*13*

593 84 61
                                    


***


Não desprezo de maneira alguma os cuidados do Anderson na hora do amasso, mas eu queria partir pro Mortal Kombat de uma vez. Não sei há quanto tempo ele estava sem sexo, sei que eu tava há mais de seis meses na seca e a gente sabe bem o que a carência dessa "vitamina essencial" faz com nosso humor...

Compreendo que de início era bom não extrapolar, mas o Anderson levava esse cuidado perto do exagero às vezes. Saímos em encontros posteriores levando dessa maneira, aos domingos e quartas-feiras, após à retirada dos pontos. Porém o tempo nesses encontros favorecia as conversas onde podemos expor pequenos trechos de nossas vidas. Percebi que ele era mais rancoroso, por isso adotei temas leves, falando de coisas engraçadas do meu passado como um incentivo para que me imitasse. Não por falta de sensibilidade minha, mas por ele revelar um lado duro de sua personalidade que me entristecia, especialmente com relação ao genitor.

Enquanto... ele contava que seu pai, nos poucos momentos que tiveram juntos, o incentivava a chamar as mulheres de "boazudas" e fazia isso na frente dos filhos pequenos, pelas costas da esposa, eu já preferia ressuscitar os clássicos da minha infância e largar pérolas que o faziam rir feito doido. (da minha cara como sempre)

— Meu irmão mais velho, Ricardo e o Ramon faziam campeonato de pum e arroto perto de mim só pra irritar. E quanto mais eu reclamava, era pior. Pareciam dois bichos... Falavam frases completas arrotandooo! Pensa!

— Hahaha... vai dizer que tu nunca fez isso quando menino... Frase eu não consigo, mas uma palavra beleza... Quer que eu fale seu nome?

— Ai credo que nojo! Anderson! Dispenso... Que porquice!

— Sou mais os teus irmãos. Quanto mais a Eliane reclamava, pior eu fazia. O Marcel também odiava, igualzinho a você, baita chato.

— Não sou chato.

— É sim. Hoje não faço mais, tá... A não ser que tenha muita intimidade.

— Meu Deus, que coisa horrível! Isso é coisa de ogro. — Ele ri como se isso tivesse graça. 

Impossível! 

Esse homem é mesmo impossível. Pra dar a quem lê, noção da beleza do cidadão, parece mesmo com modelo de barbearia vintage 🧔, pensa nessa beleza divina falando o seu nome com arroto. Já sei, prefiro nem ouvir, né? 

— Era coisa de moleque. Hoje sou civilizado.

— Hoje? Eu, desde moleque era civilizado.

— E chato, aposto.

— Nossa. Mais um pra me chamar assim. Chatice é uma coisa, elegância, no meu caso, é outra.

— Convencido ainda por cima.

— Bem pouco. E sem falar dessas nojeiras, o que mais tu aprontava?

— Ah... — ele fica sério e olha pra cima buscando algo na memória — eu era sonâmbulo e andava pela casa toda, segundo a Eliane. Ela diz que tem medo até hoje e que meu sobrinho também faz isso. Não era por querer... não me olha tão assustado. Fico pensando no perigo que corremos...

— Coitada da Eliane, entendo bem... Minha irmã Rayane ria e falava dormindo, um dia sacudi a menina e a coitadinha acordou chorando. Eu não sabia que não podia fazer isso. Porque será?

— Nem sei. Mas diz que não presta. Ei, estamos saindo e falando sobre tanta coisa, nem te perguntei onde trabalha.

— Por enquanto sou caixa no banco cooperativo S., mas dois dias por semana, estão me orientando pra vaga de Analista Júnior.

Sol e MarteOnde histórias criam vida. Descubra agora