Capítulo 18- Decisões

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Rafa Kalimann

Algumas horas antes-

Estávamos no escritório, João jogou alguns papéis sobre a mesa de maneira rude, seu rosto não negava a chateação que estava sentindo no momento.

-Preciso que você assine isso, Rafa. -ele disse sem ao menos olhar pra mim.

-O que é isso, Marcella? -perguntei e ela apenas me olhou cabisbaixa.

Folheei os papéis rapidamente e quase não acreditei no que lia. Era impossível que algo assim pudesse sequer ser cogitado. Encarei as duas pessoas na sala comigo, esperando uma explicação.

-Rafa...-Marcella começou, mas não deixei que ela terminasse.

-João, cê pode dar licença um minuto? Preciso discutir algumas coisas com minha prima. -ele quis questionar, mas fui mais rápida. -A sós!

Quando o homem saiu, nós duas ficamos em silêncio por um tempo, o contrato sobre a mesa parecia um grande muro e estávamos cada uma de um lado. Me custava acreditar que ela estava mesmo cogitando aquilo.

-Rafa, eu tentei de todas as formas. -Marcella começou se explicando. -Mas as coisas saíram de todos os limites hoje, vocês foram muito imprudentes. A assessoria comercial não tá nada feliz com a situação, eles tão pensando em encerrar o seu contrato caso isso continue.

-E então o quê? Eu tenho que vender minha vida pra eles? Achei que cê era minha assessora pra assegurar que as minhas decisões seriam respeitadas, Marcella! -falei um pouco mais alto. -Não tem a menor possibilidade de eu assinar esse contrato.

Talvez em todos os anos que estamos juntas, eu nunca havia levantado a voz para minha prima, nossa relação sempre foi preenchida com confiança e eu me orgulhava disso. Nesse momento eu não sabia se ainda era o caso.

-Rafa, eu sinto muito. Tem coisas que fogem até mesmo do meu controle. -ela parecia muito chateada. -Era isso ou um PR e eu sei que esse tipo de mentira te magoaria muito mais. As coisas estão feias, você já perdeu uma quantidade significativa de seguidores, as parcerias que conversamos ontem simplesmente deram pra trás antes de fechar. O escritório não quer ver seu nome em nenhuma polêmica ou o contrato com a Globo não vai sair. Estou tentando cuidar do seu maior sonho, cê me entende? As pessoas te shippam com todo mundo, mas no fundo não querem te ver com ninguém, porque a confirmação de um, acaba com a fantasia dos outros. Fora a polêmica de ser uma mulher, eu queria muito que fosse diferente, mas não é!

Minha cabeça parecia que ia estourar. Em que mundo eu estava? Valia mesmo a pena? Sentar em uma sala e decidir como seria a minha própria vida ao invés de vivê-la? As lágrimas queriam sair, mas eu respeitei fundo e tentei me acalmar. Conseguiria resolver isso, tinha certeza que sim.

-Eu fui muito ingênua de achar que conseguiria ser feliz em todos os âmbitos da minha vida, não é? -choraminguei. -É pedir muito ter a minha carreira decolando e poder ser feliz ao lado da pessoa que eu amo?

Havia tanta coisa na minha cabeça, era como se eu fosse obrigada a todo instante a ter que escolher entre uma coisa e outra, entre a carreira ou a vida pessoal, ser alguém extremamente famosa ou alguém extremamente feliz. Isso era tão cansativo, porque as pessoas te veem do outro lado de um celular ou de uma Tv e acham que conhecem a sua vida, as suas lutas e que podem ditar as suas decisões.

-E se a gente assumir tudo? -perguntei em um momento de completo desespero. -Arrancar s casca da ferida de uma vez. Quem tiver que ficar, vai ficar. O que tiver de ir, vai ir.

-Prima, olha pra mim. -Marcella pediu. -Qualquer decisão que cê queira tomar, eu to aqui. Mas eu preciso ser sincera e deixar claro tudo o que cê vai perder nesse momento. Não to dizendo que vai ser pra sempre, que as duas vão ter que se esconder pro resto da vida, mas tem algumas coisas que precisam ser estabilizadas antes. Eu não preciso te dar lição de moral, cê já casou antes, sabe como é difícil a vida a dois. Tem muita coisa que é um sonho que pode simplesmente se fechar pra sempre. É esse tipo de pressão que cê quer no seu relacionamento? Será que não vai chegar um momento em que cê vai se dar conta de tudo o que perdeu e, de uma forma ou outra, vai acabar culpando a Gizelly por isso? É um relacionamento que acabou de começar, acha que ele vai superar tudo isso?

-E colocar um contrato de distanciamento de três meses vai melhorar a nossa situação? -me indignei. -Marcella, a Gi nunca vai entender isso. Eu acabei de descobrir que a amo! Não é justo chegar e jogar tudo isso, como se eu sequer conseguisse ficar três meses longe dela pra início de conversa!

E então eu chorei, chorei por ter que fazer uma escolha, por parecer que qualquer coisa que eu escolhesse, algo muito importante iria embora. Chorei por não poder resolver isso de uma forma que não ferisse ninguém ou a mim mesma. Me sentia exausta, minha mente criava os piores cenários para o desfecho daquela situação.

-Pensa nela também. Rafa, tudo isso vai ser um inferno. Ela vai sofrer tanto ataque e eu sei que não é isso que cê quer. -ela falava de forma incisiva. -A Gi tá começando agora, não pode tá no meio de uma confusão tão grande. Eu prometo que vou trabalhar dia e noite pra que tudo se estabilize o mais rápido possível e enquanto isso cê vai construindo a base do seu relacionamento, cuidando dele, protegendo e então nós partimos para a próxima fase. É a melhor opção.

Não pensei muito depois disso, se era o que eu precisava fazer pra proteger ela e o que estávamos construindo, era isso que eu faria, lidaria com as consequências depois. Sabia que não seria fácil, que pra ela aquilo seria muito difícil de entender, mas tentei não pensar tanto.

Enquanto dirigia até minha casa, pedi que Gizelly me encontrasse lá. Durante o caminho, uma revolta crescia dentro de mim, se ela só tivesse segurado um pouco mais a impulsividade, se as coisas fossem só um pouco mais diferentes... Só queria poder voltar no tempo e mudar tudo, mas certamente não poderia.

* ~ * ~ * ~ *

Atualmente

Na minha mente eu sabia que deveria impedi-la de sair, mas as suas palavras me atingiram em cheio. Era só isso que eu era? Apenas um produto? Talvez eu tivesse mesmo me tornado tão fútil quanto todas as pessoas que prometi a mim mesma que não seria. Talvez Gizelly tivesse razão.

Deitei no sofá mesmo e esperei aquela angústia passar, as lágrimas invadiam meu rosto sem a minha permissão, mas talvez fosse a melhor forma de colocar a dor pra fora. No fundo eu sabia que deveria ligar pra ela, mas sabia que provavelmente ela não queria me ver e isso fez com que tudo doesse mais ainda.

Já passava da meia noite quando resolvi pegar meu celular, abri o Instagram e sua foto era a primeira da lista de stories. Abri por impulso e tudo o que encontrei foi uma Gizelly deitada no colo da Marcela enquanto recebia carinho no cabelo.

Meu coração doeu com a cena, doeu pelo ciúme, doeu porque poderia ser eu ali, doeu porque pra elas seriam tão mais fácil apenas assumirem que estão juntas. Marcela daria a ela coisas que eu nunca seria capaz.

Me recriminei pelo meu ciúme idiota, elas eram amigas e Gizelly provavelmente estava se sentindo frágil demais pra lidar com isso sozinha. Respirei fundo e abri o aplicativo de mensagem.

"Eu te amo. Muito"

Digitei simplesmente e enviei. Espero que ela soubesse que essas eram as palavras mais sinceras que eu poderia dizer.

N/A:

Veio aí! Espero que vcs gostem. Não esqueçam de comentar e votar e deixarem eu saber o que vcs estão pensando.

Ps: não está revisado, desculpem os erros. 💕

Conta Pendente - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora