*22*

576 82 92
                                    


***


Rayane quando arrumou o primeiro namorado (filho do diretor da Igreja onde ela congrega) e novo parênteses (um gatinho), foi considerada o orgulho da família e por isso ouvimos algumas besteiras da parentada, do tipo:

"a única que tem cabeça daqueles cinco"

"Sim, o mais velho se ajuntou depois de engravidar umazinha, a Renata não casou e se ajuntou também"

"pior é o do meio, todo abichalhado, Deus, coitada da Sandra Regina. Ainda bem que a Rayane está fazendo tudo certo."

Eu sou um que deu risada na cara da minha madrinha quando reproduziu a fala de uma das irmãs de minha mãe. Minha prima, filha dessa mesma tia faladeira, poucos anos após, teve um divórcio traumático de um homem abusivo (que para a família era todo "certinho") e achou paz e amor com um companheiro novo todo tatuado como minha tia odeia, e mudou-se com ele para outro estado. Tá lá bem tranquila. Mandou um beijo pra família esses dias. Abusadaaaa.

Mas isso acontece com quem não se preocupa com sua vida e para quem, agradar aos padrões é mais importante que a felicidade das pessoas. Não estou dizendo que minha tia foi "punida", isso seria horrível, quero dizer que dá trabalho cuidar do nosso quadrado. Como que ainda sobra tempo pra cuidar do gramado do vizinho?

Tá sobrando tempo pra ela? O meu não sobra. É meio cronometrado demais. Cansa só de pensar em descrever minha agenda e mesmo assim procuramos preservar algumas coisas, como fazer um programa fora de casa um dia por semana. Eu queria no sábado, mas ele prefere no meio da semana porque sábado quer curtir um descanso quando acha mais movimentado pra sair de casa.

— Mas a senhora é muito cínica mesmo. Praticamente me chantageou pra eu voltar minha folga pra quarta.

— Não lembro. — finjo, porque no meio do caminho tinha mudado de ideia preferindo o sábado.

— Sim, imaginei. Toda megera se faz de dissimulada.

— Sim, assumo que sou meio cínica e megera. Megera do amor. Só que essa semana vamos abrir exceção, por favor?

— Não tô muito afim de ir nesse aniversário.

— Poxa, Anderson... porque esperou eu confirmar? A Vanda pediu antes porque precisou reservar as mesas.

— Beleza... a Vanda é show de bola, mas aquele rapaz forte que tava com ela?

— Ele é amigo em comum... o Patrick, lembra?

— Aham.

— Anderson...

— Nada. — meu gato bate a porta do armário da cozinha depois de pegar um copo. — Lembro que o cara falou: "que rabão de respeito" se referindo a você e se não me engano o João disse: "o de camisa azul é namorado dele"...

— Nossa, como se eu fosse irresistível. E depois vocês estavam bebendo e dando risada quando ele te pediu desculpas. Esse Patrick é bem palhaço, brinca com todo mundo.

— Ele é um cara legal... mas deu aquele vacilo.

— Eu sou fiel ao meu dono. — brinco com ele e chego perto me fazendo de besta colocando a bunda muito perto do seu quadril como se não houvesse espaço no recinto. — Dono de tudo isso.

— Sou mesmo, dono desse tesão que trabalha no banco... — meu homem aperta minha cintura, beija meu ombro e cheira muito meu pescoço, meu cabelo e em minha bochecha dá muitos beijos estalados. — Mas quando coloca a calcinha toda enfiadinha nesse rabo, tu é a minha dona.

Sol e MarteOnde histórias criam vida. Descubra agora