Conta Pendente - Girafa

Capítulo 7 - Sensações

Gizelly Bicalho -

Era como se eu estivesse em êxtase. Nossas bocas se tocavam, nossas línguas se embolavam em um movimento lento, nossas respirações se misturavam em uma só. Embora nossas bocas estivessem conectadas, sentia como se todo meu corpo estivesse em chamas, como se cada terminação nervosa em mim queimasse com a sensação de estar beijando aquela mulher.

Queria poder dizer a quanto tempo estávamos nos beijando, mas era como se o tempo tivesse pausado e a realidade parecia alternativa enquanto aproveitávamos aquele momento. Minha mente não conseguia raciocinar, meu corpo não tinha nenhuma outra reação a não ser puxá-la para mais próximo a mim, numa tentativa louca de me fundir a ela.

Aos poucos o beijo foi acalmando e se tornou um roçar preguiçoso de lábios, até se transformar em um selinho carinhoso. Os olhos da mineira permaneceram fechados, a respiração pesada, mas ela não se afastou. A encarei, perdida nos meus próprios pensamentos, tentando entender o que estava acontecendo dentro do meu coração.

-Desculpa. -Rafa disse simplesmente. Os olhos ainda fechados, seus lábios vermelhos pelo beijo.

-Você tá pedindo desculpa por ter me beijado? -perguntei num fio de voz. Por mais confusa que eu estivesse, meu coração apertou um por cogitar que ela estava arrependida.

-Não. Estou pedindo desculpa por não ter feito isso antes. -Confessou e abriu os olhos, finalmente me encarando. -Acho que só me dei conta agora de que queria fazer isso desde que cheguei aqui.

Minha mente estava travada e as palavras pareciam não se formar na minha boca. O que eu deveria dizer? Por que agora meu coração batia tão malditamente acelerado com a sua confissão? Por que tudo o que eu conseguia pensar era em beijá-la novamente?

Eu tinha sentimentos por Rafa Kalimann.

A realização bateu em mim como um soco no estômago. Era como se todas as certezas que eu havia construído durante os 28 anos da minha existência tivessem ruído em um só momento. Bastou um encostar de lábios pra saber que eu nunca mais seria a mesma.

-Rafa? -ela estava de olhos fechados novamente, sua expressão era séria e até mesmo assustada. -Acho que eu gosto de você.

Mais uma vez eu estava sendo sugada por aqueles olhos verdes que me encaravam enquanto ela permanecia em silêncio. No fundo eu sabia que aquela era a forma mais idiota de se declarar pra alguém, mas as palavras saíram antes mesmo que eu pudesse processá-las

A percepção de que o frio na barriga todas as vezes em que ela me olhava, o arrepio gostoso que percorria meu corpo sempre que nossas peles se tocavam, as conversas intermináveis por telefone, eram sinais muito claros que haviam sido negligenciados pela minha total falta de autoconhecimento.

Sim, eu amava conversar e abraçar todas as minhas amigas, eu amava tê-las por perto. Mas, fazendo um exame de consciência, nada se comparava ao que eu sentia em relação a Rafa. E precisou de um beijo bêbado em uma madrugada na casa da Manu pra que eu descobrisse isso.

-Fala alguma coisa. -pedi depois de algum tempo. O medo começando a tomar conta de mim.

-Não consigo. -sua voz saiu sussurrada. -Estou fazendo um esforço realmente grande pra não te beijar de novo.

As palavras dela foram como um combustível, jogado em meio ao fogo que se encontrava os meus pensamentos. Sem pensar duas vezes minhas mãos pousaram no seu rosto delicado e dessa vez a iniciativa foi toda minha de trazer seus lábios para os meus.

O beijo não era calmo, a urgência que ecoava nos meus pensamentos refletia em minhas ações e a forma como ela me correspondia me deixava pensar que dentro de si não era diferente. Não brigávamos por domínio, mas batalhávamos juntas contra diversas coisas. Medo, dúvidas, sentimentos. O beijo era a válvula de escape para todos os nossos questionamentos.