Capítulo 2

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Ao dizer que aceitava a proposta, Gabriel expressou sua felicidade com um sorriso, diferente de Diego, que estava claramente espantado com minha decisão.

- Maravilha! Ficamos felizes em ter você fazendo essa missão! - falou Mariana estendendo sua mão para apertar a minha, seguida de Gabriel que fez a mesma coisa.

- Temos certeza que você irá se sair muito bem. - disse Gabriel, logo depois se despedindo de Diego, e passando por mim me dando um leve aceno.

- Clara, você tem certeza disso? - Diego indagou, deixando transparecer toda a preocupação presente em sua voz.

- Sim, eu quero tentar. - falei convicta.

- É muito arriscado! Você sabe que nunca falhou, porém é quase impossível salvar uma pessoa com aquele tipo de história! - falou ao levantar de sua cadeira, começando a andar de um lado para o outro.

- Eu sei que é fácil falhar em uma missão dessas, e sei que é arriscado para minha carreira, mas eu sinto que lá é... Não sei, sinto que o certo é tentar. - coloquei para fora tudo o que estava pensando desde que coloquei os olhos naquele monitor.

- Por que você quer se arriscar?

- Porque sinto que eu posso ajudar aquele menino. - me levantei apontando para a grande tela, ainda olhando para Diego. - E sinto que eu preciso fazer isso, porque se eu não fizer, eu vou me arrepender, porque eu sou a única que pode fazer isso. - após falar tudo, soltei o ar que nem havia percebido que estava segurando em meus pulmões.

Diego foi de volta para sua cadeira, logo se mostrando pensativo.

- Você está... Certa. - falou derrotado. - Eu apoio sua decisão, e tenho certeza que você não vai nos decepcionar, apesar de ser arriscado.

- Agradeço pelo voto de confiança. - falei sorrindo, me retirando de sua sala calmamente.

Não consegui imaginar o que viria após tudo... Aquilo.
Não sabia o que havia me dado para querer tentar ajudar um garoto que nunca nem sequer vi na vida, arriscando minha carreira sem falhas, por uma tarefa que poderia romper bruscamente tal perfeição.

Seria assustador ir para a Terra e viver alguns dias sendo de certa forma humana, depois de tanto tempo fora de cogitação voltar para o lugar onde por muito tempo eu quis sair.

(...)

- Já aqui, Clara? - disse dona Judite, a recepcionista do edifício.

- Sim, preciso fazer algo importante hoje. - falei sorrindo.

- Que bom, minha querida. Espero que seja lá o que for, dê certo, tenho certeza que você vai fazer com muita dedicação e amor. - sorriu.

Ela nem imagina...

- Obrigada... a senhora não faz ideia do quando me ajuda ouvir isso. - dei a volta no balcão da recepção e abracei ela, logo me sentindo bem.

Me desvencilhei de dona Judite calmamente, olhei em seus olhos e me despedi, indo para o último andar, mais especificamente para a sala de Diego.

Na noite anterior, Diego havia me ligado, dizendo que era para eu estar no prédio mais cedo que o normal, pois ele iria me passar todas as instruções e coisas que iria precisar saber para assumir no dia seguinte o posto na Terra.

Ao bater na porta, logo uma voz me disse para entrar, e, quando entrei, a primeira coisa que vi foi uma mesa repleta de papéis coloridos.

- Bom dia, Clara. Sente-se, são muitas coisas que você tem que absorver em um só dia. - falou e eu me sentei na cadeira em sua frente.

- Certo, mas o que são todas essas folhas? - falei e por impulso peguei uma folha verde que estava na minha frente, que tinha o título de "Histórico" - Histórico de que?

- Curiosa. - brincou amenizando o clima concentrado. - É o histórico de vida do garoto que você vai ajudar, nele contém as melhores e piores coisas que já aconteceram com Jake.

Olhando o papel, li o primeiro tópico de Piores Coisas.

Piores Coisas

1- Seu pai morreu inesperadamente, sendo que era importante para Jake, apesar de muitas brigas.

- Mas muitas pessoas perdem seus parentes até mesmo mais novos que ele. - olhei para Diego.

- Sim, mas não é só isso... - disse com cautela, me induzindo a ler o resto do tópico 1.

Tendo em seguida a morte de sua avó, deixando apenas o garoto e sua mãe.

-Ah... - Voltei a ler.

2-Como o pai morreu quando o garoto era bem novo, ele fora forçado a crescer sem uma figura paterna.

- Caramba... - olhei de relance para Diego, continuando a ler a lista que continha umas 10 coisas.

3- Jake teve um amigo quando tinha 10 anos, mas esse amigo morreu de câncer dois anos após se conhecerem, e esse acontecimento, tanto quanto os demais, marcou sua vida. Pelo fato de Jake não fazer amigos facilmente, e não ter outros amigos.

4- Jake começou a se enturmar com pessoas perdidas de uma praça, mas esses não aceitaram ele por muito tempo, alegando que ele era muito bobo para estar no "grupo", e desde então Jake passa seus dias entediado.

- Bobos são eles. - Falei em voz alta, fazendo aparecer um ponto de interrogação na expressão de Diego, apontei envergonhada para o papel.

Quando terminei de ler a lista das Coisas Ruins, podia falar abertamente: essa tarefa seria quase impossível.
O menino já passou por coisas tão horríveis, que acredito que seria muito difícil conseguir ajudar uma pessoa com um histórico desses.

- Meu Deus. - disse colocando a folha sobre a mesa, olhando para Diego, que sabia exatamente o porque de eu estar falando aquilo, uma vez que já havia lido aquela folha.

- Pois é, é uma "Missão Impossível". - falou fazendo um trocadilho com o filme.

- Olha... Só me fala logo o que eu preciso saber, para eu parar de ouvir esse tipo de coisa. - falei ouvindo um riso.

Passei aquele dia aprendendo sobre a vida daquele menino, tendo uma surpresa atrás da outra, e poderia falar facilmente que ele era depressivo, e essa era uma das coisas que estavam escritas na lista de Qualidades e Defeitos.

Além de ter que aprender sobre a vida de Jake, tive uma aula de como agir com humanos, e, após isso, Diego me deu uma mala inteira de coisas que eu iria precisar para parecer uma adolescente de 17 anos, de preferência, humana.
Diego me deu também a chave de uma casa, que eu iria morar durante o período que eu viveria na Terra.
E por último, ele me deu um telefone.

Sim, um telefone.

Segundo ele, "seria para eu parecer mais humana no meio de todos", mas que por dentro, o celular não era igual aos de outras pessoas. Nele eu teria total acesso a todas as informações das pessoas que eu convivesse, ou seja, uma Wikipédia de pessoas.

Cheguei ao fim daquele dia quase morrendo, e com o cérebro quase explodindo de tanta informação, mas creio que valeria a pena.

(...)

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Entre Anjos e Humanos - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora