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Rafaella

- Patricinha mimada - falei sozinha. 
Claro que aquela garota ia me tirar do sério de novo, mas dessa vez ela teve o que merecia.

Gargalhei muito me lembrando do biquinho que ela fez. Mas confesso que precisei usar todo meu autocontrole para não pular em cima dela. A garota tinha um belo par de pernas, e fiquei tensa só de imaginar o que aquela toalha escondia.

Delícia! Apesar de ser chata pra caramba, eu não podia deixar de reconhecer que ela era linda. Mas daí a levá-la comigo para o Taurus era outra coisa. Manu só podia estar brincando comigo

- Falando sozinha? - Escutei a voz do tio Zé Luís atrás de mim.

Ele estava como sempre: jeans surrado, camisa, chapéu e botas. Apesar de ter uma filha de 18 anos, meu tio era um cara de sorte e não aparentava a idade que tinha. Eu sempre brinquei que ele pegava mais mulher que eu, porém ele nunca levava ninguém para casa em respeito a Manoela.

- Pois é, mania de peã - respondi, divertida.

Continuei avaliando o filhote que tinha nascido no dia anterior, e Zé Luís permaneceu ao meu lado.

Meu tio e Manu foram tudo o que me restou depois que fiquei órfã aos 10 anos. Meus pais estavam em uma cidade vizinha e quando voltavam para casa foram assaltados e mortos.

Depois de anos, eu ainda não tinha uma resposta sobre o que havia acontecido.

Isso me atormentava, pois o que eu mais queria era que a justiça fosse feita. Não poder vingar a morte deles sempre me frustrou.

Depois de um tempo, meu tio conseguiu emprego na Girassol e custeou meus estudos. Ele era um grande peão de rodeio, mas também sofreu uma enorme decepção quando a mãe da Manu desapareceu. Cuidar da filha sozinho não foi fácil. Meu tio teve que abdicar da coisa que mais amava: montar. Mas o amor que sentia pela minha prima o fez superar todos os obstáculos.

Desde o ensino médio e durante toda a faculdade eu vivi na capital. Decidi fazer medicina veterinária porque era o sonho do meu pai, e, assim que terminei a graduação, Zé Luís conseguiu com um amigo que morava no Texas uma ajuda para que eu pudesse fazer uma especialização nos Estados Unidos. Passei dois anos fora do Brasil, e quando voltei não hesitei em ficar perto da família que tanto me apoiou. Queria poder ajudar Manu da mesma forma que meu tio havia me ajudado. Ele foi um verdadeiro pai quando precisei e sua filha era como se fosse minha irmã.

Conversei com Zé sobre o gado que havia chegado e deixei algumas instruções a respeito da alimentação. Um zootecnista trabalhava comigo, mas ele estava prestando serviço em outra cidade, então assumi todo o trabalho.

Almocei com meu tio, e Manoela ficou com a Cristal na sede. Ainda estava pensando em como sair daquela enrascada sem prejudicar a minha prima, mas ainda não tinha pensado em nada.

Pelo jeito teria que aguentar a patricinha.
...

A tarde passou voando. Além da Girassol, visitei mais duas fazendas, já que estava na época de vacinação contra a febre aftosa e eu tinha que acompanhar de perto os rebanhos sob minha responsabilidade.

Cheguei à cidade no fim da tarde, nem pensei em muita coisa, tomei um banho e deitei para descansar. Caí em um sono profundo e acordei com o celular tocando.

Era o toque que eu tinha configurado para Manu. Antes de atender, eu me preparei para a bronca, pois o visor do celular já marcava 19h30. Putz! Ela vai estar uma fera.

- Alô? - Atendi com a voz mais carinhosa do mundo, mas não adiantou. Afastei o celular do ouvido para não correr o risco de ficar surda.

Me sentei na cama, enquanto ouvia minha prima me xingar mais que um tropeiro de mau humor.

- Rafaella Kalimann, não me diga que você estava dormindo? - Ela perguntou muito irritada.

- Não - tentei disfarçar. - Já estou chegando.

Enquanto mantinha Manu no telefone, eu procurava o que vestir no guarda-roupa.
Escolhi um jeans escuro e uma camiseta verde.

- Não precisa mais vir - ela afirmou de forma seca. - Igor já está chegando para nos buscar - completou.

A menção de que o Igor buscaria minha prima não causou tanto impacto quanto saber que o "nós" se referia a ela e a Cristal. Respirei fundo e tentei não discutir.

- Tudo bem, Manu. - concordei e desliguei.

Peguei uma toalha no armário e, já que não estava mais atrasada, resolvi tomar outro banho. Vesti a roupa que havia escolhido e passei as mãos pelo cabelo para colocá-lo no lugar. Calcei minha bota e usei o perfume de sempre. Estava pronta.

Não me considerava uma patricinha, mas também não era uma desleixada. Gostava de me sentir bem, e, se isso atraísse mais mulheres ou homens, melhor.

Sempre fui uma garota reservada, não saio à caça por aí, mas não podia reclamar: apesar de morar em uma cidade relativamente pequena, nunca ficava sozinha. Várias candidatas já tinham parado na minha cama.
...

Liguei minha caminhonete e parti para o Taurus. O bar não era muito longe, mas eu não deixaria o Igor levar minha pequena em casa, então precisaria estar motorizada.

Cheguei no bar e cumprimentei quase todo mundo - vantagens e desvantagens de cidade pequena. Dei um beijo no rosto de Gizelly, que estava do outro lado do balcão.

Mesmo antes de pedir, eu já estava com minha cerveja favorita na mão. Dei uma piscada para ela e recebi um sorriso de volta. 

Adorava sua espontaneidade, com ela não tinha tempo ruim, além de ter um coração enorme. Tenho pena do desgraçado do ex-marido dela: perdeu uma grande mulher.

Gizelly apontou na direção da pista de dança e virei para ver o que era.

Uma morena que eu nunca tinha visto me encarava de forma predadora. Seus olhos me analisavam dos pés à cabeça. Dei um meio sorriso para ela antes de voltar minha atenção para Gizelly.

- Não sabia que você tinha virado casamenteira - brinquei, e ela apenas sorriu de volta antes de continuar atendendo os outros clientes.

O som não estava muito alto, pois o show ainda não havia começado. Casais se espalhavam pela pista de dança, e grupos de jovens conversavam de forma animada. O Taurus era o point da cidade, e estava começando a ficar bem cheio.

Senti uma mão no meu ombro e notei que a morena que me encarava estava ao meu lado.

- Oi, gata - disse com a voz maliciosa. A garota era gostosa. Virei de lado para olhá-la melhor e tinha que reiterar o que havia pensando e corrigir: ela era Muito Gostosa.

- Oi, linda - respondi, dando meu melhor sorriso.

Pelo jeito, a noite prometia. Conversei um pouco com a garota, que se chamava Mariana.

Descobri que ela estava fazendo estágio em uma fazenda da redondeza.

Era uma futura candidata a colega do Igor, pois estava se formando em Agronomia. Na verdade, eu paguei com a língua: quando a vi se aproximar, achei que seria só mais um rostinho bonito em um corpo gostoso, mas me surpreendi. Mariana era uma excelente companhia e tinha um papo incrível.

Convidei-a para dançar e ela prontamente aceitou. Caminhamos para a pista de dança ao som de uma música lenta, muito boa de ouvir, ainda mais agarrada a uma bela morena.

Dancei mais duas músicas com a Mariana tendo mãos bobas e alguns beijos. Qual é, precisava provar um pouco certo? Depois voltamos para o bar. 

Estávamos tomando uma cerveja quando ouvi meu nome sendo chamado. Eu me virei e meu queixo caiu.

Deus! Estou ferrada.

Domando Corações - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora