Capítulo 22 - Sentimentos Fora de Ordem

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Rafa Kalimann

No fundo da minha mente eu tentava processar todas as palavras que Gizelly dizia, mas o eco dos meus pensamentos fazia com que me perdesse em meio ao caos. Não era justo, não fazia sentido. Nos amávamos,  eu sabia disso porque conseguia sentir, em cada toque, em cada olhar, em todas as vezes que estivemos juntas, nos amávamos mesmo antes de saber que era amor.

Não era justo.

Não fazia sentido.

Minha consciência pedia pra que eu argumentasse, tentasse convencê-la, gritasse, implorasse, fizesse qualquer coisa além da inércia em que me encontrava naquele momento. Meus olhos estavam direcionados a ela, mas não a via, as lágrimas borrando minha visão enquanto todos os nossos momentos passavam como um filme na minha cabeça.

—Vai ficar tudo bem, Rafinha. - a voz embargada de Gizelly soou próxima ao meu ouvido enquanto ela me envolvia em um abraço. —É melhor assim.

—Melhor pra quem?

Nos mantivemos naquela posição por um tempo, era difícil largar daquilo que te faz feliz, então era muito difícil deixá-la ir. Procurei seu rosto e, embora triste e com as lágrimas rolando por sua face, sua expressão era de decisão. Decisão, inclusive, era o que tinha nos levado à ruína, as minhas decisões impensadas na tentativa falha de proteger nosso relacionamento e a decisão dela de que o que eu tinha pra oferecer não era o suficiente.

Deixar a Gizelly foi, talvez, uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida, mas também foi o maior ato de respeito. Se ela sentia a necessidade de ir, então ela iria e o que me restava era rezar pra que um dia voltasse. Pra mim, pra nós.

—Eu te amo, apesar de todos os erros, o que eu senti não se compara a nada. Espero que você saiba. -foram as últimas palavras ditas por mim antes de partir.

Os próximos dias se passaram como um borrão mal feito da vida que eu costumava ter. Marcella preencheu todos os horários vagos da minha vida com a única coisa que conseguia distrair a minha mente. Trabalho, trabalho e trabalho. De repente eu estava em todos os eventos possíveis, posando ao lado de todos os cantores e grandes influencers conhecidos, fazendo aparições em festas, me preparando com cursos e aulas preparatórias. Qualquer coisa que me fizesse sentir dormente.

Eu não queria pensar, pensar doía, pensar me levava até ela e era o que eu tentava evitar a qualquer custo.

Dentro de mim todas as emoções foram empurradas para o fundo, não me permiti sentir, porque isso me faria desabar. A dor era tão grande que eu sequer admitia para mim mesma, me fechei no casulo de proteção que criei e fiquei lá, esperando que aquilo passasse ou que ela voltasse.

Naquele momento era a única forma de conseguir lidar com a minha dor.

— xx— xx—

Era um domingo à noite e o trabalho tinha sido completamente exaustivo. Só naquela semana tinha feito duas viagens à Goiânia e uma pro Rio de Janeiro. Finalmente tinha conseguido descansar no meu apartamento em São Paulo, sentia saudade da minha cama, saudade de ter um tempo pra mim.

—Rafa, você não pode continuar nesse ritmo. -Marcella repreendeu enquanto comíamos, até então, em silêncio. —Desmarquei toda a sua agenda essa semana, não aguento mais te ver se matando enquanto tenta suprir algo que não vai passar enquanto não se deixar sentir.

—Essa decisão não é sua, eu decido o quanto trabalho e quando quero descansar. -falei mais ríspida do que deveria, me arrependendo logo em seguida, mas essa discussão já havia sido iniciada tantas vezes ao longo das últimas semanas, não fazia mais sentido começá-la outra vez. —Desculpa! Eu só... não consigo ainda, não é fácil.

—Nunca é, mas você se fechar desse jeito não vai fazer doer menos. Só vai adiar algo, se dê um tempo, se permite, sofre o que tem pra sofrer ou sei lá, toma uma decisão. Corre atrás dela, faz qualquer coisa, Rafa. Só age, não aguento mais te ver entrar em você mesma e se excluir do mundo.

—A Gi fez uma escolha, Marcella. Ela se colocou em primeiro lugar e não vou tirar isso dela. Jamais tiraria. -dizer o nome dela ainda era estranho, pensar, falar, tudo sobre ela era. —Fiz um monte de escolhas e tomei decisões sem pensar nela antes, não vou cometer o mesmo erro duas vezes.

—Então é isso? Vai simplesmente desistir? -Minha prima parecia indignada. —Rafa, acorda, você tá jogando fora alguém que pode ser o amor da sua vida!

-Se for pra ser, vai ser. -finalizei a conversa sem deixar margem para mais discussões.

Deitei na minha cama naquele fim de noite com o peso do mundo nas costas. Falar sobre a Gizelly nunca era fácil e eu evitava sempre que podia. Era menos doloroso assim, entretanto sentia saudade, da voz, do sorriso, do jeitinho único que ela tinha e foi por isso que me peguei pesquisando sobre ela na internet.

Entrei no Twitter porque era a forma mais fácil de saber sobre ela sem ser notada e percebi que nossos fãs estavam polvorosos, com tags, diversos comentários e "o fim de girafa" aparecia nos assuntos mais comentados do momento. A minha curiosidade me levou até um vídeo, aparentemente Gizelly tinha dado uma entrevista para o Mazzafera e isso tinha repercutido bastante.

"Mas então, a galã do BBB 20 está com o coração ocupado ou pronta pro abate? Matheus perguntou olhando pra ela enquanto dava um sorriso sínico.

"Pronta pro abate, como sempre. A procura de amor ou de uns casinhos pra dar uns beijos. Afinal beijo nunca é ruim, né?" Ela respondeu com sua forma espontânea e engraçada, fazendo nascer uma pontinha de ciúme em mim.

"Não consigo acreditar que até agora ninguém fisgou esse mulherão. Nada? Nenhuma paixão arrebatadora? Nenhum amor escondido?"

"Nada que valha a pena lembrar, Matheus. Ninguém importante o suficiente pra deixar uma marca, sabe? Casos sem sentido que não merecem ser levados à frente."

Bloqueei o celular o mais rápido que pude, não queria ouvir mais nada daquilo, não queria sentir, não queria me deixar pensar em nenhuma daquelas palavras, mas ainda assim, elas entravam e se impregnavam não minha mente como uma tortura a qual eu me obrigava a passar.

O choro veio antes mesmo que eu pudesse pará-lo, todos os sentimentos reprimidos durante as semanas em que eu me isolei de tudo vindo sobre mim como ondas que batiam e me arrasavam em intensidades desproporcionais.

Doía tudo, doía a dor de tudo que eu reprimi ao longo das últimas semanas, doía as decisões erradas que me fizeram pensar que tinham me feito perdê-la, mas doía mais ainda saber que nada do que eu fizesse seria o suficiente pra fazê-la ficar.

Teria eu me enganado tanto assim?

N/A:

Olha só quem deu as caras por aqui 😬.
Ainda to um pouco chocada com a resposta positiva que vocês tem me dado, mesmo quando eu to super insegura sobre a fic. Ontem batemos 43k de visualizações e isso me deixou verdadeiramente feliz! Me deixem saber o que vocês estão achando, amo ler cada comentário aqui, mesmo quando sou xingada. Obrigada pelo carinho, por todo mundo que tira um tempinho pra acompanhar essa história. E lembrem, tudo se resolve no fim...

Até logo 🥰

Conta Pendente - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora