Narrado por Renan
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Eu poderia começar como tantas narrativas, tipo a do menino que teve uma infância chata, complicada ou traumática.
Ou então do garoto adolescente de olhos azuis, ex-gordinho, ex-feio (tem isso?), nerd, espinhento, tímido e inseguro.
Ou do gayzinho que sofreu tanto bullying por ser delicado demais que isso serviu de base para os anos seguintes cheios de travas, complexos a serem vencidos e tornando-se mais um caso encaminhado para sessões de psicoterapia.
Mas é que... comigo não foi bem assim não.
Não era capaz de começar uma confusão porque a família era bem rígida na educação. Mas dificilmente me rebaixava e dava o outro lado da cara. Também não digeria bem quando eu ficava em segundo lugar em algo que achava justo merecer mais que o amiguinho. Eu era quietinho sim, porém nunca escondi que tinha um jeito abusado, orgulhoso e às vezes meio irritante.
Determinado a me destacar em algo desde pequeno eu precisava ser, porque ser o filho meio não é lá a melhor coisa quando se tem dois irmãos mais velhos e dois mais novos. Talvez deva admitir que essa era a parte mais chata da minha infância.
Apresento meus irmãos, a começar do mais velho, Ricardo (o Rica), Renata, eu no meio (o gordinho), Rayane e por último o Ramon. O que realmente era chato, era ser vestido com as roupas que deixavam de servir ao mais velho e ser cobrado como exemplo de comportamento para os dois mais novos que eram mimados, duas pestes bagunceiras que amo tanto. (hoje, porque na época eu odiava o Ramon, Jesus me perdoa por favor, mas ele era um catiço)
Coisas que no futuro sentirei saudades...
Não que eu colecionasse insatisfações, porque não foi o caso. Minha família era dessas bem típicas famílias grandes, simples, um pouco barulhenta, com um Chevetão pra socar todo mundo no domingo cedo para ir à missa e confesso, bem feliz até.
Tive uns problemas generalizados de adolescente no início da minha que são pequenos reflexos de ter sido o menino gordinho de óculos que era zoado até pelos irmãos e amigos, isso porque eu tinha além dos pneus, barriga e papo no queixo, uns peitinhos de gordura, que puta merda, dá vergonha daquelas fotos sem camisa.
Não quero julgar minha mãe por ela não ter feito como algumas mães fazem, que é levar o filho num endócrino, nutricionista, na escolinha de futebol, no judô ou qualquer coisa que me auxiliasse na redução de peso, afinal ela trabalhava fora como costureira mal tendo tempo para ir numa ou outra reunião de pais. Meu pai nem se fala, carpinteiro que sempre trabalhou na construção civil, só se permitia ver um jornal e novela antes de dormir, antes de começar a beber e torrar parte da renda em bebidas e putaria.
Voltando...
Quando eu já estava na adolescência passei a me forçar aos regimes alimentares e perdi peso ao melhor estilo sanfona até que não me encaixasse mais entre os gordos e ficasse um mínimo mais apresentável. (também não estava entre os magros)
Eu tinha pânico de aparecer em fotos, tenho pouquíssimas dessa época e odeio as que minha mãe ainda guarda. Ainda amo e odeio aquela única foto que apareci no meu aniversário de quatorze anos. Eu sorria forçado porque alguém mandou que sorríssemos. Mas por dentro tava com ódio do meu irmão mais velho que já estava ligado nos meus trejeitos e chamava de bicha na frente de nossos amigos. Eu ia apanhar dele com certeza, mesmo assim o enfrentei e discutimos tão alto que minha mãe veio correndo aos gritos, botando moral em ambos e mandando todo mundo calar a boca.
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Sol e Marte
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