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Rafaella

– Bianca, sua desgraçada! Abre essa porta, porra! — Meu Deus, aquilo só podia ser brincadeira.
Fazia vinte minutos que eu esmurrava a porta que nem uma louca, mas nada daquela patricinha cínica e enganadora de mulheres com tesão me responder. — Abre a porta! — gritei de novo, mas foi em vão. Podia ouvir a risada da maldita dentro do quarto.

— Burra! Burra! Burra! — Bati a mão espalmada na minha cabeça. Eu era muito idiota de ter deixado as coisas irem longe demais de novo, mas daquela vez Bianca foi mais esperta.

Eu achando que a noite tinha começado... Acabei foi do lado de fora, pelada e com frio.

Andei pelo galpão usando as mãos para tapar minhas partes íntimas enquanto procurava algo para vestir. Aquele quarto era o único que tinha fora da casa-grande, era o lugar que eu usava para descanso quando precisava ficar de plantão na fazenda. Minha ideia era ficar lá com a Bianca até o dia amanhecer, quando os primeiros empregados apareceriam. A maioria deles ficava de folga até segunda, mas alguns, como os empregados da casa, voltariam no domingo de manhã.

Passei pela baia do Ventania, que, por estar em recuperação, era o único cavalo que havia ali. Ele relinchou assim que me viu.

— É, companheiro. — Acariciei a testa dele. — Noite difícil. — Seria cômico se não fosse trágico: eu estava pelada, conversando com um cavalo.

Poderia montar e cavalgar até a casa do tio Zé, mas, apesar de tudo, não deixaria Bianca sozinha do lado de fora de casa.

Querendo ou não, eu era responsável por ela. Saí pelo quintal tentando encontrar o que vestir, mas a única coisa que eu achei foi um vestido no varal. Foi fácil deduzir que era da Bianca, pois mais ninguém na casa teria coragem de usar um pedaço de pano mínimo como aquele. Mal dava para saber se era um vestido ou uma camisa. Eu o puxei do arame e, sem nem olhar direito, o vesti. Bom, pelo menos cobria minhas partes intimas.

Voltei para o galpão e coloquei a cadeira em frente à porta do quarto. Assim que Bianca saísse, eu torceria seu pescoço da mesma forma que se mata um frango.

Me sentei e, minutos depois, tive uma ideia; levantei e procurei a caixa de força do galpão.

Desliguei a chave, e imediatamente tudo ficou escuro. Ela não estava com medo? Quis ver o que ia fazer.

Voltei rindo, me sentei na cadeira e aguardei: era uma questão de tempo até Bianca...

— Rafaella! Sua filha da mãe! — Ela gritou do quarto. Não disse? Quando o quesito era mulher, eu tirava de letra, eu era uma. — Liga a luz! — Rá! Se ela achava que eu iria dar o braço a torcer, estava muito enganada. Bianca não sabia com quem estava brincando, e, quando eu entro num jogo, não admito a derrota. Nunca sairia perdedora. — Eu te odeio, sua caipira idiota!

— A reciprocidade é verdadeira, patricinha mimada! — Gritei de volta. Inclinei a cadeira para trás e apoiei minha cabeça na parede. Era só esperar o dia amanhecer. Bianca ia descobrir com quantos paus se faz uma canoa. E depois afundaria a canoa com ela dentro.

(...)

Cochilei sentada e, quando acordei, percebi os primeiros raios de sol. Levantei e caminhei até a porta do galpão. O raiar do dia no campo era lindo, e eu contemplava o céu no horizonte.

Voltei para o quarto e tentei entrar, só para ter certeza de que a maldita não tinha fugido enquanto eu dormia.

— Bianca, minha linda. Vem aqui para fora — chamei, provocando-a. — Sua Rafaella está te esperando. Vem, Cristal.

Alguns segundos depois, ouvi um barulho de coisas caindo no quarto. Provavelmente ela estava quebrando tudo, tentando andar no escuro.

— Nem morta! — Respondeu. — Vai embora, Rafaella. — Aguardei alguns segundos perto da porta; se ela abrisse uma fresta sequer, eu partiria para dentro. Com a raiva que eu tinha acumulado nos últimos dois dias, eu colocaria Bianca no meu colo e estapearia sua bunda até deixá-la ardendo. — Some daqui, sua babaca — ela continuou me xingando.

Domando Corações - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora