Domando Corações - Rabia

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Bianca

Meu coração passou a ser apenas um órgão que bombeia sangue para o resto do meu corpo, me mantendo viva. Parece aula de biologia, mas foi exatamente assim que me senti depois de Rafaella me deixar.

- Bianca, eu sinto muito - Manu tentava me consolar. - Ela vai cair na real. Você vai ver, minha irmã te ama.

Nem esperei o dia amanhecer para ir à cidade encontrar com Rafaella. Depois que acordei do pesadelo que tive com minha mãe, passei o restante da madrugada acordada. Não conseguia dormir ou pensar. Na verdade, não sabia como ainda respirava. Juntei todas as coisas da Rafaella e avisei à enfermeira que ela partiria para a cidade comigo. Ela precisava de cuidados, e, apesar de tudo, eu não deixaria que sua recuperação fosse prejudicada por causa de um mal-entendido. Tinha certeza de que, ao explicar tudo, ela entenderia que eu não tive culpa e que não merecia pagar por erros que não cometi. Mas tive uma grande decepção ao constatar que Rafaella entendia que eu não tinha culpa, porém não aceitava.

Saí do seu quarto destroçada. Como se minhas forças tivessem se esvaído, me sentindo derrotada.

- Não tenho tanta certeza assim. - Não contive a tristeza, e Manoela me abraçou. - Dói tanto, Manu... Acho que não vou suportar.

Ela se afastou e eu percebi que seus olhos também estavam nublados pelas lágrimas.

- Ei. - Segurou minha mão. - Você é Bianca Andrade. Você consegue tudo. Esqueceu?
Respirei fundo e abaixei a cabeça.

- Nem tudo. - Olhei para a porta do quarto da Rafaella e decidi que precisava sair dali.
Era doloroso demais saber que ela estava a poucos metros de mim e eu não poderia me aproximar. - Vou voltar para a fazenda. A enfermeira deve estar chegando, ficou na farmácia comprando algumas coisas - expliquei. - Vou passar o endereço para o fisioterapeuta também.

Vi quando Igor chegou e se colocou ao lado da Manu, passando um braço pelos seus ombros. Fiquei feliz por eles. Era nítido que nenhum deles deixaria nada atrapalhar o amor que sentiam. Infelizmente, não era o meu caso. Rafaella se prendeu ao passado e com isso destruiu o nosso futuro.

- Bianca, dá um tempo pra ela esfriar a cabeça. - Igor também tentou me consolar. - Rafaella é uma cabeça-dura, mas tem um coração enorme.

Sequei as lágrimas que escorreram e tentei ficar calma. Olhei para duas das pessoas que Rafaella mais amava na vida e pensei quanto tinha aprendido com eles. Com a relação de amizade e respeito que tinham. Aprendi mais do que em todos os anos no colégio interno.

- Pena que nesse coração não há espaço para mim né.

- Bia.. - Manu tentou falar, mas também não sabia o que dizer. Rafaella tomou sua decisão e nem ela nem ninguém poderia mudá-la.
Dei dois passos para a frente e abracei aquela caipira. Acho que Manu percebeu todo o carinho que eu sentia por ela e chorou muito em meu ombro.

- Não faça isso. Não vá, por favor. Não desista da maninha.

- Vou para a fazenda esperar o meu pai. Não sei o que vou fazer.

- Quando você volta? - Manu perguntou.

- Também não sei.

Talvez eu devesse ter dito "nunca", mas meu coração ainda mantinha as esperanças. Então me agarrei a esse pequeno fio, torcendo para que um dia ele me amarrasse novamente a Rafaella.

Entrei no carro e não sei como consegui dirigir. Chorei por todo o caminho. Por vezes tive que parar para me recuperar e só continuava depois de alguns minutos. Cheguei à fazenda, estacionei em frente à sede, mas não quis entrar. Do banco do motorista, avistei o galpão ao lado da casa. Tanta coisa havia acontecido desde que chegara... Foi ali que vi Rafaella a pela primeira vez. Foi ali que brigamos. Foi ali que ela me fez subir no Ventania para cavalgar pela fazenda.