Por um Momento

1 - Impressões

Sempre me questionei sobre o verdadeiro sentido da vida, sobre aquilo que achamos ser politicamente correcto, se enquadra nos princípios "correctos" da sociedade em que estamos inseridos. Apesar disso, encarei a minha vida como sendo uma Montanha Russa. Tive momentos bons, daqueles que gostamos de recordar com os mais sinceros dos sorrisos, mas também momentos não tão bons que nos fazem querer suprimir a lágrima atrevida que se forma sem que nos apercebamos, sem que tenhamos tempo de a querer.

Não posso porém afirmar que tive uma vida fácil, nem tão pouco difícil. Tive uma vida à medida dos caminhos que trilhei, certos ou errados, fui descobrindo com o passar do tempo. Grandes subidas acompanhadas de quedas igualmente grandes, mas sempre acompanhada do sorriso que me caracteriza. 

Nunca estive verdadeiramente sozinha ou isolada no meu próprio Mundo e felizmente, pude sempre orgulhar-me da companhia da minha melhor amiga e de uns quantos outros amigos, que me acompanharam nas jornadas mais difíceis de ultrapassar e que me estenderam as suas mãos para me erguer do abismo quando necessitei. A eles, agradeço muito daquilo que faz parte de mim e me torna "eu", ainda que muitas vezes, não seja capaz de reconhecer a pessoa em que me tornei. 

Construi sonhos e projecções para o futuro, mas todos foram facilmente esquecidos quando o meu coração aqueceu pela primeira e derradeira vez. Quando nos apaixonamos tão cegamente por alguém não somos capazes de perceber a mudança do mundo à nossa volta, nem tão pouco denotamos o passar do tempo. O tempo que não pudemos desejar parar quando nos sentimos presos a algum momento. Quando o bater de um sentimento é tão forte que sentimos uma dificuldade anormal em conseguir respirar, pensar, sentir qualquer coisa que não o que representa a pessoa pela qual o nosso coração não hesita em bater, não há nada que possamos fazer para lutar contra.

Como qualquer história de amor, a minha também teve um princípio. Da que considero ser a mais bela história de amor, talvez por a ter protagonizado, destaco o facto de ter tido pontos altos que me aqueceram o coração e pontos baixos que fizeram mais um corte na parede danificada que representa a minha alma. 

Do que representa um dos pontos altos da minha história pessoal, recordo-me que caminhava lado a lado com a minha melhor amiga, a Sofia e num passo acelerado seguíamos o alto e forte segurança da banda pela qual os nossos corações batiam abruptamente. Por sermos as fundadoras da Street Team no nosso país, tinha-nos sido dada a oportunidade de estar com os membros da banda e naquele momento estávamos a realizar o sonho de milhares de fãs.

Estava nervosa e sentia um nó a formar-se no interior da minha garganta à medida que ia caminhando, sem nunca desviar o olhar dos ténis pretos que trazia calçado. Tinha a certeza que se quisesse falar nada a não ser um estranho grunhido me sairia dos confins da minha garganta, pois uma força invisível fazia pressão nas cordas vocais impossibilitando-me de exprimir fosse o que fosse. Mentalmente, revia verbos e gramáticas em inglês mas com a certeza que tudo aquilo seria em vão, toda a aprendizagem de anos e anos de estudo intensivo se dissiparia quando me cruzasse com os quatro rapazes pela qual o meu coração batia freneticamente. 

Ganhei coragem e levantei a cabeça encarando-a finalmente. A sua expressão era vazia, talvez estivesse, tal como eu, a fazer esforços mentais em vão. Segurava firmemente com a mão direita a caixa dos presentes de algumas fãs e da própria organização Street Team e a outra mão jazia ao lado do corpo tremendo. Instintivamente alcancei a mão dela e agarrei-a, entrelaçando os meus dedos nos dela. Era como se garantisse que o que eu sentia, ela também sentiria. Sorriu-me levemente e desviei o olhar mesmo a tempo de me esbarrar com o segurança.

Lançou-me um olhar furtivo enquanto se preparava para abrir a porta da sala onde eles estavam.

Precipitei-me e toquei-lhe no ombro.