Domando Corações - Rabia

17

Bianca

Antes de encontrar Rafaella na piscina, eu e Manu tínhamos feito compras. Segui seus conselhos e comprei mais algumas peças country. Afinal, além da nossa Operação Segura Peão, Manu me avisou que naquela noite aconteceria uma festa com rodeio. E claro: ela fez questão de me contar que Rafaella montaria.

Confesso que gostei de saber da festa e, mais ainda, da chance de começar a colocar em prática o nosso plano. A ideia de provocar Rafaella em seu habitat natural me agradava muito.

Mas tudo acabou se revelando muito mais do que eu esperava. Rafaella e Igor praticamente surtaram ao nos ver com os meninos. Manoela também me surpreendeu: eu jurava que ela iria fraquejar e desistir do plano quando visse o olhar do Igor para ela. Mas a garota é das minhas. Ela se manteve firme e não cedeu.

- Que horas Rafaella vai montar? - Perguntei assim que nos sentamos na arquibancada.
Diogo se mantinha distante, como tínhamos combinado. Eu até o peguei flertando com as meninas sentadas ao nosso lado. Mas que se dane! Não me importava. Já Petrix, ao contrário, segurava a mão da Manu o tempo todo, e eu começava a achar que o plano iria ferrar com ele. O cara estava bancando o namorado de verdade durante toda a noite.

Babando por ela e fazendo todas as suas vontades.

- A Rafaella vai ser uma das primeiras a montar - Petrix respondeu. - Dei uma passada no brete antes de vir para cá, e ela já estava lá.

De onde eu estava, não conseguia ver Rafaella. E já estava ficando louca só de pensar nela vestida com aquela calça apertada e camisa xadrez.
Deus do céu!
Não me chamo Bianca Andrade se não arrancar aquela fivela no dente!

Olhei em volta e tenho certeza de que fiz uma careta, pois a garota ao lado do Diogo ficou me olhando torto. Abri um sorriso falso e continuei analisando o lugar. Nunca tinha me imaginado sentada em uma arquibancada de madeira, rodeada de caipiras, aguardando uma mulher saltar em cima de um touro.

- Estou enlouquecendo! - Murmurei indignada, balançando a cabeça.

- Falando sozinha, Bianca? - Manoela perguntou enquanto levava um punhado de amendoins à boca. 

Ao lado dela, Petrix bebia água, enquanto Diogo tomava todas as cervejas que via pela frente. Manu me ofereceu o amendoim, mas recusei. Eca! Eu gosto na verdade, mas não me arriscaria a comer nada daquela feira. Vai saber a procedência da comida. Tinha perdido o juízo, mas não era para tanto né.

- Boa noite, turma do chapéu! - O locutor gritou.
Eu me segurei na arquibancada. Estática. Pois todo mundo se levantou e começou a gritar, pular e a bater palmas. E a madeira embaixo dos meus pés tremia, sacudindo todo o meu corpo.

Por favor, Senhor. Não me deixe morrer! Não me deixe morrer! Ainda tenho que sentar na Kalimann.

Nem ouvi as palavras seguintes do locutor, tamanho era o meu medo de aquela estrutura desmoronar.

- Vamos lá, Bianca. - Manoela segurou meu braço e me obrigou a ficar de pé. - Maninha já deve entrar.

Aí sim: algo que me interessava.

- Essa coisa tem certificado do Inmetro? - Perguntei, apontando e olhando para as tábuas embaixo de mim e depois olhei pra ela.
Manu e Petrix se entreolharam e soltaram uma gargalhada.

- Não se preocupa, Bianca. Você está segura - Diogo sussurrou em meu ouvido, passando a mão na minha cintura.

Nos minutos seguintes eu fiz de tudo para acreditar nas palavras dele, mas toda vez que o locutor pedia para o público dançar, o meu coração trepidava de pânico, da mesma forma que a arquibancada fazia meu corpo trepidar. E, para piorar o pesadelo, meus tímpanos sofriam com as músicas, todo mundo batia palmas e levantava as mãos. Olhei em volta toda a plateia, desde velhinhos até as crianças, fazendo a coreografia. Cansada de tanta breguice, resolvi ir embora.

Aquela brucutu da Rafaella não merecia tanto esforço. Quando me preparava para descer, a gritaria ensurdecedora chamou minha atenção.

- Vocês a conhecem? A mulher que logo estará entre os profissionais, representando nossa cidade e nossa região. Aquela que todas as mulheres, e homens gostariam de ser, e que todos gostariam de ter na sua cama. Quem é? Quem é?

Antes de terminar a narração, o locutor teve sua resposta. Eu olhava e escutava tudo, ainda incrédula.

Kalimann! Kalimann! Kalimann!

- É sério isso? - Eu me referia ao coro que tinha se formado. Estava embasbacada.

- A mana é muito conhecida por aqui - respondeu Manu sem parar de bater palmas.

- Percebi... - murmurei para mim mesma. 

Não é que a caipira tinha sua fama?

- Isso mesmo. É a nossa Rafa Kalimann. Então, bora lá. Portão 1 para Kallimann, se prepara, Rafa monta Coragem..! Vai ab... Paaara tudooo...

- Caralho! - gritei frustrada. Meu coração estava acelerado e quando o locutor parou, quase tive um troço.

- Fiquei sabendo que Kalimann preparou um verso. É isso mesmo, produção?

Aí, mais essa. Meu coração estava na boca com a expectativa da montaria, e Rafaella me vinha com poesia.

- Isso mesmo, Marcão. Preparei um verso para uma garota que está na arquibancada.

Olhei em volta, mas, em vez de olharem para a arena, Manoela e os meninos olhavam para mim. Que porra era aquela? Antes de transformar meus pensamentos em palavras, a voz de Rafaella me sacudiu:

"Garota da cidade, você não sabe o que está perdendo. Suba na cama dessa peã e não se preocupe com o tempo.
Pois eu garanto que em oito segundos você estará enlouquecendo."

- Ops! - Manu levou a mão à boca, sorrindo. Petrix e Diogo também me encaravam rindo, todos se divertindo com a palhaçada protagonizada pela Rafaella, que me tinha como alvo. E eu? Ainda não acreditava no que a idiota tinha feito.

Esqueci o medo da maldita arquibancada e desci os degraus, abrindo espaço entre as pessoas que estavam na minha frente. Ouvi Manu me chamar, mas nada me pararia naquele momento.

Assim que cheguei ao primeiro degrau, realmente achei que tudo viria abaixo.
Novamente o nome da Rafaella ecoava pela noite e em minha cabeça.

Quem essa caipira idiota pensa que é? - Continuei falando sozinha e caminhando firme.

Diogo me alcançou e colocou a mão em meu ombro, me abraçando.

- Vamos lá, princesa. Vou te levar para afogar as mágoas.

Olhei de relance para a arquibancada. 
É, a noite não estava saindo como eu tinha planejado.