Conta Pendente - Girafa

Capítulo 23 - Não há nada tão ruim que não possa piorar

Gizelly Bicalho

Coloquei os pés pra fora da cama naquele dia com a certeza de que não seria um dia bom. A verdade é que nenhum dos últimos dias vinham sendo bons, minha vida tinha se transformado em um grande caos cada vez mais difícil de controlar. Passei tanto tempo tentando não ficar mal que isso foi o único que fiz. Tentei não chorar, tentei não sofrer, tentei me conformar e, no fim, tudo o que eu tinha era um monte de tentativas falhas porque os sentimentos vinham forte e me arrebatavam com frequência.

Tantas coisas maravilhosas acontecendo na minha vida e eu sequer conseguia aproveitá-las da maneira correta porque perdia muito tempo sofrendo por alguém que sequer parecia sentir minha falta. Durante os primeiros dias eu esperei, esperei tanto a Rafa aparecer ou tentar qualquer coisa, mas aparentemente ela estava muito ocupada aparecendo em todo e qualquer evento existente no território brasileiro. Parte de mim ficava aliviada, afinal era o que eu queria, não era? Eu coloquei um ponto final no nosso relacionamento, eu pedi que ela fosse embora.

Racionalmente era o certo a fazer, mas o coração nunca é racional.

—Gizelly, detesto ser a pessoa chata que fica apressando os outros, mas se você não acordar pra vida, nosso voo pro Rio vai decolar sem a gente. –Taís me alertou entrando no meu quarto. –Você me pediu pra cuidar da sua agenda e te acompanhar nos compromissos, então estou fazendo meu trabalho.

—Tenho mesmo que ir? –bufei de maneira triste, esgotada mentalmente com o que estava por vir. – Não sei se tenho psicológico pra ver você sabe quem, Taís.

—O que, agora você sequer fala o nome da Rafa? –perguntou ela com indignação. –Gi, não aguento mais te ver definhar ao longo dos dias, isso tem que acabar! Você não é assim, nunca foi. Por favor, quero minha amiga de volta.

—Não consigo, Taís. É diferente dessa vez, era diferente com ela... –sinto meus olhos pinicarem e sei que o choro está prestes a vir. –Não estou pronta pra vê-la seguindo a vida enquanto continuo estagnada no ponto que ela me deixou.

Esperei ela rebater com mais uma das inúmeras lições de moral que vinha recebendo nas últimas semanas, mas diferente do que pensei, Taís só me abraçou apertado e deixou que eu chorasse tudo pra fora de mim.

Devido a todos os problemas com a pandemia no início do ano, a Globo resolveu fazer um grande evento para o BBB20, em comemoração à edição histórica. Isso implicaria em uma festa com todos os participantes e pessoas envolvidas no programa, isso implicava em Rafa e eu no mesmo ambiente pela primeira vez desde o nosso término.

O voo do de Vitória para o Rio saia em menos de três horas e eu sequer tinha feito as malas, secretamente tentando me atrasar de uma forma que não conseguisse comparecer, mesmo sabendo que meu contrato não me permitia isso. Seria um longo e estressante dia e disso eu tinha certeza.

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Minha produção estava quase pronta e, contra todos os meus planos, eu provavelmente não me atrasaria em nada para o evento. Tirando a entrevista para o Gshow, evitei todo e qualquer contato com a internet e deixei Taís encarregada de alimentar minhas redes sociais, precisava me preparar mentalmente para passar por aquele dia e sabia que não seria fácil. Marcela tinha conversado comigo, na tentativa de me animar sobre toda a situação, mas nem mesmo isso foi capaz de tirar o sentimento pesado e doloroso que habitava em mim.

Logo na entrada do local, uma grande quantidade de fotógrafos aguardavam a passagem de cada um dos participantes, com direito a tapete vermelho e tudo. Entrávamos em dupla e logo os flashs estavam cegando a mim e Marcela, enquanto sorríamos gloriasamente para as fotos. Em certo momento ela passou a mão pela minha cintura, me trazendo mais perto do seu corpo e dando um leve aperto onde sua mão se apoiava, uma tentativa muda de dizer que estava ali para mim.