Nove

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Revisão: @pedro_henriquesr_

CLARA

A sensação que eu tinha era de que meus músculos haviam sido todos pressionados, contorcidos e retorcidos. Estava com uma tensão tão grande sob o meu próprio corpo que por um momento pensei que iria me deteriorar e cada parte ia sair correndo. 

Eu não aguentei. Estava aqui porque não aguentei. Sei que deveria ter sido mais forte e não ter cedido tão facilmente à pressão da minha mente, mas não consegui. Talvez não seja tão forte assim, afinal.

Quando comecei a relatar o ocorrido para o meu melhor amigo, foi como se minha mente tivesse ganhado vida própria e viajado até o dia que assombra meu sono desde então. Desabei.

Ao mesmo tempo em que a nossa mente pode ser amiga, ela também pode se tornar a nossa maior e pior inimiga.

O que mais doía agora era saber o quanto Lucas deveria estar se culpando nesse exato momento; e pior ainda é que eu não sabia como convencê-lo do contrário, considerando que nem eu mesma fazia ideia do que havia acontecido comigo exatamente. A verdade é que eu tinha me tornado uma montanha-russa de pensamentos e sentimentos conturbados. 

Abaixei meus olhos e encontrei um pequeno papel branco que parecia ter sido arrancado de um bloco de notas, o bilhete escrito em letra curvada e bonita dizia:

Eu sei que não tem sido fácil, que na maior parte das vezes você acha que não vai aguentar, pois não se considera forte o suficiente; mas posso contar um segredo? Você é. Você é forte, corajosa, merece e vai ser muito feliz nessa vida. Não desista. No final desse túnel existe uma luz esperando apenas por você.

Se tinha uma coisa que eu estava detestando era não ter mais o controle das minhas emoções. Alguns dizem que muitas coisas acontecem para revelar quem realmente somos, sendo assim, talvez o meu emocional sempre tivesse sido um pouco confuso, mas eu sempre dei um jeito de controlá-lo. Diferente de como estava sendo agora.

Nesse instante, estou eu aqui, sentada nessa cama do mesmo hospital de sempre, chorando copiosamente graças a uma carta que nem autor tinha, mas que havia me tocado profundamente.

Quem poderia tê-la escrito? Luc? Mamãe? Papai? Diana? Dr. Enrico? Angel? As possibilidades eram muitas, mas mesmo que todos ali se importassem comigo, não era algo típico deles; da maioria, pelo menos.

Suspirei. Fosse quem fosse, aquelas palavras serviram como um alento para minha alma e mesmo sem conhecer o dono delas, gratidão me consumia.

Eu sei que o certo talvez seja – levando em conta o desespero que provavelmente causei em todas as pessoas que me amam – apertar o botão que fica no controle ligado à minha cama e sinalizar a alguém que acordei, mas não queria fazer nada disso agora, porque se o fizesse, eu me obrigaria a ser forte, e nesse momento queria apenas ser a Clara.

A Clara que ama a família mais do que tudo no mundo, mas que também precisa de um momento para deixar a tristeza vir sem se preocupar em magoar alguém; a Clara que encontrou nos livros uma válvula de escape para sua timidez absurda, mas que percebeu que a crueldade do mundo podia ser muito maior. A Clara que queria acreditar que sua existência não foi um erro do universo. E claro, a Clara que sonhava em amar e ser amada, mesmo que agora não veja muitas expectativas de uma vida relativamente comum e boa para si.

Eu já não sabia mais quem eu era, mas sabia que quem seria dali em diante dependia somente das minhas escolhas. A questão é: Que escolhas eu faria? Ainda não sabia, mas espero continuar viva tanto por dentro quanto por fora até descobrir.

À Procura De Alguém Como VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora