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- O que achou do filme, Bianca? — Thelma me questionava, mas eu estava totalmente desconcentrada. Já era tarde e eu tinha que mandar o e-mail da Manu. Sempre fazia isso no mesmo horário, e não seria diferente em seu aniversário.

Mas ainda estava no shopping com a minha colega de faculdade.

Faculdade!!! Ainda não acreditava que estava frequentando uma faculdade. Me sentia totalmente perdida, e nos primeiros dias queria pegar o avião e voltar para a fazenda. Sentia falta de tudo da Girassol, mas a saudade que me torturava tinha nome: Rafaella Kalimann. Não dava para descrever a mudança que aquela mulher havia causado em minha vida. Nunca mais fui a mesma, nunca mais olhei o mundo com os mesmos olhos. Sofri, chorei e lutei muito para não ter o mesmo destino que a minha mãe. Num dos dias em que mais me senti abatida, eu entendi a atitude extremista dela. Com Rafaella a poucas horas de distância, eu já me sentia fora de mim. Perder para sempre aquela que tinha seu coração devia causar uma dor inexplicável.

O que ela fez não foi certo, mas eu não a julgo, não mais. Não sei o que sentia nem o que pensava no momento. Então a perdoei e deixei suas lembranças partirem. Nesse mesmo dia, eu tive uma das melhores noites da minha vida. Pipoca e filme antigo com meu pai em meu apartamento.

Ele passou a viajar menos e sempre que podia estava comigo. Olhando para o meu pai, e vendo sua força de vontade em transformar nossa relação, eu decidi que deveria parar de chorar e correr atrás do prejuízo. Ele ficou surpreso, mas extremamente feliz quando contei sobre o vestibular. Somente a escolha do meu curso fez com que olhasse torto para mim.

Fisioterapia. Às vezes eu tentava me convencer de que não era pela Rafaella. Mas então me lembrava de tudo que havia passado com ela após o acidente e esses pensamentos caíam por terra. Era pela Rafaella.

— Bianca? — Thelma chamou minha atenção novamente.

— Desculpa, estava distraída. O filme foi bom.

Mal terminei de falar, e meu olhar pousou sobre um casal com uma garota sentadas em um restaurante. Era a primeira vez que os via depois de voltar. Caminhei a passos largos em direção ao restaurante, com Thelma chamando meu nome, sem entender porra nenhuma da minha atitude. Ignorei ela e, chegando à mesa, eu puxei uma cadeira e me sentei.

— Boa noite.

Marcela e Ivy arregalaram os olhos e encararam uma a outra e depois a mim, como se eu fosse um fantasma. Estavam sentadas de frente uma para a outra enquanto uma garota toda produzida abraçava Ivy. Coitada, era a vítima da vez.

— Querida, acho que você se confundiu de mesa — a garota disse, tentando fazer com que eu me levantasse.

— Confundi mesmo? — Perguntei, sarcástica. — Será, Ivy? E você, Marcela, também acha que foi um equívoco?

Vendo que eu não tinha errado a mesa, a garota olhou para Ivy de forma acusatória.

— Amor, você pode explicar o que está acontecendo?

Amor?! Essa era boa. Não consegui me conter e soltei a maior gargalhada no restaurante.
Todos nas mesas a nossa volta me olhavam como se eu fosse louca. Gabi abria e fechava a boca, vendo claramente o barraco se formar. Marcela se mantinha muda, pálida e com medo de me encarar.

— Não é nada disso que você está pensando, meu amor — Ivy, enfim, resolveu falar.

— Cala a boca, Ivy. — Mandei, e ela ficou perplexa com a minha atitude. Eu me virei para a garota confusa ao meu lado e tentei alertá-la da armadilha em que ela caía. — Esses duas têm um caso há anos, e garanto que você é rica. — Ela confirmou, balançando a cabeça. — Então vou te dar um aviso: essa filha da puta se juntou com essa vaca para arrancar seu dinheiro. Não acredite nelas!

Domando Corações - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora