estávamos perto sem nem perceber.

- Até... Algum dia. - deu um passo para frente, ficando mais perto ainda de mim, me deixando imóvel.

- A gente se esbarra por aí. - repeti a frase que havia dito mais cedo, no mesmo lugar.

- É... - Sorriu e se afastou andando para trás. Fiz um aceno bobo com a mão e o vi continuar a sorrir e se afastar depois.

Entrei em casa, dessa vez sem nenhuma surpresa, apenas com uma cabeça cheia de dúvidas e um nó na garganta.

Sou capaz de jurar para o mundo que não estava entendo muito bem o que estava acontecendo.

Será que estava dando certo? Tudo estava mudando tão rápido, digo, o menino não queria nem falar comigo mais cedo, e agora estava parecendo que éramos amigos há muito tempo. No mínimo estranho, porém olhando por outro lado, era um sinal que meu trabalho estava dando certo.

Acalmei meus pensamentos e me deitei, não conseguindo dormir de primeira tentativa, mas depois de uma certa dificuldade me entreguei ao sono.

(...)

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