Capítulo 20 - A distância

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GIZELLY BICALHO

O Espírito Santo sempre foi o meu lugar favorito no mundo, realmente sentia que pertencia a aqui com a minha alma, então era reconfortante voltar pra onde eu reconhecia como lar quando eu me sentia tão perdida.  A viagem tinha passado como um grande borrão assim como o último dia da minha estadia em São Paulo, enquanto eu voava de volta pra casa, sentia que muita coisa estava ficando pra trás e a sensação de que eu não as recuperaria mais estava deixando um gosto amargo na minha boca.

Tudo que eu queria era chegarem casa e tirar um tempo pra mim, absorver os últimos dias e tentar não entrar em um mar de melancolia que teimava em me rondar. Eram as minhas escolhas, as minhas decisões, então eu arcaria com todas elas. Todos os meus planos foram colocados de lado quando abri a porta do meu apartamento e encontrei minha mãe sentada no sofá da sala enquanto acariciava o pelo do Jackinho de forma tranquila.

-Mãe? –seu rosto se virou para mim com curiosidade. –Não esperava a senhora aqui.

-Eu disse que queria conversar, não disse? –ela levantou e caminhou até mim, seus braços me envolvendo em um abraço reconfortante. –Não quero mais adiar isso e sei que era o que faria se tivesse oportunidade, então estou aqui.

Conhecendo minha mãe como eu conhecia, foi uma ilusão acreditar que ela me daria espaço e respeitaria o meu tempo, então decidi não questionar. Pedi licença pra tomar um banho e terminar de chegar em casa e ela prometeu que faria uma comida rápida.

Enquanto deixava a água escorrer pelo meu corpo, pensei em tudo que estava acontecendo ao meu redor, Rafa rondava os meus pensamentos a todo momento, seu rosto, a forma como ela me olhava ou como ela conseguia se aconchegar ao meu corpo mesmo sendo imensamente maior que eu. Tudo isso me fazia querer jogar tudo pro alto e simplesmente ficar com ela, independente de mídia, fama ou qualquer outra coisa.

O fato de pensar tanto nela, me fez pegar o celular logo que sai do banheiro, nossa comunicação estava um pouco escassa, mas queria que o clima estranho acabasse pelo menos por hoje. Sabia que a conversa que me esperava não seria nada fácil e precisava tirar forças de algum lugar e, apesar de tudo, a Rafa ainda era o meu ponto de segurança no mundo.

Disquei o contato já tão conhecido por mim e aguardei, não demorou muito até que ela atendesse, sua voz enviando uma onda de calma instantânea ao meu corpo.

-Gi, ainda bem que cê ligou, tava preocupada. A viagem foi tranquila?

Em outros tempos, eu teria mandando mensagem ao entrar e sair do avião, a necessidade de estar perto dela de qualquer forma era constante. Meu peito apertou um pouco com todas as mudanças que tinham sido impostas pela vida em tão pouco tempo.

-Dei de cara com minha mãe no sofá da sala quando cheguei e preferi tomar um banho pra descarregar tudo. Desculpa não ter avisado que tinha chegado bem."

Ficamos em silêncio por um tempo e era estranho, sabia que tínhamos muito a falar, mas nenhuma das duas queria entrar em nenhum assunto complicado. Por isso optamos pelas casualidades, buscando o mínimo possível da sensação de normalidade que um dia tivemos.

Sabia que aquela conversa tinha um propósito muito mais de buscar calma do que qualquer outra coisa e Rafa sabia como deixar tudo melhor. Era automático sentir-me bem quando conversávamos livremente dessa forma.

-Eu preciso ir encarar a dona Márcia lá fora. Falo com você mais tarde, tudo bem?

-Certo. Espero que ocorre tudo bem. -houve um breve momento de silêncio e eu ia desligar, mas ela voltou a falar. -Gi...nós vamos passar por isso, não vamos?

Conta Pendente - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora