Tinha acabado. O concerto pelo qual o meu coração batera tão entusiasticamente durante tanto tempo tinha chegado ao fim sem que me apercebesse, sem que estivesse pronta para enfrentar a realidade fora do Pavilhão, a realidade que jamais me traria tão perto dele novamente. Baixei a cabeça com medo que o meu olhar denunciasse o que os meus pensamentos conjecturavam. Levantei a cabeça lançando o olhar por todo o palco, como se mantivesse a pateta esperança que eles ainda lá estivessem a propiciar-nos momentos incomparáveis com as notas que emanavam.
Não contive o bater acelerado do meu coração quando constatei que nada era como eu queria, já não havia mais música para ser tocada e só prevalecia o calor que provinha do momento.
Perscrutei todo o recinto com o olhar, observando atentamente todos os fãs que se dirigiam agora para as portas de saída e sem que tivesse tempo de me preparar, fui abalada pela agoniante sensação de claustrofobia provocada por todas os fãs que se contorciam e se empurravam atrás de mim. Senti o ar fugir do meu alcance e sentia-me completamente incapaz de respirar por muito que me esforçasse para inspirar arduamente. Agarrei no braço da Sofia e puxei-a abruptamente de modo a encontrar rapidamente a saída do túnel de acesso.
Vi finalmente as luzes dos candeeiros de rua que se acendiam agora e observei atentamente a tonalidade alaranjada que o céu envergava enquanto exercia a força suficiente para conseguir respirar correctamente. Sentei-me no chão de pedra enquanto deixava a cabeça cair para os joelhos e um sorriso meio extasiado crescia nos meus lábios. Fechei os olhos, permitindo-me observar com excitação os picos mais altos do concerto, o Seth, sempre uma memória do espectáculo era acompanhada pelo Seth. Deixei a minha mente divagar por entre cada caracol do seu cabelo negro que contrastava perfeitamente com a sua tez pálida e os olhos azuis esmeralda, aqueles olhos que com apenas um simples vislumbre me faziam ganhar asas e voar, voar tão alto, para um local onde ele era apenas meu. Não que eu algum dia fosse adquirir a coragem suficiente para confessar a alguém, nem à Sofia, que eu voltara a permitir o meu coração bater mais forte por algum rapaz, muito menos pelo Anjo de Negro que aqueceu toda a minha alma durante aquele magnifico concerto.
Nunca fui pessoa de me deixar envolver nas teias perigosas do amor. Sempre considerei ilógico o facto de se desejar tanto o sentimento causador das mais profundas feridas, da mais profunda e dilacerante dor que muitas vezes não tem o poder de se curar. Aos olhos dos que me rodeavam, sempre tentei ser a rapariga forte que se preocupava em perder o tempo a divertir-se, a aproveitar o melhor que o Mundo tem para dar. Construí portanto, uma barreira alta e forte entre mim e todos os precipícios que acabassem no sentimento proibido.
No entanto não fui capaz de parar de o imaginar comigo durante todo aquele tempo. Como se por momentos a minha mente ganhasse vontade própria e os sonhos se libertassem do cadeado forte que lhes impus. Ele era tudo o que eu conseguia ver durante aquela hora e meia.
Levantei finalmente a cabeça para observar todas as pessoas que abandonavam o recinto. Vi as minhas amigas, as companheiras que tinham vindo com toda a organização Street Team para o concerto. Observei atentamente todas as suas caras de pura excitação e felicidade, a Jéssica, a Juliana, a Ana e finalmente a Emma. Ao ver as suas caras apeteceu-me correr para as abraçar, mas no ínfimo dos meus desejos, não encontrei a força interior necessária para me levantar e correr ou sequer caminhar até elas.
Depois de alguns segundos presa na indecisão de me levantar ou não, senti finalmente o barulho do meu estômago a reclamar de fome. Agora que me permitira sentir mais do que as borboletas no estômago apercebi-me de um novo rol de sentimentos dos quais me tinha esquecido. Tinha fome, estava claramente cansada e um pouco desidratada também. Mas apesar disso, não me conseguia queixar, eu estava demasiado bem psicologicamente, o suficiente para todas as outras necessidades não se sobressaírem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por um Momento
Teen FictionVictória Cruz tinha um desejo - conhecer os elementos da banda que sempre protagonizavam os seus sonhos. E um dia, na mítica cidade de Lisboa, esse sonho é tornado realidade. Terá o amor a força suficiente para alterar o modo de pensar de alguém? Qu...