Capítulo 2 - E se eu te dissesse o quanto você é importante?

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Gizelly Bicalho

Não tem nada que me deixe mais feliz do que acordar com um belo dia ensolarado, é como se toda a alegria do meu dia fosse revitalizada apenas por aquela luz amarelada entrando pelas frechas da minha janela.

Suspirei ao olhar ao meu redor, meu quarto estava um pouco bagunçado, mas eu sabia que isso não era nada que não poderia ser resolvido rapidamente. O apartamento estava silencioso, minha mãe tinha voltado pra Piaçu e a saudade estava começando a se instalar.

Desde que saí do confinamento, estava acostumada a estar com ela todos os dias, mas não podia prendê-la aqui por muito mais tempo, afinal a loja e toda a vida dela tinha que ser tocada pra frente. Meu filho pulou sobre a cama e se aconchegou em mim, sua carinha de bravo me deixando claro que ele estava faminto e zangado por eu ter dormido até mais tarde.

-eu sei, filho! Sei que sou uma péssima mãe. Mas sou a única que você tem! -ri de mim mesma e levantei com ele no colo, colocando-o no chão logo em seguida. Preparei a comida dele e avaliei minhas opções.

Eram quase meio dia, estava naquela famosa dúvida entre tomar um café da manhã reforçado ou iniciar logo os preparativos do almoço. Dormir ainda era um grande problema pra mim, isso bagunçava a minha rotina completamente. Minha terapeuta costumava dizer que o sono perdido era o meu maior sintoma e talvez o meu principal antagonista. Mas era algo que eu ainda não havia conseguido mudar.

A ansiedade, todas as mudanças, os anseios por estar perto daqueles que sempre estão comigo... Era como se o meu dia não fosse suficiente pra abrigar todas as coisas que eu achava necessário fazer. Marcela sempre reclamava, nos falávamos por telefone ou mensagens todos os dias e ela sempre puxava minha orelha sobre isso. Afinal, ela era calmaria. Acho que ela não entendia o real sentido da palavra quando eu mencionava que era furacão.

Enquanto iniciei os preparos do meu almoço (sim, eu havia me decidido) e cortava alguns legumes em um recipiente, coloquei um sertanejo gostosinho pra ouvir. Após jogar tudo na panela, gravei um story mostrando os preparativos e dando bom dia atrasado pra os meus furacões.

O WhatsApp como sempre continuava o pequeno inferno pessoal que havia se tornado. Mensagens chegando a todo tempo, difícil de acompanhar realmente. Como sabia que todas as mensagens de trabalho agora estavam transferidas pra outro número e que tinha uma equipe cuidando disso, rolei pelas conversas sem prestar muita atenção, procurando uma em específico.

"Bom dia" a primeira mensagem dizia simplesmente. "Eu amo o fato de que eu vou te dar bom dia e você vai me responder com um boa tarde!"

Eu ri daquilo, porque ela tinha total razão. Tínhamos conversado até pouco mais de duas da manhã antes dela apagar. Sono dos justos eu gostava de chamar.

"Boa tarde hehehe. Eu odeio o quanto você me conhece!" Digitei rapidamente, correndo pra pegar uma colher de pau e mexer a panela "em minha defesa, não consegui dormir antes do dia amanhecer..."

Não esperei uma resposta imediata, afinal se pra mim tudo era uma correria sem fim, imagina pra aquela mulher que agora deveria ter o mundo aos seus pés e procurando por sua atenção. Respondi mais algumas pessoas enquanto cozinhava, minhas amigas fiéis, Ma, meus amigos de confinamento. Tudo muito leve e descontraído, hoje eu ia me dar um descanso de todo o trabalho acumulado.

Depois disso vagueei pelas redes sociais, interagindo com aqueles que me davam todo o amor do mundo, meus fãs, vi alguns vídeos, falei bobeira nos stories e fiz uma pequena faxina no meu apartamento enquanto Jack Bacon fazia safadeza com seu ursinho de pelúcia no canto da sala. Meu filho tinha mais ação na vida do que eu!

Conta Pendente - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora