Vinte e Seis

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Revisão: @pedro_henriquesr_  

Atenção: Esse capítulo contém gatilho, nele saberemos mais da Letícia, mas essa personagem tem em si uma das cargas emocionais mais pesadas desse livro. Eu tentei fazer o melhor possível, mas sei que pode servir de gatilho para algumas. Já sabem, né? Respeitem seus limites de leitura.  

Letícia Russel

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Letícia Russel

Demonstrar sentimentalismos bobos é para os fracos, Letícia. E as mulheres da família Russel não conhecem o significado da palavra fraquejar. As palavras da minha mãe sondavam minha mente conforme Felipe se dirigia de volta para sua vida perfeita, mas por mais que um dia eu tenha estado perto de lhe entregar o meu coração, de uma coisa não podia esquecer: uma Russel não tinha tempo para perder com essa baboseira de amor. 

Sim, uma parte de mim já chegou a pensar que era perfeitamente capaz de amar e ser feliz por simplesmente vivenciar esse sentimento que todos dizem ser o mais puro e bonito do mundo. Quase cogitei isso ao conhecer Felipe, mas a minha obsessão por ser digna do amor da minha própria mãe acabou estragando tudo.

Não preciso dizer que Susan ficou extremamente feliz ao descobrir que eu, o depósito de todos os seus sonhos e expectativas frustradas, estava namorando justamente ele, o tão cobiçado Felipe Salvatore, o futuro CEO do Império Salvatore & Associados. Claro que ficou, era a oportunidade perfeita para alavancar a vida que ela escolheu para mim quando eu era apenas uma criança.

Com o tempo, o objetivo de crescer como atriz se sobressaiu a todas as outras coisas na minha vida, sobretudo ao meu relacionamento.

Felipe se mostrou compreensivo e disposto a me ajudar na maior parte do tempo, até se dar conta do verdadeiro motivo de tudo isso. O que eu podia esperar também? Que ele compactuasse com toda essa farsa sem dizer nenhuma palavra? Claro que não. Felipe tinha a essência heroica demais para isso, sendo totalmente contrário a todo os meus motivos desde o principio.

O estopim aconteceu durante uma das minhas crises de overdose.

Era uma noite de sexta-feira e eu estava sozinha no meu apartamento – já que eu me emancipei aos dezesseis anos – tinha acabado de ser rejeitada para um papel num filme muito esperado pelos amantes do cinema e acabei tendo uma crise nervosa por temer a reação da minha mãe. Então, na tentativa de me ver livre de todas aquelas sensações horríveis, eu levei para dentro de mim tudo de ruim que se pode imaginar, desde perfumes até remédios e crack. 

Segundo minha mãe, Felipe tinha me encontrado caída no meio do meu apartamento, porque ele foi parar lá justo naquele momento? Bem, eu não sei, mas sempre achei que Felipe tinha um sexto sentido muito apurado. Claro que ele entrou em desespero ao me ver daquele jeito, sua paixão por mim estava no auge, afinal.

Ele ligou para meus pais assim que dei entrada no hospital e aí é que mora o seu erro. Susan foi naquele lugar só para me lembrar o quão fraca, mimada e dramática eu era. Meu pai? Benjamin Morelli era um completo banana, fazendo sempre o impossível para que sua amada Suzie não o deixasse. Acho que no caso dele o amor não é cego, é simplesmente burro mesmo.

No fundo, eu sempre soube que Felipe queria apenas me ajudar, mas já era tarde demais. Eu não precisava ser salva, precisava ser famosa. A fama era a única coisa que poderia fazer minha mãe me amar.

Nosso relacionamento andou, ou melhor, se arrastou por cinco anos e nesse período eu me convenci de que não o amava, estava com ele apenas para alcançar o verdadeiro amor que me interessava: o da minha mãe.

É claro que mais cedo ou mais tarde ele se daria conta de tudo isso, mas continuou comigo porque estava estável e seguiu assim até aquela garota surgir e terminar de estragar a minha vida.

Eu não sou ingênua ao ponto de me convencer que Felipe continuou sendo o mesmo desde que ela apareceu naquele maldito restaurante, porque não foi assim. Quer dizer, ele continuou sendo um bom namorado na medida do possível, mas... Ele não me amava mais. Sequer se deitou comigo depois daquele dia.

Não posso culpá-lo. A culpa era dela. Por que ela tinha que aparecer? Por que ela tinha que criar todo aquele teatro junto com aquele pirralho e a mulher? Não duvido que ela tenha lido sobre a aura empática do meu namorado e ao se dar conta de que ele estava ali, resolveu tentar a sorte. É claro que ele caiu como um patinho, a macumba deve ter sido realmente forte porque o imbecil se apaixonou por ela e eu me tornei a bruxa má do oeste.

Por isso aceitei participar do jogo feito por Mário e até dei a ideia das mensagens: ela enlouqueceria e ele desistiria de bancar o herói, porque se eu não podia amá-lo como a garotinha idiota que vira e mexe aparecia na minha alma desejava, ela também não iria. Fosse como fosse, Felipe Salvatore continuaria sendo meu.

E por falar em Mário, ele era tão atormentado por demônios quanto eu e assim como eu também não tinha tempo a perder com essa coisa de sentimentos bobos, ele estava concentrado demais na sua vingança para perder seu precioso tempo com essa merda toda. Se já tinha o meu corpo, o que mais poderia querer? No fundo ele era como todos os homens nojentos que eu conheci antes e depois da minha vida cruzar com Felipe.

Quando vi ele aqui, tão desesperado para salvar a sua amada coisinha chata, eu quase ri, só não o fiz porque um pensamento idiota me acertou em cheio, atingindo o meu coração e tornando-o tão gelado quanto a minha alma: Ele se apaixonou por mim, sim, mas seus olhos nunca demonstraram tanto amor quando ele falava de mim. O amor, o amor que eu já quis, mas fui impedida de sentir, era todo dela agora.

Faltando apenas dez minutos para as gravações recomeçarem, peguei meu celular para mandar uma mensagem para Mário e contar-lhe as novidades, sentindo um frio percorrer minha alma durante o processo, parece que eu estou mesmo me tornando a bruxa má.

Alerta de primeiro objetivo alcançado com sucesso. Ao que parece eu sou seu álibi agora, o que não deve ser nenhum pouco satisfatório, já que assim você perde toda a diversão, hahaha. Faça o que tiver que fazer, mas não esqueça que ela deve morrer.


Desabafo de autora: Quando eu comecei a reescrever esse livro, tentei ao máximo "ouvir" cada um dos meus personagens e saber como eles queriam ter sua história contada. Depois da Clara (Por motivos óbvios para quem me conhece fora daqui), Letícia foi e é o meu maior desafio. É isso. Votem, comentem e não esqueçam que eu amo vocês.   

À Procura De Alguém Como VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora