Bianca
— Ai! — Gritei ao sentir mais um maldito pernilongo me picar. Meu pai poderia pelo menos ter me deixado na sede, mas não. Só porque eu o chamei de velho louco, ele resolveu me deixar no meio da estrada. E lá estava eu: os saltos atolando no barro, as rodinhas das minhas malas não deslizavam na grama, estava com sede, suada, cansada
— Ai! Isso não é um pernilongo, mais parece um pterodátilo! - Gritei com raiva novamente.
Olhei de um lado para outro e percebi que não havia ninguém. Nem uma viva alma para ouvir minhas lamúrias ou me ajudar a carregar minhas malas Louis Vuitton.
Tirei os óculos escuros para enxergar melhor, mas não via a casa. Mais uma vez amaldiçoei meu pai por me fazer andar tanto. Ele ia me pagar com cada centavo do limite do meu cartão de crédito.
Andei por mais uns vinte minutos e tenho certeza de que bolhas estavam se formando nos meus pés delicados. Então, avistei a casa principal.
Meu Deus, como aquela velharia era grande. Quando criança, eu passava as férias lá, mas, como odeio a vida fora da civilização, meu subconsciente deve ter bloqueado essas memórias inúteis.
Um bem que ele me fez.
Coloquei a mão na testa para fazer sombra no rosto e apertei os olhos para ver se enxergava um pouco mais à frente. No mínimo, devia estar uns quarenta graus, e na sombra.
— Graças a Deus, alguém — falei sozinha.
Comecei a gritar, quando vi uma mulher saindo de um galpão próximo à casa.— Até que enfim! — Falei, soltando as malas no chão e colocando as mãos na cintura, assim que notei que ela tinha me ouvido. — Ei... Ei... — Acenei freneticamente para que ela me visse. — Sua surda! — Gritei ainda mais alto, pois a desgraçada estava subindo no cavalo sem nem me olhar.
Quando a mulher começou a caminhar em minha direção, percebi que ela era jovem, talvez uns 19, 20 anos. Maior que eu um pouco acredito, um corpo definido e eu não conseguia identificar seu rosto ou cor dos seus olhos.
Quando ela chegou mais perto, fiz uma careta e fechei o nariz com os dedos.
— Argh! Que nojo! Já inventaram uma coisa chamada banho, sabia? — Avisei com a voz fanha.
A estranha me olhou de cima a baixo e deu um sorriso. O enorme chapéu que ela usava fazia sombra em seu rosto, impedindo uma análise mais detalhada, mas eu estava tão cansada que não tinha forças para tentar descobrir o que havia por baixo do acessório.
— Pegue minhas malas — ordenei e voltei a caminhar. — E tome cuidado, são duas Louis Vuitton.
Quando me virei para adverti-la, notei que a idiota nem tinha se movido.
— Por. Acaso. Você. Entende. Português? — Falei cada palavra pausadamente. Esses caipiras não estão acostumados com a civilização, então talvez ela estivesse com medo de mim. Com uma das mãos ela levantou a aba do chapéu e me olhou. Santa promoção! Que rosto, Que olhos! Seu olhar era mais enigmático que eu já tinha visto na vida.
Ela me deu um sorriso torto e pegou as malas, me deixando estática por um momento, encarando-a.
Despertei do transe inicial e marchei em sua frente, e a estranha continuou sem abrir a boca. Devia ser muda, era a única explicação. Ou ficou muda diante da minha beleza.
Não me espantaria, pois não seria a primeira vez que uma mulher perdia a fala depois
de me ver. Sou extremamente bonita. A parte de mim de que mais gosto são os olhos, herdei da minha mãe que eu tanto adoro, e meus cabelos são castanho-claro ondulados e longos.Lindos!
Magra, rosto perfeito, pele macia, corpo atraente e muito, muito rica. Ou seja, sem defeitos. Por isso causo esse efeito nas pessoas. Era de se esperar que nem a caipira resistisse.
Assim que cheguei à porta da casa, entrei apressada. Na verdade, estava com um pouco de medo da estranha.
E se ela resolvesse me sequestrar? Talvez assim meu pai sentisse minha falta e se arrependesse de ter me deixado naquele fim de mundo.
— Ok. — eu disse, caminhando dentro da casa.
— Dona Bianca? — Perguntou um homem.
— Sim — respondi sem muita paciência. Caminhei até o corredor que dava para a cozinha e ele me cumprimentou com um aperto de mão.
— Seu pai me disse que a senhorita chegaria amanhã.
Eu não queria chegar era nunca, pensei.
— Pois é — falei com um sorriso forçado. — Ele resolveu adiantar o meu castigo.
Meu pai tinha a mania irritante de tentar me mudar. Me deixar isolada naquele inferno foi a última que ele me aprontou.
Isso porque ele acha que eu sou superficial demais, que só penso em dinheiro e não me importo com as coisas realmente boas da vida.
Putz! Quer coisa melhor do que passar o dia todo no shopping, comprando todos os sapatos que desejar e depois jantar à luz de velas com uma gata maravilhosa, terminando a noite em um luxuoso motel, com direito a sexo regado a champanhe? Claro que não!
Mas meu pai era um idiota se pensava que me obrigar a ficar trinta dias na fazenda mudaria alguma coisa em mim. Porque este foi nosso trato: se eu ficasse trinta dias vivendo como uma verdadeira roceira, eu ganharia um apartamento em Paris. Ou seja, au revoir, povinho sem cultura. Primeiro mundo, aí vou eu.
O senhor, que nem sabia o nome dele, tossiu para chamar minha atenção.
Acordei do meu sonho parisiense e olhei de volta. Ele até que era um tiozinho pegável: músculos no lugar, cabelo grisalhos, mas as roupas e o jeito grosseiro não ajudavam muito.
Balancei a cabeça para espantar aqueles pensamentos horríveis. Nem morta eu pegaria alguém daquele fim de mundo. Nem sabia por que tinha perdido tempo analisando o velho.
— Eu sou o Ze Luís — ele se apresentou. — Caseiro da fazenda há alguns anos. Na cozinha estão Aparecida e Leide, que cuidam da casa-grande.
— Tudo bem — eu disse, sem querer ser apresentada ao restante da criadagem. Não estava ali para fazer social, muito menos com os empregados.
Deixei o tal do Romero, Ronaldo, Roberto... Sei lá como se chamava, e fui para o quarto. Precisava de um banho urgente.
Acho que o cheiro daquela garota idiota do cavalo tinha impregnado em mim.
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Domando Corações - Rabia
Romance"O que fazer quando dois mundos totalmente diferentes se chocam? Bianca sempre teve tudo o que desejava, mas após ser obrigada a passar alguns dias em uma das fazendas da família, ela vai descobrir que nem tudo está ao alcance de suas mãos. Uma peã...