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Dois Anos Depois ...

Bianca

— Até semana que vem Dra Bianca.

— Até. E não se esqueça de sempre alongar o pé, ao acordar. — falei para o rapaz que tinha torcido o pé, após um pisão de um touro.

Tudo o que eu jamais pensei em fazer, agora faz parte da minha vida. Me sinto muito grata e orgulhosa da nova pessoa em que me tornei.

Aquela Bianca arrogante, fútil e mimada já não existe mais. Estava terminando de arrumar minha bolsa para ir embora. O dia hoje foi cansativo, mas sempre vale a pena. Quando ouço batidas de leve na porta.

— Desculpe o expediente acabou. — falei destraida tirando o jaleco e acessórios — Você pode voltar amanhã mais cedo, assim irei lhe atender, tudo bem?  — perguntei me virando.

Mas para surpresa não era paciente.

Rafaella estava na porta segurando um buquê com um sorriso bobo em seu rosto. Como não se apaixonar? Ela se aproximou lentamente e falou: — Perdão Dra. Bianca Andrade-Kalimann, mandaram lhe entregar. É de uma pessoa que a ama muito — me entregou o buquê e aceitei maravilhada — E tem um cartão também, a pessoa quer que a senhorita vá a um jantar com ela. 

— Ah, tem um cartão e você já abriu. Que falta de educação. — entrei na brincadeira — Mas, eu não posso aceitar. Tenho uma esposa muito ciumenta, se ela descobrir, ela me mata e mata essa pessoa.

— Sim é verdade pode matar — falou pensativa— Mas, — me puxou pela cintura e se aproximou do meu ouvido, sussurrando — Ela não precisa saber, pois só ficará entre eu e você. — meu corpo se acendeu.

— Então, eu aceito — sorri maliciosa.

Agradeço ao meu pai por ter me obrigado a vim para a fazenda. Foi onde eu descobri, a amizade, o respeito e o amor. Muitos julgam suas atitudes, eu mesmo julgava. Julgava onde moravam, julgava seus modos de falar, enfim só julgamentos. Mas o principal eu esquecia. Esquecia que é nas coisas simples que está o valor e a raridade de encontrar pessoas assim.

E sobre o amor? O privilegio de encontrar alguem e receber o amor na mesma intensidade, é possível isso? O que falar dele?

O amor pode ser difícil definir, descreve-lo em detalhes, eu na verdade demorei anos para entender. Mas, quando descobri, foi intenso, de verdade e único.

(...)

Rafaella

— Onde está minha esposa, Nena? – cheguei em casa e já fui procurando minha Bia. 

Tinha me preparado durante todo o dia para aquele momento, mas meu coração se apertava com a iminência daquela conversa.

— Está no quarto, Dra. Rafaella – nossa ajudante explicou. 

Leide passou a morar com o Tio Zé Luís. Ela ainda nos ajudava, porém com menos frequência. Por isso Nena havia começado a trabalhar com a gente. Tinha a mania de me chamar de doutora, ainda que eu insistisse que chamasse apenas de Rafaella. Acho que nunca conseguiria convencê-la.

— Ei amor, por que está chorando? – Perguntei, mas minha vontade foi de acompanha-la nas lágrimas. Não conseguia ver ela triste, ainda mais por um motivo que também me deixava de coração partido.

— Ele se foi... não foi? – era o que mais me doía, pois eu já sabia o motivo. Ver a dor sincera em seus olhos e a incompreensão do por que Ventania havia morrido. Aconteceu naquela manhã, e, desde então, eu havia ensaiado várias vezes o que dizer, mas nenhuma delas serviria para acalentar o coração dela. Ele foi muito importante pra mim, e passou a ser o mesmo para Bianca.

Bia secou algumas lágrimas que desciam por seus olhos. Ventania tinha feito parte da nossa história, havia participado dos momentos mais importantes que vivi com minha mulher, mas, já velho e cansado, foi vencido pelo tempo.

Quando fui chamada para vê-lo partir, não resisti e deixei lágrimas caírem. Amava aquele animal, e, assim que eu confirmei sua morte para Bianca, ela compartilhou da mesma tristeza que eu.

— Vem aqui. — Eu a abracei e ela se aninhou em meu pescoço, chorando baixinho.
...

Era final de tarde, estava na varanda admirando o por do sol e pensando o quanto minha vida mudou.

Quem olhasse pra mim agora, é capaz de se espantar e não acreditar na Rafaella que me tornei. Como era mesmo? A antiga Kalimann que a cada dia era um caso diferente, altas farras, bruta e sem compromisso sério com relacionamentos. Bruta não posso garantir que não serei mais, porém várias coisas me mudaram e uma delas foi um amor de verdade que encontrei com Bianca. Claro que não era perfeito, brigavamos, aprontavamos, mas também descobrimos juntas como amar e superar nossas diferenças.

— Posso saber em quem tanto pensa? — ouvi Bianca falar. Me virei e a encontrei de braços cruzados, em sua pose autoritária. Me fazendo rir. — E eu posso saber o porque está rindo também?  — ela se aproximou ainda de braços cruzados. — Ah! — gritou quando a peguei no colo com cuidado e sentando com ela uma das cadeiras que havia ali.

Não poderia ser mais feliz. O projeto da Bianca estava a todo vapor, e o Centro de Reabilitação já estava sendo conhecido no país inteiro, pois pessoas de todo lugar buscavam apoio, conforto e recuperação na Girassol.

Sempre que eu via Bianca brincar e sorrir para as crianças com as quais trabalhava, eu tentava entender como Deus é maravilhoso. Não sabia como era possível, mas a cada dia que passava eu amava minha mulher ainda mais.

— Eu estava pensando em você — ela estreitou os olhos, com certeza achando que era mentira, então continuei — Acredite ou não, eu estava mesmo pensando em você. Pensando em nós e tudo que aconteceu em nossas vidas nesses últimos anos. O nosso amor foi c..

— Diferente — me interrompeu sorrindo e envolvendo seus braços em meu pescoço.

— Rude — falei rindo me lembrando das nossas brigas, e ela me acompanhou assentindo.

— Quente — falou agora em tom malicioso, mordendo o lábio inferior.

— Sofrido — falei com pesar e ela suspirou abaixando o olhar.  — Mas principalmente, — segurei seu rosto para lhe fitar nos olhos — Foi...

— Nosso. — ela completou.

—  Só nosso e de verdade. — Eu te amo, Rafa. — Se declarou me fazendo encarar profundamente a mulher que havia mudado minha vida.

— Eu te amo, Bia. — Espalmei minha direita sobre o ventre dilatado de seis meses e sorri sentindo um pequeno movimento.

— Para sempre. — Ela me devolveu o olhar mais perfeito do mundo, colocando sua mão em cima da minha. — Minha caipira idiota.

— Minha patricinha mimada.

....

É aqui que a gente se despede gente, muuuito obrigada a todos que me acompanharam até aqui.

Logo estarei trazendo novas histórias, nos vemos em breve.

Domando Corações - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora