Entre Anjos e Humanos - Livro 1

Capítulo 12

Já dentro da caminhonete, estávamos eu e Jake, mas uma coisa estava diferente: as posições estavam invertidas:
Eu estava como passageiro, e ele de motorista, o que me deixava assustada, pois não sabia se Jake sabia realmente dirigir.

- Você sabe dirigir, cara? - falei colocando o cinto, vendo Jake fazer uma cara de desgosto para mim.

- Claro que sei. Você acha mesmo que eu te colocaria num carro, que eu estivesse dirigindo, correndo risco, caso eu não soubesse dirigir? - disse como se fosse óbvio.

- Você tem razão. - levantei as mãos e sinal de derrota, então parei um pouco e comecei a rir. - Então sou tão especial assim para você? Tanto, para você se preocupar com riscos?

Jake deu de ombros.

- Talvez seja. - ligou o carro e começou a dirigir. - Poucas pessoas têm esse título para mim. - riu.

- Olha só. - fiz uma expressão divertida, com vergonha, já que o garoto do meu lado acabou de falar que sou importante para ele. - ... Afinal, onde estamos indo?

- Não faço ideia. - riu. - Estava pensando em ir ao comércio da cidade, talvez tenha algo de bom lá. - deu de ombros.

- Então partiu centro. - fiz posição de super-herói, tirando uma risada de Jake.

(...)

Tínhamos estacionado o carro em uma pequena rua, que estava razoavelmente vazia, para que quando fôssemos de volta para o hotel não tivéssemos problemas com trânsito pesado.

Estávamos ambos andando em uma calçada que haviam várias pessoas presentes, o que nos obrigava a ficar um junto do outro para não nos perdermos.

- Olha lá. - apontei para uma loja de roupas e assessórios. - Vamos?

Após Jake não entender muito bem o que eu iria querer em uma loja como aquela, fomos em direção à ela, entrando rapidamente.

Observando os lados, pude ver várias coisas: chapéus, óculos, roupas, bijuterias, todo tipo de coisa feita no Paraguai.

Peguei um boné amarelo que estava em uma prateleira, em seguida colocando ele de forma desajeitada, fazendo nós dois rirmos.
Após colocar o boné no lugar, continuamos a andar, até algo me chamar a atenção.

- Jake. - sorri para ele.

- Oi - falou mais em forma de pergunta.

- Por que não...? - peguei um cabide com uma camisa branca masculina.

- ... Não. - falou com as sombrancelhas franzidas.

- Ah cara, tem tanto tempo que você só usa roupas pretas ou escuras... Você poderia tentar algo diferente, não? - questionei.

Jake pareceu pensar por alguns segundos, avaliando a ideia.

- Ta bom. - pegou o cabide da minha mão, indo em direção aos provadores da loja, me fazendo seguir o mesmo sorrindo.

Me sentei em um banco de frente para o provador que Jake estava, animada para finalmente ver o que viria.

Durante o tempo, dispensei umas três atendentes que me perguntavam o que eu queria, rezando mentalmente para Jake não demorar.

Quando ele abriu a porta do cubículo, poderia falar facilmente que eu estava observando uma obra de arte.

Jake com roupa clara.

Ele parecia envergonhado, mas feliz dentro daquela blusa lisa.

- Você gostou? - perguntei animada, vendo sua expressão abir lentamente em um sorriso.

- Por mais estranho que seja... - se virou para o espelho. - Gostei bastante.

Quando ouvi aquilo, poderia pensar que minha boca rasgaria de tanto sorrir.

- Isso é ótimo, Jake. - me levantei e parei atrás do mesmo, o olhando. - Mudanças fazem bem.

- ...Eu vou levar. - decidiu.

- Sério? - aquilo só poderia ser um sonho.

- Sim, faz tempo que não uso roupa colorida ou clara... E pelo jeito estou me sentindo bem em algo que não seja preto. - riu. - Então é isso.

- É isso. - sorri e saí andando pela loja de novo.

Pensei em mostrar mais roupas para Jake, mas tudo era tão novo para ele, que desisti, com medo de o menino acabar se arrependendo.

Por um tempo fiquei decepcionada por não achar nada que me interessasse na loja, e, em um de meus devaneios com falta de atenção, acabei por esbarrar em mulher que levava uma arara de roupas, fazendo algumas delas caírem.

- Ai meu Deus. - Eu e a mulher falamos juntas.

- Me desculpe moça. - catei todas as roupas que haviam caído. - Eu estava distraída...

- Não tem problema, querida. - esboçou um sorriso acolhedor.

Essa mulher é definitivamente diferente da do pátio de carros, que me lançou um olhar de ódio envés de um acolhedor.

Fui colocando as roupas no lugar que estavam, até chegar na última e perceber algo.

- Moça? - ela voltou a olhar para mim. - Eu posso levar essa roupa comigo?

- Claro, ela é da sessão de vendas. - falou.

- Certo... Obrigada. - andei um pouco. - Inclusive, desculpe de novo! - ri um pouco.

- Sem problemas. - sorri para a mulher e saí correndo para o provador.

Eu nunca me senti atraída por roupas cheias de frufrus ou coisas do tipo, mas pior ainda, nunca me senti atraída por nenhum tipo de vestido.

Muitas pessoas falavam que eu acabava sendo menos feminina por não gostar de vestidos, porém sempre tentei não me importar, pois não é o que eu visto que diz o que eu sou.

Ou pelo menos a maioria.

Entrei no provador e tirei minha roupa inteira, vestindo finalmente, a roupa que havia me chamado a atenção, pela primeira vez.

Um vestido vermelho sangue, que batia no joelho, sem muito decote, estava em meu corpo, parecendo que havia sido feito exatamente para mim.

Poucas vezes me senti bonita, mas quando me vi no espelho, não consegui ver defeitos em mim mesma.

Não pedi opinião para ninguém. Nem de Jake, nem de atendente.
Decidi por mim mesma, que iria levá-lo comigo.

Eu sei, eu sei.
Não estou na Terra para fazer compras, mas e daí? Eu acredito que eu mereço me sentir bem.

Vesti novamente minhas roupas normais, e saí do provador com o vestido na mão, indo diretamente no caixa.

- Vou levá-lo. - falei para a mulher em minha frente.

- É um belo vestido, ficará ótimo em você. - disse a moça sorrindo.

- Oh... Obrigada. - falei sem saber como reagir ao elogio.

Paguei pelo vestido e me deram ele dentro de uma grande sacola bege com a marca da loja.

Quando me virei, vi Jake me esperando bem atrás de mim, me fazendo esbarrar no garoto.

- Que susto... - coloquei a mão no coração. Vi logo que Jake estava novamente com a roupa preta, sem querer, deixando transparecer minha tristeza.
O que ele percebeu.

- Eu comprei. - mostrou a sacola igual a minha, me fazendo dar um sorriso. - E você, o que comprou? - saímos andando.

- Nada de mais. - Jake achou estranho, mas decidiu não continuar mais no assunto.

Depois do dia de compras e do sucesso de conseguir fazer Jake vestir algo não-preto, fomos almoçar calmamente, para depois passarmos o resto do dia fazendo coisas banais e dormindo.

Amávamos dormir.

(...)

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