Capítulo 11

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Pietra Annunziata

Não ousamos dizer qualquer palavra porque sabíamos, que, quando o caminhão parasse, iríamos encarar o nosso destino. Mas antes, seria algo bom viajar e aproveitar a vista de um avião particular.

Não sei como, mas Dante conseguiu fazer-nos ultrapassar as fronteiras aéreas do Reino Unido sem problemas algum. E agora estamos a mais de trezentos mil metros de altura no ar.

— Nervosa? — Ian corta o silêncio sepulcral do ambiente falando um pouco mais alto além do normal. Iremos aterrissar em campo inimigo, na verdade em um acampamento perto de Manhattan.

— Não, imagina! Costumo pular mais de trezentos mil metros todos os dias às cinco da manhã. — Ele ri com o comentário idiota. Deboráh só faz cara feia ajustando os cintos do seu pára-quedas.

— É fácil, só seguir as instruções que te falei antes de você entrar no avião que tudo dará certo. — Ian dá de ombros agora sério. Todos prontos, um a um foi pulando e eu com o estômago trafegando do peito ao lugar proibido, mal sabia o que me aguardava.

Arrumei as fivelas umas quinhentas vezes, e talvez tenha sido um pouquinho a mais, vai que essa merda não funcione e eu caia e fique espatifada no chão feito Bosta?

— Haha! Muito fácil. — Arrumei coragem de onde não tenho, deve ter saído do fundo da alma, só poderia ser, então… 

Saltei.

Soltei grasnidos como um ganso. Gritei como louca. Esperneei igual uma minhoca tendo espasmos fora do solo. Mas pulei.

Vejo o grandalhão mais baixo mergulhando com os braços rentes ao corpo para acompanhar os outros, faço o mesmo. Estando eu perto deles Ian faz sinais com as mãos para que nós possamos abrir o para-quedas.

3...2...1

Senti um solavanco ao puxar a corda com a argola vermelha. E a descida se suaviza em poucos segundos. Dezoito minutos depois consegui ver algumas barracas num pequeno campo aberto e algumas formigas andavam de lá para cá. Aquele miúdo de pessoas me fazia ficar ainda mais enjoada, e a descida suave que nunca tem fim não colabora para nada mais do que o frio na barriga.

— Puta que pariu! Não sinto meu estômago. Talvez eu tenha o deixado cair lá embaixo. — Foram as primeiras palavras que disse quando coloquei os pés em terra firme. As pernas já não estavam mais em seu estado natural e o coração quase saltando para fora da boca.

Posso estar sendo otimista demais, mas garanto que meu peito está estraçalhado e quando me encontrar com Ricardo… Pode ter certeza amores, que ele será um homem sem bolas! Declaro óbito por súbito a chutes certeiros. Ricardo Moretti Merda que me aguarde.

Minhas pernas reclamam por causa do pacto do pouso. Mesmo sendo suave, fazemos um pouco de força para desacelerar ou é de "cara na merda", assim como Ian falou na orientação “motivacional”. Levei as minhas coisas para a minha barraca, até  agora as coisas fluíram normalmente, porém o dia que estava bom, deve sempre piorar.

— Todos vão ter que dividir as barracas. Deboráh, Pietra e Pedro ficaram na mesma barraca, também assim os demais deverão se juntar em grupos de três pessoas. — Ian está de sacanagem comigo. Olhei indignada para ele ao meu lado enquanto estava em sua postura "Militar sério". Ah se eu soubesse dar tiros com uma arma grande.

Tornei o meu caminho com mais dois no meu encalço. Entrei na barraca já jogando a mochila no saco de dormir que escolhi perto da porta, porque se eu for levantar para ir ao banheiro, não irei correr o risco de esmagar a cabeça de ninguém. 

— Oi gracinha. — O loiro tatuado entra cantando Deboráh que lhe presenteia com uma joelhada nas laranjas. Não segurei meu riso e ela me olhou diferente, de forma divertida até.

— Aí, bruta! — Ele geme agachado no chão segurando os seus preciosos. 

— Bem feito! — Respondi por ela que sorri satisfeita com o seu trabalho.

— Pietra, você deve ser uma pessoa legal e já que não temos outra opção a não ser dividir essa barraca velha, agradeço que seja com você. — Ela diz se sentando em seu saco de dormir que era bem ao  meu lado. — Quero te pedir desculpas por ser grossa… É que não sei ser de outro jeito.

Dou de ombros também me sentando, a ardência tomou conta de toda a região proibida me fazendo ficar um pouco mole, era uma sensação ruim ao qual queria muito esquecer, todo o sofrimento que passei desde a infância até o dia de hoje, nem se compara com a dor que estou passando. Nunca cheguei a acreditar que a Alma poderia ser destruída, mas agora eu sei que essa situação vai muito mais além.

— Está tudo bem? Ela notou minha careta de desconforto. Balancei a cabeça confirmando, mas não. Não estou nada Bem… Considere-me uma mulher fodida, literalmente!

— É que, Dante me forçou a coisas que… Droga! Vou ficar sem ir ao banheiro por dias! — Reclamo por ter que mudar de posição, o corpo ainda está dolorido e cansado. Deboráh arregalou os olhos.

— E-ele te… 

— Torturou por dois malditos dias. Ele e o Mauricinho lambe botas do Geovanne. — A indiferença e frieza com que falei aquelas palavras até me surpreendeu, já aguentei muita merda, talvez não cause mais mal pensar dessa forma. — Eles me forçaram a muitas coisas, mas isso não é o mais importante agora.

— Nossa. — Ela se ajeita também, notei algumas cicatrizes em seus braços. E talvez ela notou o que tanto encarava pois começou a desembuchar, não sei se a causa é pelo fato de estar envergonhada ou por querer demonstrar empatia por mim.

— A maioria delas foram feitas por trabalhos em campo, carrego armas desde que me conheço por gente. — Pedro se levanta aparentando estar ainda nervoso pelo ocorrido, assim tomando o seu lugar.

— Aqui. — A morena joga uma pequena adaga para mim. — Esta eu ganhei de aniversário do meu irmão Ítalo, mas ele foi morto faz uns anos.

Ela era de prata e tinha uma pedra safira pequena no final do seu cabo. Pensei em recusar, mas Deboráh negou com a cabeça. Segurei o objeto com mais firmeza sentindo o seu peso e observando os seus detalhes, o cabo era curto ao ponto de seu final mal alcançar o final da palma da minha mão.

— Muito linda. — Digo emocionada, a última coisa que ganhei foi um colar de Ricardo com as nossas iniciais num pêndulo de coração junto com a nossa foto dentro. Segurei o cordão com força, lágrimas rolaram. Não sei como não perdi esse colar ou como eles não deram bola para tirá-lo do meu pescoço? Mas agradeço.

— Meu irmão me deu quando eu era bem mais nova. Eles não querem saber se você tem apenas nove anos. — Não poderia imaginar uma menina inocente em meio à guerras.

— Olha, este aqui é o amor da minha vida. — Digo mostrando a nossa foto juntos. Que se foda a vida! Deboráh sorri.

— Esse é o Ricardo Greco? — Pedro diz assustado. Intrometido.

— Sim... Meu namorado. Iríamos noivar se eu não tivesse sido sequestrada. — Não escondi a tristeza na frase e Deboráh me olha com ternura.

— Eu sei como se sente. Homens, são todos a mesma merda. — Sorri, porém um sorriso amarelo. Ricardo nunca mais vai me encontrar e eu posso morrer antes disso.

Fechei o medalhão lembrando das palavras de consolo de Dona Marisa. A sua falta era ainda maior do que imaginava, o carinho e a forma como me acolhia, eu era como a filha que ela nunca teve e nunca irei a abandonar, nem que precise atravessar o mundo e enfrentar o inferno, ela nunca mais terá de pisar os pés naquela maldita casa.

[emREVISÃO ] 🔞Guerra De Mafiosos (Série: Lei e Vingança) Vol 5Onde histórias criam vida. Descubra agora