***
O romance ia bem, casados já estávamos e adiamos por essa razão qualquer cerimônia durante aquele ano. No Brasil já estava legalizada União Estável para casais homoafetivos e planejamos completar dois morando juntos para encomendar alianças com nossos nomes gravados. Foram nossos planos. (que concretizamos, já falo de uma vez porque detesto suspense demais)
O trabalho também ia bem, eu estava me realizando completamente.
E... na saúde, eu cuidava sim. Um ano antes desse momento, eu tinha passado até por endoscopia e nada fora observado fora do normal. Por esse motivo, só pisava num consultório caso tivesse algo muito incomum. Tipo, já me aconteceu de ir ao médico com dor na bunda e o cidadão sugerir que eu estava acima do peso, por isso passei por fisioterapia e tomei muito anti-inflamatório devido à problemas com nervo ciático. (depois a dor voltou) Noutro momento foram umas dores no ânus com sangramento. Mais anti-inflamatório combinado com supositório sem uma investigação por parte do médico, dessa vez o doutor Bartolomeu, um senhor que minha mãe confia desde que éramos crianças. Se ele não solicitou, é porque não devia ser grave. Fiquei mais tranquilo e ponto. O chato disso, era a dor voltar depois de uns meses e os enjoos que eu tinha, virarem motivos de piadinhas sobre gravidez:
— Só se eu pôr um ovo — respondo ao colega que tira sarro. Rimos juntos porque sou uma mana debochada.
E quanto ao lar, onde o coração descansa, nossas famílias sempre tiveram uma boa relação, falo de pai, mãe e irmãos, porque parentes são os dentes que às vezes mordem a gente. Então deixa cada um no seu quadrado que tudo fica melhor.
Eliane, minha cunhada a quem sou tão grato por ter penetrado em minha existência, é uma das grandes amigas que tenho e meu amor por ela é interminável. A admiro, mesmo que repita várias vezes a mesma história de como foi difícil sua vida na infância e adolescência. Seu pai os abandonou pela primeira vez quando Anderson tinha somente quatro anos, largou da família por outra mulher, retornando com uma criança e sendo aceito pela mulher que nunca o esqueceu. Mas já comentei isso também, desculpe. Só pra relembrar o que minha cunhada passou.
— Tive que ser praticamente a mãe deles. O Marcel tinha dois anos quando veio morar conosco e o Anderson tinha quase nove e rejeitava o pequeno. Era muito difícil de conter os dois. Um só chorava pela ausência da mãe e o outro era revoltado. Eu nem sei como passei por tudo e ainda cuidei do pai doente de Aids depois... Hoje eu tenho um filho com nove anos que é minha vida e nunca vou entender como que se abandona um filho...
— Tu nem é gente, cunhada. Um anjo desses... Te amo tanto, tanto.
— Eu também te amo e nem sabe como agradeço por fazer bem pro Anderson. Dá pra ver o quanto ele é feliz hoje. Sem aqueles ciúmes que tinha no relacionamento anterior, sem aquelas discussões baixas. Isso foi algo que comentei contigo, lembra? Achei que devia te prevenir, mas é tudo diferente com vocês.
— Somos amigos, tem muito casal que se esquece disso. — durante o papo, eu tenho uns desconfortos gástricos e comento com a Eliane que irei passar por uma nova endoscopia — Tenho agendada a endoscopia e hoje cedo tirei sangue. Fui obrigado a pegar outro médico. Meu Deus, o doutor Bartolomeu quando viu meu exame de sangue no ano passado, só receitou sulfato ferroso. E se fosse mais grave?
— Ah sim. Hoje em dia, mesmo quando é doença grave, se tratada no começo tem mais chance... eu não sei opinar sobre essas coisas, tipo, achar que é gastrite ou que é só estresses, por mim, corro pro médico quando sinto qualquer coisa. Eu tomo remédio de enxaqueca, mas faço acompanhamento. Faço preventivo, levo meu filho ao pediatra conforme ele pede pra remarcar.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Sol e Marte
RomanceFinalizado! Romance LGBT. Se você estiver lendo esta história em qualquer outra plataforma que não seja o Wattpad, provavelmente está correndo o risco de sofrer um ataque virtual (malware e vírus). Se você deseja ler esta história em seu formulário...