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Existe uma dificuldade para muitos homens em aceitar seus filhos gays... imagina quando nos veem com um parceiro então... De certo em suas cabeças uns veem a cena de um cara comendo outro ou chupando pau ou até que nós somos todos promíscuos e incapazes de laços afetivos com apenas uma pessoa ou de ter um relacionamento monogâmico. Esse pensamento sempre vai existir para algumas pessoas.
Não quero dizer que foi fácil fazer meu pai sentar na mesma mesa com meu namorado num domingo de Páscoa, mas foi possível e isso realmente aconteceu há alguns anos. Mesmo que aquele almoço prometido tivesse acontecido dois meses após um dia que falei com ele sobre inserir mais a presença do mozão entre minha família. Mas o desconforto foi algo inicial, poucas horas depois estávamos contando nossos podres e debochando das "tragédias" familiares. Enfim, isso faz parte do passado que invadia minha cabeça.
A felicidade de ser acordado pelo homem mais gostoso que já conheci, mais lindo e apaixonado, é quase surreal.
Posso e devo confessar que me mudar para aquele apartamento bonito, me dava certo receio. Chamar de lar um lugar onde não comprei até então um item da decoração demorou pra entrar na cabeça. Me senti um visitante, mesmo tendo-o frequentado por mais de dois anos.
A rotina, apesar de deliciosa se estabeleceu rápido, afinal não casei com um bilionário bon-vivant e tinha que acordar cedo, fazer café, dividir as tarefas domésticas com ele e a diarista, manter as coisas no lugar. E claro, dar assistência ao marido e essa era a melhor parte.
Que delícia, senhor!
No meu íntimo senti culpa por não estar em casa quando meu pai foi internado outra vez e quando recebeu alta eu também não estive lá. Tantas vezes tomei a frente de tudo que acostumei mal os meus irmãos. Dois meses depois os demais pediram uma reunião quase formal para que todos tivessem sua vez de levar seu Roberto ao pronto socorro.
Eu quis jogar na cara que nunca revezei com ninguém, mas pra mim, se o fizesse era como humilhar meu pai porque ele vivia dizendo que não queria dar trabalho.
— Quando é preciso reclamar, tu baixa a orelha, percebeu? — Anderson usa a sinceridade de maneira ácida quando pensa que posso ser prejudicado no trabalho se caso precisar sair no meio do expediente. — Teu irmão Ricardo que é autônomo poderia ficar à disposição de dia pelo menos.
— De dia minha mãe disse que se vira, é a noite o mais complicado...
— Antes os teus irmãos revezavam com você de noite?
— Poxa... esse era um dos motivos que me segurava em casa. Todo mundo vai viver a sua vida e deixa o pai de lado. Agora que saí de casa, me cobram como eu não me importasse.
Anderson diz que baixei a orelha, mas foi por meu pai. Seu quadro não era nada animador. Adoecia com facilidade e frequência. Emagreceu demais, ficou amarelo até nos olhos, sua barriga e pernas incharam, fora os vômitos e reclamações de dores, com tudo isso lhe custou a internação e a nós nos prepararmos para o que viesse. Mas sua luta pela vida era algo capaz de inspirar aos cinco filhos. A mim, fazia lembrar qualquer momento junto com o Rica e a Renata, essa com a Rayane no colo no banco traseiro do Chevette nos passeios. Na frente junto com meu pai, minha mãe estava com a barriga imensa nos últimos dias antes de dar a luz ao Ramon.
Eu me agarrei nas lembranças boas e no que minha família imperfeita e amada sempre representou pra mim. Não conseguia sentir raiva dos meus. Queria que nunca precisássemos nos separar, mesmo que cada um morasse em um endereço diferente. Seu Roberto era um guerreiro. Era tão bom quando retornava pra casa. Nos dava esperança e motivação para seguir com nossas vidas.

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Sol e Marte
RomanceFinalizado! Romance LGBT. Se você estiver lendo esta história em qualquer outra plataforma que não seja o Wattpad, provavelmente está correndo o risco de sofrer um ataque virtual (malware e vírus). Se você deseja ler esta história em seu formulário...