Capítulo 2- Catarina

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"O medo e o abandono me tiraram do sossego"

Tento prestar atenção na aula, mas não consigo me controlar. Curso o 2 ano do ensino médio e sim estou adiantada, não é atoa que a Ray é minha colega e é mais velha que eu.

Ray: Tenta se concentrar, ano que vem tem enem. - me reclama

Catarina: Posso ver de novo? - ela bufa me entregando o celular

Abro no whats e tem o número anônimo inclusive que ja bloqueou a Rayres pra não responder. Acabaram de enviar uma foto do Nando entrando na casa da Petra, uma menina do morro da nossa idade, mas estuda em uma rede particular. Na legenda veio escrito "Quando os gatos saem os ratos passeiam"

Sinto muita vontade de chorar, mordo o cantinho da boca agoniada. Espero que o sinal bata logo.

Ray: Você não precisa ficar assim. Sabe muito bem o quanto você é um mulherão da porra, guerreira e determinada.

Cata: Não adianta você falar, não vou conseguir engolir tudo até ele me explicar- ela revira os olhos

Ray: Se você estiver esperando as desculpas dele vou logo te adiantando amiga. É aquelas que ele diz sempre "foi engano" "o povo que sai inventando, eu estava la consertando a luz pra Dona Maria." - pior que ela está certa.

O sino bate e pego minhas coisas apressada en sair dali. Noto no meio do caminho a diretora das ONGs subir carregando várias sacolas em uma mão e na outra segurando a pequena herdeira do império das joias.
Logo me lembro da velha cena da dona Viviane, onde em um fim de tarde caminhávamos da mesma forma. Ela dizia "vamos levar esses presentes para a vovó" quando na verdade era todas as coisas que eu tinha e me abandonou.

Lembro que minha vó ficou contente em nos ver, tanta alegria que dizia ir fazer uma sopa, mas faltava o macarrão. Logo Viviane se dispôs a ir comprar. Comprou! Minha solidão
Como aquela famosa história do saiu pra comprar cigarro, ela também se foi. Mas no meu caso, foi comprar macarrão.
Ao abrir minha bolsa havia um bilhete pedindo pra que minha vó cuidasse de mim, pois ela iria em busca de um futuro melhor. Futuro que nunca caberia a Catarina.

Chego em casa subindo os degraus correndo e abro a porta. O Bento se anima em me ver e vem correndo em minha direção.

Bento: Caaataaaaaa eeeeeeeeê - abraço ele de volta e beijo sua cabecinha- vem brincar comigo?

Cata: Vou tomar um banho e ja brincamos. Ta bom? - ele balança a cabeça positivamente indo brincar com seus carrinhos de madeira feitos pelo João.

Beijo a minha vó que está beirando o fogão a lenha e pego minha toalha seguindo pro banho.

[...]

Ray: Ei Maria mole - me chama da janela- vamos no açaí comigo?

Catarina: Não, obrigada. - sorriu pra ela enquanto fecho os livros. Na verdade o dinheiro que eu tenho não posso gastar, as vezes falta aqui em casa e o que eu economizo de um bico e outro deixo pra cobrir essa falta ou comprar leite.

Ray: Eu vou pagar amiga

Catarina: Não e obrigada outra vez - a Rayres tem uma condição financeira bem melhor que a da gente. Não que ela viva no luxo, mas o pai trabalha como segurança do Ravi e a mãe costura para as ONGs. Ela também faz alguns bicos comigo, escova um cabelo ou faz uma unha por ai. E assim vamos nos mantendo.

Sob A Luz Das Câmeras- BônusOnde histórias criam vida. Descubra agora