Capítulo 8 - O Depois

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Rafa Kalimann

O sol já havia amanhecido há um tempo e eu observava as luzes que entravam pela fresta da janela, enquanto minha mão mexia despreocupadamente no cabelo da mulher deitada sobre o meu colo. Ela dormia calma e serena, ali não se parecia em nada com um furacão.

Usei a madrugada pra colocar meus pensamentos em ordem, ponderar tudo que estava vivendo e cheguei a conclusão que estava tudo bem. Talvez houvesse sim um pouco de medo do futuro, das reações, dos meus sentimentos, mas quando eu a olhava ali, deitada sobre mim, uma onda de certeza abrandava meu coração.

Era isso que eu queria.

-Poucas vezes na vida eu vi uma cena tão linda diante dos meus olhos. -Manu sussurrou enquanto adentrava a sala ainda sonolenta. -Bom dia!

Coloquei uma almofada que havia no sofá em baixo da cabeça da Gi e me movimentei lentamente evitando acordá-la. Sorri vendo-a se aconchegar no próprio corpo e se enrolar em forma de concha para continuar dormindo.

-Ela é linda. -falei baixinho e Manu concordou com um aceno de cabeça. -Meu Deus, Maria Manoela! Ela é muito linda.

Minha amiga riu das minhas palavras e se encaminhou para a cozinha, a acompanhei em seguida, buscando um pouco de água pra abrandar os efeitos do álcool na noite passada.

Manu me olhava em silêncio, seu rosto entregava que ela sabia que algo havia acontecido, mas não perguntou. Bufei colocando o copo sobre a pia, era difícil esconder algo dela.

-A gente se beijou. -confessei, era estranho dizer aquilo em voz alta. -Não faço ideia de como isso aconteceu, mas eu gosto dela, Manu.

-Eu sei que gosta. -respondeu simplesmente, sua expressão era serena, como se não fosse uma grande novidade. -Estou feliz que não tive que empurrar a cabeça de vocês duas uma contra a outra, porque eu juro por Deus que faria isso.

-Espera! Cê sabia? Como? -perguntei confusa.

-Não tinha certeza até ver as duas frente a frente. -Ela sorriu. -A forma como vocês se olham, como arrumam sempre uma desculpa pra tocar uma a outra... Me admira que tenham demorado tanto pra perceber que estão apaixonadas.

Parei um momento pra analisar as coisas que ela dizia. Não sabia ao certo quando aquele sentimento havia se transformado, qual foi o ponto de partida onde as coisas dentro de mim tinham mudado tão drasticamente. Talvez fosse um conjunto de fatores, talvez fosse o fato de Gizelly ser alguém incrível. Talvez ela tivesse despertado algo em mim que há muito estava adormecido, a capacidade de se sentir verdadeiramente admirada por alguém.

Seja lá o que fosse, pensar nela como a dona dos meus sentimentos era gratificante. Sim, era totalmente diferente de tudo o que eu ja havia vivido, tinham inúmeras coisas que poderiam dar muito errado, mas isso não importava nem um pouco nesse momento.

-Só espero que isso signifique pra ela o mesmo que significa pra mim. -disse depois das minhas ponderações, porque no fim das contas essa era a minha única preocupação.

-A Titchela é muito transparente em todos os aspectos da vida dela, Rafa. -Manu me tranquilizou. -Olha pra dentro de você, pro momento que vocês partilharam... Se sentiu verdade na troca que houve entre as duas, é porque é de verdade pra ela também.

Decidi me apegar às palavras da minha amiga e confiar no que eu sentia. Obviamente que todos os beijos e carícias que trocamos foram muito intensas, mas além disso, as nossas conversas, a forma como ela me olhava enquanto lutava contra o sono, o sorriso bobo que estampava seu rosto todas as vezes que eu deixei claro que ela era linda, aquilo tinha um valor muito grande pra mim.

Conta Pendente - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora