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Sexta-feira chegando, mais uma semana que passou voando ♫. Dava pra fazer musiquinha, né?
Quem tem uns quilinhos a mais ou no meu caso, que vive o eterno efeito sanfona, um emagrecimento sempre cai bem e o ego fica faceiro. Especialmente, quando para eu mesmo, minha aparência me agradava mais do que o bem estar físico e psicológico.
Cheguei ao ponto de suportar calado àquelas fisgadas e entrar nos enjoos. Mesmo com plano de saúde, algumas consultas dependendo do especialista estavam levando em média vinte dias ou mais. O otorrino para a minha mãe só tinha para dali quase quarenta dias e no meu caso seriam vinte e um dias de espera. Me senti melhor por ter tempo para me organizar com o chefe e a coleguinha.
— Vinte dias? Renan, vá ao pronto atendimento.
— Pra tomar dipirona, Luiz?
— É, às vezes dão só isso. Mas se tiver médico de plantão, explica essa tua dor aí. Pelo menos agendou, menos mal. Tu vai pegar o dia todo de atestado? É de manhã ou de tarde?
— Escolhi o horário mais cedo que tinha, mas já me deram a dica que plano de saúde é igual SUS, atendem por ordem de chegada. Assim que sair de lá, vou vir direto. Não se preocupa. — me deu aquele ódio bem básico do homem (chefe só muda de empresa), mas me derreti quando ouvi...
— Por isso que não te deixo voltar pro caixa. Nem me encontro mais quando tu pega uns dias de férias. — ...porque era muito necessário eu ouvir dele que meu esforço era reconhecido.
Enquanto ajeitava meu cabelo fino com o secador, fazendo um topete, pensei no pouco tempo antes das entradas me colocarem na categoria dos calvos. Ou não. Tenho um conhecido de testa grande que tá chegando nos quarenta e é do mesmo jeito desde novinho. E bem diferente dos meus dezesseis anos como já me descrevi anteriormente, aos vinte e três eu me achava bem mais atraente. Dentes bonitos, coxas grossas, bunda muito redonda e olhos azuis eram meus pontos fortes e mais do que valorizar isso, eu amava desesperadamente perceber que chamava a atenção com essas características. Podiam até me apontar a pancinha como defeito ou a carinha de arrogante, que nunca foi padrão para a beleza, juro, até isso eu apreciava quando namorava meu reflexo. Não fosse chamar tanto a atenção, eu passaria um rímel para dar mais destaque ainda aos meus cílios castanhos não muito escuros.
Cumprimentei a secretária que pelo crachá se chama Valquíria (a mesma da época que fiz um curso nesse mesmo local) e meio perdido, pergunto onde fica a sala do meu curso.
— Bom dia. Ah, lembrei de você. Já fez um curso aqui, não foi?
— Sim, sim. Tu trabalhas há um bom tempo aqui né?
— Desde que abriu. São umas pessoas muito certinhas, a Eliane mesmo é uma mãe de todo mundo. Mas espera que te acompanho, só deixa a minha colega chegar.
Pelo caminho fomos tagarelando nossas motivações para termos optado por umas aulas presenciais. Ela já tinha me falado, eu rebati que meu drama era similar.
— Tens razão... Em casa é sobrinha abrindo porta, irmão que vem pegar coisa emprestada, irmã que manda dar pausa pra pegar receita de comida, mãe que tá varrendo, pai que pede o carro emprestado, vó que quer dar um beijo no neto, gato que sobe no teclado do notebook pra esfregar o rabo na sua cara.
— Ai que fofo, adoro gatos, tenho cinco.
— Lá em casa tem dois, mas são da minha cunhada e têm nomes compostos como se fossem atender: Xena Gabriele e Draco Malfoy.

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Sol e Marte
RomansaFinalizado! Romance LGBT. Se você estiver lendo esta história em qualquer outra plataforma que não seja o Wattpad, provavelmente está correndo o risco de sofrer um ataque virtual (malware e vírus). Se você deseja ler esta história em seu formulário...