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Rafaella

Meu celular tocou e eu tentei me desvencilhar dos braços da Gizelly sem acordá-la.

- Alô - falei em um tom de voz baixo.

Era o meu Tio Zé, provavelmente querendo que eu fosse até a fazenda dos Andrade.

- Tieta está parindo e, pelo que vejo, não conseguirá sem você - ele disse e, antes de ele terminar a frase, eu já estava à procura das minhas roupas.

- Estou indo - respondi enquanto vestia meu jeans.

Joguei a camisa no ombro e peguei meu chapéu na mesa de cabeceira ao lado da cama, onde Gizelly dormia profundamente. Também, depois da noite passada...

Eu e Gizelly tínhamos uma relação nada convencional. Ela é dona do melhor bar da pequena cidade onde moro. Uma mulher decidida e que sabe o que quer, e ela quer o mesmo que eu: sexo sem amarras. Gizelly já namorou e não estava disposta a se jogar em um novo relacionamento.

E eu? Era uma cowgirl da estrada e não me apaixonava. Não porque não gostasse de
relacionamentos. Acontece que não podia me prender a ninguém se quisesse participar do
circuito nacional de rodeio.

Eu ficaria muito tempo fora de casa e não acreditava que uma relação, fosse ela como fosse, pudesse sobreviver a distância. E o rodeio é minha paixão desde que me entendo por gente. Não deixaria essa oportunidade passar.

Ela sabia.

Entrei na minha caminhonete e parti em direção à fazenda da qual meu tio é caseiro há muitos anos. Não ficava longe da cidade,eram poucos quilômetros, e minha jabiraca estava pronta para enfrentar a estrada.

Ela era azul, antiga. Nada de tração nas rodas,
painel digital e todas essas merdas que destroem os clássicos. Eu era adepta das coisas mais simples e em sua forma real, por isso não abria mão da minha caminhonete.
...

Cheguei e vi que meu tio tinha razão: Tieta necessitava de uma cesariana de emergência, ou ela e o filhote não sobreviveriam.

Preparei-me para realizar o meu trabalho: verifiquei se todo o instrumental que usaria estava devidamente esterilizado e, após confirmar, coloquei as luvas que retirei das embalagens.

Contei com a ajuda de dois funcionários, além do meu tio, que chegou com o isopor em que estava a anestesia.

- Valeu, tio.

- Acho que o filhote é grande demais para Tieta.

Concordei com ele enquanto observava a anestesia descer pelo vidro e encher a seringa.
Encaixei a agulha e procurei o local adequado para aplicá-la.

- Calma, garota. - Acariciei o animal quando ele tentou se mexer. Tieta ficou imóvel e terminei de anestesiá-la com segurança. Todos os materiais necessários estavam à mão.

Fiz uma pequena incisão em sua pele para encontrar o útero e retirar o feto. Então,troquei
o bisturi pela tesoura e fiz a abertura, tomando todo o cuidado possível para não haver a entrada de líquidos fetais na cavidade abdominal.

- Aí está você - murmurei, vendo claramente um bezerro enorme. Meu tio tinha razão.

Abri a incisão um pouco mais, para poder fazer a retirada. Além de estar com as patas amarradas e esticadas, Tieta tinha todos os funcionários monitorando-a. Encontrei o local exato para me apoiar, então fui puxando o filhote com cada vez mais força.

E o milagre mais uma vez aconteceu!

Uma hora e meia depois, meu trabalho estava concluído. O bezerro nasceu, e ambos, filhote e mãe, passavam bem. Deus me livre perder aquela vaca, ela valia mais do que eu ganhava em seis meses.

Domando Corações - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora