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Rafaella

Passei mais uma semana no hospital. Comecei a fisioterapia lá. Com a confusão toda da Bianca dormindo comigo, eu me esqueci de contar ao médico sobre a fisgada. Quando contei, ele disse que era normal e que, se tudo corresse bem, eu recuperaria os movimentos aos poucos.

Eu queria me recuperar logo para dar a Bianca tudo o que ela merecia. Sobre a parte sexual, ele disse que a minha condição não seria um obstáculo, mas que o meu estado emocional e o psicológico poderiam afetar um pouco.

Fisicamente tudo estava funcionando perfeitamente, ou seja, dependia mais de mim do que de qualquer outra coisa.
Mas fiquei com medo e não quis arriscar. Eu e Bianca nos limitávamos a carícias, ainda que um simples toque em sua pele já me deixasse louca.

- Oi, meu bem... - A voz de Bianca ficou fraca e ela me olhou de um jeito que dizia que se tivesse uma arma eu estaria morta.

- Oi, Bianca.

Gizelly estava sentada ao meu lado e, assim que viu Bianca entrar, se levantou.

- Acho que não fomos apresentadas formalmente. Eu sou Gizelly, dona do Taurus.

- Eu sei quem você é. Como vai, Gizelly? - Ops! Acho que Bianca já sabia ou desconfiava da minha antiga relação.

Eu acabava de passar pela primeira crise no namoro. E sorria pela situação. Bianca estava louca de ciúmes desde que entrou no quarto e viu Gizelly próxima à minha cama. Mas, enquanto Gizelly estava lá, as duas mantiveram a compostura.

- Aí! 

- Já fodeu com ela, né, sua filha da mãe? - Bianca questionou assim que Gizelly saiu. E eu esfrego meu braço pelo tapa.

- Isso não tem mais importância. - Tentei desviar o assunto. - Vem aqui me dar meu beijo de bom dia.

Usei de todo o meu charme, mas não obtive resultado. Depois que Bianca descobriu sobre a minha história com Gizelly, o hospital quase foi abaixo. Minha patricinha brava era a coisa mais linda do universo.

No dia seguinte à visita de Gizelly, foi a minha vez de entrar em combustão por possessividade. Diogo e o pai me visitaram, e, apesar de ter sido uma visita cordial, ao sair Diogo encontrou Bianca na porta do quarto. Eles trocaram algumas palavras e ela sorriu se despedindo.

Fiquei puta e perdi a paciência tentando fazer com que ela me contasse o que tanto cochichava com o babaca. Bianca gargalhou alto da cena que eu fiz e, enfim, me contou tudo, inclusive o que tinha acontecido no dia do acidente. Eu me desconcentrei ao ver o Diogo conversando com ela. Eu sabia que a culpa não era dela, havia tempos que eu não montava um animal tão perigoso, e tinha escolhido justamente o touro encrencado do dia. Queria aparecer, mostrar a ela que era melhor do que qualquer um da cidade. E por isso eu vacilei.

Bianca explicou que Diogo estava falando de mim. Que sabia que eu estava caidinha por ela, assim como ela estava por mim. Conclusão: até que o babaca não era tão babaca assim.

- E aí? Preparada para voltar para casa? - Fui pega de surpresa, pois não sabia que teria alta.

- Graças a Deus - Manu murmurou.

- Jura, doutor? - Perguntei.

- Basta seguir com o tratamento. Respeitar o horário dos remédios e continuar a fisioterapia. No mais, o que poderia ser feito no hospital já foi feito.

Suspirei aliviada. Claro que faria tudo o que era recomendado. Não via a hora de voltar a ser a Rafaella de antes.

E depois da festa com a notícia da alta, começou a discussão de onde eu ficaria. Eu batia o pé querendo ir para a minha casa, meu tio gostaria que eu fosse para a dele, e Bianca e Manu defendiam que o melhor seria eu ficar na fazenda.

Após analisar os vários argumentos que as meninas defendiam, como o espaço, os animais que eu tanto amava, a família por perto, os empregados a minha disposição e a piscina - que seria de grande ajuda para minha recuperação -, aceitei voltar para a Girassol.

Mas é claro que o fato de saber que Bianca estaria comigo o tempo inteiro também pesou na decisão. Minha prima e Bianca prepararam tudo para minha saída do hospital, mas a decepção que me atingiu quando eu vi a cadeira de rodas foi inexplicável.

- Ei, vai ser por pouco tempo, Rafa. Eu prometo. - Bianca estava agachada ao meu lado, segurando minhas mãos.

- Cara, você vai tirar isso de letra - Igor emendou sorrindo.

Olhei para baixo e vi minhas pernas imóveis, meus pés em uma espécie de apoiador. Ouvi um clique e logo estava andando para a caminhonete do Igor.

Andando não, sendo levada em uma maldita cadeira de rodas.

- Contratei o melhor fisioterapeuta da região - Bianca informou empolgada, tentando aliviar a agonia que era sentar e ser transportada naquela coisa. Eu me sentia impotente, humilhada. Entrar no carro foi mais humilhante. Meu tio e Igor me colocaram na
caminhonete, um me segurando pelo tronco, o outro sustentando as minhas pernas. Uma sensação de terror tomou conta de mim. Eu não poderia e nem queria passar uma vida inteira daquela forma. Não merecia. Que Deus me livre disso logo!

Assim que entrou na caminhonete, Bianca percebeu que havia algo errado, segurou minha mão de forma carinhosa e puxou o meu queixo para que eu a olhasse.

- Eu estarei com você, amor. - Era a primeira vez que ela me chamava assim. E era a primeira vez que via Bianca mudada, mais madura, de uma forma quase irreconhecível.

- Obrigada - agradeci sem fazer comentários, e ela descansou a cabeça no meu peito. 

Eu estava sentada em uma espécie de almofada, que me dava mais equilíbrio e fazia com que meu corpo não sofresse tanto com a viagem.

Zé Luís  foi com o seu carro, enquanto eu, Bianca e Manu estavamos com Igor. Demoramos um pouco mais para chegar à fazenda, já que Igor manteve a velocidade baixa. Quando chegamos, meu tio já estava nos aguardando.

- Bianca... - Meu tio a chamou, mas ela saiu correndo da caminhonete para abrir a porta da sede. Ela sorria, estava feliz por eu estar ali. E eu me agarrava a essa vontade de tê-la para voltar a ser como era.

Enquanto olhava a minha garota saltar os degraus da escada em minha direção, eu vi
uma mulher, uma garota, na verdade, atrás dela. Ela correu e a alcançou. Elas estavam perto o suficiente para que eu ouvisse a conversa.

- O que está fazendo aqui, Ivy? - Ela perguntou trincando os dentes, como se aquilo a fizesse manter a calma.

- Ei gata, estou aqui por você. Não está feliz? - A patricinha respondeu e a abraçou.

Bianca tentou se desvencilhar, mas, quando ela se soltou, ela levou seus lábios até a boca dela.

- Larga ela, sua idiota. - Quando percebi já estava esbravejando e me debatendo, com Igor tentando me acalmar. Fiquei com ódio. Queria ter as pernas boas no momento para chutar a bunda da desgraçada.

- Quem é a aleijada? - a menina perguntou, sarcástica, olhando de mim para Bianca. - Virou Madre Teresa, gatinha? - gargalhou.

O jeito como ela a tratava, a forma como a olhava e a maneira como Bianca reagiu à sua presença indicavam claramente que as duas haviam tido um relacionamento. E o pior é que ela tinha ido atrás dela.

- Bianca? - Perguntei de uma forma que a mesma me explicasse o que estava acontecendo, mas, antes dela responder, a menina se adiantou, estendendo sua mão para mim.

- Prazer, sou Ivy. Namorada da Bianca.

Vi Bianca empalidecer e desviar os olhos dos meus. Era verdade, ela sabia mentir muito bem, mas naquela semana, enquanto eu permanecia em uma cama de hospital, Bianca tinha se despido das máscaras que usava e eu tinha aprendido a ler suas expressões.

- Namorada?!

O choque ao receber aquela palavra me fez pensar que isso não poderia ser real. Ou poderia?

Rafa não tem um dia de paz a coitada

Domando Corações - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora