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Rafaella

É hora, é hora
É hora, é hora, é hora
Ra-tim-bum!
Manu! Manu! Manu!

Peguei Manoela nos braços, e em um abraço apertado a suspendi.

— Ei, Rafa! Você ainda não pode se esforçar assim. — Sorri pela preocupação da minha prima.

Fazia mais de um mês que eu havia voltado a andar. Sim a andar!

Claro que com muita fisioterapia e muita força de vontade. Não via a hora de sair daquela maldita cadeira. Mas, graças a Deus, os médicos estavam certos, e minha paralisia tinha sido passageira. Ainda mancava um pouco, mas a cada dia eu percebia que meus movimentos melhoravam e, segundo Babu, logo, logo eu estaria cem por cento. Não foi fácil, batalhei para conquistar cada movimento, e cada conquista era uma vitória, pois sabia que era mais um passo em direção ao meu recomeço, literalmente.

— Não se preocupa, Manu. Olha seu presente. — Entreguei uma caixa para ela.

Manoela abriu na hora e seus olhos brilharam com o iPhone em suas mãos. Eu não entendia porra nenhuma daquilo, mas a moça da loja disse que era o melhor. E, se era o melhor, era o que ela merecia.

Minha prima foi meu porto seguro durante a recuperação e não deixou que eu me abatesse com a partida de Bianca. Sofri muito, achei que não aguentaria a saudade e a dor por ter perdido a primeira mulher por quem havia me apaixonado, mas no fim decidi que era melhor assim. Primeiro porque eu ainda não conseguia andar e não queria continuar sendo um fardo para Bianca. E, depois, porque quando comecei a me recuperar pensei que a minha Bia pudesse ter seguido a vida e talvez eu não fizesse mais parte dos seus pensamentos.

Eu me consumia ao pensar que ela poderia estar com outra daquela forma tão completa como esteve comigo. Recebendo todo o carinho e todo o amor que merecia e eu, como idiota que sou, não tinha conseguido retribuir. Manoela sabia que eu sofria, me pegou várias vezes chorando e lamentando pela partida de Bianca.

Nesse período resolvi apagar todas as lembranças que me fazia lembrar da Bianca, começando pelos apelidos Cristal e Potranca, não queria mais ouvir esses nomes, como diria a Manu parece que estava chamando ela como eu costumo chamar os animais da fazenda. Eu queria apagar as brigas e até mesmo os bons momentos que tivemos juntas. Resolvi que iria mudar, não sei exatamente em qual sentido, porém estou a busca disso.

No começo, Manoela tentou me convencer a ir buscá-la, mas, com a minha relutância, acabou desistindo e nunca mais tocou no nome da Bianca. 

Isso aliviava a saudade, mas mesmo tentando, não me fazia esquecê-la. Eu ainda a amava e não sabia se seria capaz de entregar meu coração a outra pessoa.

— Mana, que lindo! — Minha prima tirou o aparelho da caixa e me deu um abraço. Tentei esquecer Bianca e me concentrei em Manu. — Não precisava.

Beijei sua testa carinhosamente. Manoela era como uma irmã, mas, às vezes, eu a tratava como filha. Não sabia o que era ser mãe, mas, se significava dar a vida por ela, sim, Manu era como filha. Ela estava indo para a faculdade, então quis lhe dar o melhor presente possível.

— Claro que precisava. Não quero que você se sinta pior que nenhuma patricinha da faculdade. — Assim que disse "patricinha", me arrependi. Os olhos da Manu se desviaram e eu sabia que era por Bianca.

Nossa vida nunca mais foi a mesma depois que ela partiu. Já fazia cinco meses, e nunca mais sequer ouvi sua voz doce, ou sua risada escandalosa e gostosa. Todos os dias eu sonhava que Bianca estava dormindo ao meu lado, mas então acordava frustrada e com ódio de mim mesma.

Eu já tinha aceitado que não seria feliz sem ela. Quando dei o primeiro passo sozinha, ela foi a primeira pessoa que veio na minha mente. Com certeza, Bianca sentiria orgulho de mim. Mas então a raiva e o rancor tomavam conta do meu coração.

Domando Corações - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora