Vinte e Um

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Revisão: @pedro_henriquesr_

FELIPE

Já passava das oito e meia da manhã quando pisei na décima nona delegacia de Sant'Mary, agradecido por fugir do frio que fazia naquela manhã em especial.

Fui até lá para acompanhar meu pai na busca por cópias de uma medida protetiva que uma de nossas clientes de fora do escritório emitiu contra o ex-marido agressor e abusivo, pois precisaríamos delas para montar o caso, no entanto, também queríamos conversar com o delegado responsável por toda a investigação.

Acompanhei o Dr. Salvatore a passos rápidos até a recepção do local, adorava vê-lo no exercício da profissão e cada vez que isso acontecia, aumentava ainda mais o meu desejo de ser como ele um dia.

– Bom dia – Cumprimentou com um aperto de mão o policial que estava próximo à recepção – Sou o Dr. Henry Salvatore e gostaria de falar com o delegado Carmona.

– O Dr. Carmona está atendendo um caso neste momento, Sr. – Respondeu o homem franzino, careca e mal encarado – Mas assim que ele terminar verei se pode recebê-lo.

Meu pai assentiu e nós nos dirigimos até os assentos do Lugar. O relicário balançou em meu pescoço quando fiz menção de mim sentar e aquele movimento foi o suficiente para que a imagem de Clara preenchesse minha mente e coração.

Eu queria tê-la visto ontem, mas precisei passar na faculdade para falar com meu orientador sobre meu TCC, o que me permitiu sair de lá apenas tarde da noite. Quando cheguei em casa vi – graças a uma parede de vidro que mostrava a visão da parte de dentro da casa vizinha, da sala-de-estar e cozinha, pelo menos – todos daquela família jantando em uma harmonia tão genuína que não me senti no direito de atrapalhar, nem sequer para matar minha curiosidade em relação as flores que lhe dei. 

Estávamos esperando há um pouco mais de 15 minutos em frente à sala do Dr. Carmona quando ela finalmente se abriu e ele saiu de lá acompanhado por... Clara? Pela forma que me olhou, tive certeza de que meu pai estava tão surpreso quanto eu, não porque fôssemos o tipo de homens com uma espécie de atraso mental e achássemos que aquele não era "ambiente para mulher", não era nada disso. É só que... Meu coração doeu por imaginar o que tinha a levado até ali.

Tudo bem, eu sei que deveria manter a postura e fingir não perceber as lágrimas contidas em seus olhos, afinal, eu estava ali para aprender mais sobre a profissão que escolhi, certo? Certo, mas naquele momento eu só queria abraçá-la e foi o que fiz.

Não esperei por um convite, não disse uma só palavra, apenas a puxei com cuidado para dentro do meu abraço e desejei poder tomar cada uma de suas dores internas para mim. Clara não disse nada, não chorou... Apenas me abraçou como se precisasse daquilo para não afundar.

– Está tudo bem, meu pequeno anjo – Sussurrei em seu ouvido – Eu estou aqui – Seu corpo tremia um pouco, por isso continuei falando com ela até que tudo melhorasse – Um passo de cada vez, é isso que faremos – Continuei – Daremos um passo de cada vez e eu juro, juro com todo o meu coração que não soltarei sua mão durante o processo – Fiz carinho em seu cabelo e coluna, sem me importar com a sensação áspera causada por uma possível cicatriz – Está tudo bem e mesmo quando não estiver, nós faremos ficar.

Não sei por quanto tempo ficamos ali, abraçados, sentindo, vivendo dentro de um mundo que era apenas nosso. Mas Clara me soltou assim que as coisas voltaram ao normal e percebemos que havia uma realidade paralela aos nossos sentimentos, meu corpo protestou de imediato pela falta do calor que emanava do seu.

– Desculpe – Pediu e desviou o olhar de mim encontrando o do meu pai logo em seguida – Olá, senhor – Sorriu, jogando para longe a fragilidade de minutos antes – Como vai?

À Procura De Alguém Como VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora