À Procura De Alguém Como Você

Dezoito

Revisão: @pedro_henriquesr_  

FELIPE

Na trave. Se eu fechar os olhos posso voltar a reviver o exato momento em que o meu pequeno anjo se mostrou tão desejosa quanto eu pelo nosso beijo. Ela queria aquilo, a garota com a qual eu sonhei durante tanto tempo queria ser a minha garota ruiva e eu farei do seu desejo uma ordem.

Acho que não demoraria tanto para que eu ficasse com os nervos da face doloridos, mas eu simplesmente não conseguia dar a devida importância para isso, tinha um belo – E que belo, diga-se de passagem – motivo para estar sorrindo e nada, nem mesmo o fato de Letícia ainda estar plantada na minha sala, tiraria de mim essa sensação gostosa de quase ter tocado o céu.

– Agora que você terminou de bancar o príncipe encantado, a gente vai conversar – Disse levando-se do sofá e parando na minha frente com um ar de superior que sempre foi tão típico dela – Você não pode e não vai me trocar por uma aleijadinha qualquer, Salvatore.

Estremeci de pura raiva. Como ela podia se referir assim a qualquer pessoa? Eu sei que Letícia não teve a melhor das criações, mas mesmo assim, para mim ainda era difícil reconhecer esse lado da garota que esteve ao meu lado por cinco anos, um lado superficial e frívolo.

– Escuta, mas escuta bem, Letícia – Fiz questão de manter minha voz o mais calma e assustadora possível, ela precisava entender que eu não ia mais tolerar nada daquilo – Essa é a única vez que você se refere a qualquer pessoa assim, entendeu? – Segurei em seu braço direito com uma força calculada, ela podia fazer o inferno, mas eu não era e jamais seria violento. Isso nunca – O nome dela é Clara, é um ser humano incrível e merece respeito, por isso nunca mais ouse insultá-la dessa maneira, estamos entendidos?

– Um ser humano incrível, sei – Estalou a língua e me encarou com um olhar de puro desdém – Me diz uma coisinha, Romeu – Esperei – Vocês já tinham começado essa palhaçada toda antes mesmo da gente terminar, não tinham? – Começou a gesticular como se estivesse incorporando uma personagem. Revirei os olhos e cruzei os braços sobre o peito – Sim, é claro, por esse motivo você não quis sequer me ouvir. Porque eu te dei a liberdade de bandeja.

– Não que seja da sua conta, Letícia – Comecei a dizer, porque mesmo que eu já não movesse um músculo para sua opinião, não permitiria que Clara fosse ligada a uma sujeira como essa – Mas não. Eu só vim descobrir quem ela era no dia em que terminamos – Percebi que ela se preparava para contra atacar, por isso continuei – O que não altera o fato de que o nosso relacionamento não passava de uma questão de status há bastante tempo e você sabe disso.

– Poupe-me, Felipe – Bufou – Você não percebe? Nós tínhamos tudo, éramos perfeitos juntos e a mídia nos adorava, além do mais – Seus dedos brincavam em círculos ao redor do meu peito – Funcionávamos muito bem em outras coisas também...

Afastei sua mão de mim com um gesto brusco, se ela não conseguiu me envolver de volta em sua teia no dia em que rompemos, teria muito menos êxito agora que o cheio de camélia que exalava do corpo de Clara estava dominando todos os meus sentidos.

Contrariando todas minhas ideias de uma possível reação sua, Letícia olhou em meus olhos por um segundo e riu como se tivesse acabado de ouvir a piada mais engraçada do mundo.

– Eu não posso acreditar nisso – Disse entre risos – Você está apaixonado por uma coisa daquelas, Salvatore – Sua risada só serviu para me mostrar o quão podre a bela Letícia Russel era por dentro – Que clichê!

Fechei os olhos para extrair do meu subconsciente a paciência que eu já não tinha, graça aos céus ainda podia sentir o cheiro de Clara pairando por toda minha sala. Senti meus lábios serem repuxados por um sorriso. A minha vida se tornou um romance clichê e eu sequer me dei conta disso.