Prólogo

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Observei mais uma vez o Seth que dormia com a cabeça recostada ao meu ombro. Era uma viagem extenuante, demasiadas horas presos num avião. Mas o prémio de compensação, era o melhor presente que ele jamais me poderia ter oferecido. Uma viagem de volta a casa, onde por alguns meses ficaria longe de tudo o que me prendia a Los Angeles. Para trás ficara o Daniel, era doloroso pensar nele, relembrar que quando regressasse já não haveria um melhor amigo para partilhar vivências.

Recordei a expressão com que me observara quando lhe pedi que se fosse embora. Quando lhe disse que escolheria sempre o Seth. Tinha a certeza que jamais me quereria ver depois disto. Mas talvez fosse melhor assim, para ambos. O Daniel tinha feito parte de uma recordação importante da minha vida em Los Angeles, mas tentaria pensar nele apenas com isso: uma recordação. Iria adormecer todos os sentimentos que nutria por ele e dedicar-me-ia apenas ao meu amor pelo Seth. Afinal, teríamos muito que sobreviver quando regressássemos e ele confirmasse o rumor de que namorávamos. Mas por agora restava um longo Verão para preparação.

Puxei o caderno da mala, e sorri ao denotar que finalizava a última página deste caderno de capa negra que me acompanhara durante todo este tempo. Todas as suas histórias, contam um bocadinho de mim, memórias nostálgicas que serão para sempre recordadas neste amontoado de folhas de papel. As recordações permanecerão intactas, longe da acção do tempo, a salvo das imperfeições da memória.

Porque depois de uma apoteose de vivências com ele, depois de ter ficado presa por cada momento que passámos juntos, simplesmente não existe espaço para mais nada ou para mais alguém. Porque tudo se resume àquele primeiro momento em que o coração falha um batimento, os olhos ficam turvos com a imagem da pessoa que amamos, a imagem da pessoa que nos prendeu a si por muito mais do que todos os restantes momentos do Universo.

E a capa fechou-se arrastando consigo um role de memórias que se reviverão no amanhã. Porque apesar de o amanhã ser um trilho inóspito em que a única certeza é saber que não sei absolutamente nada, sorrio com o calor da mão dele a transmitir-me a paz que necessito para continuar. Quem sabe, por mais um momento?

Por um MomentoOnde histórias criam vida. Descubra agora