Domando Corações - Rabia

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Rafaella

Para minha surpresa, na visita do dia seguinte, enquanto eu abraçava Manu, ouvi um suspiro. Bianca chorava por mim. Mas por quê? Seria pena? Não quis ouvir suas explicações. Gritei, xinguei e a expulsei do quarto. Deixei claro para toda a minha família - que incluía Igor - que não queria receber visitas de Bianca.

Fui tão dura e insensível que nem Manoela me questionou. Sim, eu admito que fui dura e me sinto arrependida por isso.

Passei pela primeira fase do tratamento, que consistia em tomar muitos remédios para que minha medula desinchasse. Só depois seria possível avaliar a gravidade do dano.

Além da minha família, vários amigos me visitaram. Diogo e Petrix entraram juntos, e, quando Diogo tocou no nome da Bianca, perguntando por que eu tinha exigido que ela fosse embora, eu cortei o assunto. Era muita cara de pau da parte dele.

- Acho que você vai se arrepender - ele me avisou antes de sair, mas eu não respondi.

Gizelly levou vários CDs de que eu gostava. Só música country de qualidade. Ela era carinhosa, demonstrava preocupação com meu estado, mas estava na cara que a nossa relação tinha mudado. Eu não sentia mais a mesma faísca em seus olhos, aquele olhar que me colocava cheia de desejo. E não era somente pela situação, pelo momento. Era por nós. Eu tinha mudado, meus sentimentos já não eram mais os mesmos, e, infelizmente, aquela minha nova fase não incluía Gizelly.

- Quando vai dizer a ela? - Perguntou na primeira visita que me fez, dois dias após o acidente.

Disfarcei o incômodo com aquela pergunta olhando para os CDs em minhas mãos. Gizelly pegou um deles, e, quando a encarei, ela me olhava como uma mãe pronta para dar uma bronca na filha.

- Não sei do que você está falando, Gizelly - respondi, ignorando seu olhar de repreensão. Cruzei os braços e desviei o rosto. Eu estava agindo como uma criança.

- Quando você vai deixar de ser cabeça-dura, Perigosa? - A primeira parte da sua frase soou dura e implacável, realmente chamando minha atenção, mas aquela frieza toda foi quebrada quando Gizelly usou meu apelido. 

- Mas eu não quero q..

- Mas, mas, nada. Você é melhor do que isso, Rafaella. É mais do que essa pose de pegadora sem sentimentos, eu tenho certeza. Eu não me engano, sei quem você é desde que te conheci. E tenho certeza de que a novata também sabe.
Não jogue uma chance como essa fora, porque pode ser a única.

Apesar de falar sério, Gizelly piscou de um jeito divertido, me fazendo sorrir. Após sua visita, pensei em suas palavras, e pela primeira vez eu dormi bem. Era uma loucura, mas podia sentir o cheiro da Bianca. Sonhei com ela dizendo que estava ali, mas quando acordei vi o quarto vazio. Aquele sonho estranho se repetiu na noite seguinte.

Era como se, ao sonhar com ela, o calor do seu corpo e o seu aroma entrassem em mim.
Então, eu dormia calma e serena.

Bianca

Manoela me consolava, também sem entender porra nenhuma, enquanto eles podiam entrar e sair do quarto de Rafaella em todos os horários de visita, eu tinha que ficar na recepção, esperando por notícias. Eu implorava a Manu por detalhes: se ela sorria, se chorava, se sentia frio, se estava tranquila, se conversava com os médicos, suas expectativas, o que planejava.

Na terça-feira eu tinha pedido a Manoela para passar a noite com ela. Ela disse que depois que Rafaella adormecia era difícil acordar no meio da noite devido aos medicamentos. Fiz uma coisa errada, mas não me arrependi: paguei ao segurança para que me deixasse entrar. Decorei o horário das visitas médicas e das rondas das enfermeiras. Aconteciam de hora em hora, bem cronometradas. Elas chegavam, aferiam a pressão da Rafaella, verificavam o soro, faziam anotações na prancheta e iam embora. E então eu saía do banheiro e me deitava ao seu lado na cama. Descansava a cabeça na curva do seu pescoço e respirava o seu cheiro. Por uma hora eu era feliz, até que chegava o momento de me esconder novamente.