Encostei a cabeça ao vidro fumado da carrinha enquanto observava a paisagem a passar à minha frente. O Seth dormia com a cabeça delicadamente pousada no meu ombro.
Suspirei. Em quase duas horas e meia de viagem ainda não me tinha ocorrido nenhuma justificação suficientemente convincente para levar os meus pais a deixarem-me ir com ele para os Estados Unidos. Mas estava determinada a convencê-los custasse o que custasse. Ao final de contas não me poderia arriscar a separar-me dele novamente, não podia e não queria. Era um dado adquirido.
Senti-o resfolegar no sono e tive a certeza que se preparava para acordar.
– Já chegámos?– perguntou transitando da inconsciência para a realidade.
Soltei uma gargalhada abafada enquanto o observava espreguiçar-se e depositar-me um caloroso beijo nas minhas bochechas rosadas.
– Ainda não. Mas já falta pouco. Podes voltar a dormir se quiseres. – assegurei-lhe passando os dedos pelo cabelo negro.
Abanou negativa e freneticamente a cabeça enquanto me puxava pelo braço, obrigando a desencostar-me do vidro. Colocou um braço atrás das minhas costas e fechei os olhos encostando a minha cabeça no ombro dele. Tinha a certeza que estava a tentar trocar de papéis. O seu objectivo era que agora fosse a minha vez de dormir e a sua de permanecer acordado a observar-me. Mas não queria dormir. Apesar da viagem ser muito desgastante, tinha adquirido as forças suficientes durante a noite para permanecer desperta.
– Não tenho sono. Não te preocupes comigo. – respondi dando-lhe um beijo rápido nos lábios quentes.
Olhei o relógio que, em dígitos vermelhos marcava as 18 horas. Admirei-me por não ter recebido ainda nenhuma chamada. Nem dos meus pais nem da Sofia. Puxei o telemóvel do bolso das calças de ganga e as minhas previsões estavam erradas. O símbolo das chamadas não atendidas piscava incessantemente no cimo do ecrã. Sorri ao ler os nomes da minha mãe e da Sofia a brilharem.
– Acho que é melhor telefonares à tua mãe. Eu conheço as mães, acredita que se passam à mínima coisa. – a firmeza patente no seu tom de voz levou-me a marcar imediatamente o número de Laura Cruz. Será que a mãe dele ainda seria assim com os dois filhos de vinte e vinte e três anos?
A minha mãe não iria atender o telemóvel. Provavelmente encontrava-se numa das suas aulas de Ioga ou então estava a passar o tempo com as amigas. Decidi-me a deixar-lhe uma mensagem de voz, ouvi-la-ia depois.
Olá mãe! Não te preocupes mais comigo, estou a caminho de casa. Estarei em casa dentro de no máximo quarenta e cinco minutos.
Bloqueei o telemóvel e voltei a guardá-lo dentro do bolso das minhas calças de ganga desbotadas. Voltei-me novamente para o Seth que perscrutava os meus olhos de um modo embaraçante, mas que conseguia ser agradável ao mesmo tempo. Ele era o anjo perfeito enviado pelos deuses.
– Ainda nem acredito que tive a sorte de te encontrar. – – suspirou interrompendo os meus pensamentos que cogitavam à volta da sua perfeição inquietante.
– Discordo. Aqui quem teve a sorte de encontrar quem fui eu. Em que realidade é que eu alguma vez poderia pensar que o meu ídolo se iria apaixonar por mim? É um sonho demasiado bom. Por favor não me digas que corro o risco de acordar a qualquer momento e tu não vás estar aqui.– disse com um sorriso.
Riu-se e apertou-me a mão com mais força.
– Eu estou e estarei sempre aqui. Enquanto me quiseres contigo nunca te voltarei as costas. Claro que isso não inclui trabalho e digressões, mas se quiseres estar comigo nessas alturas serei o homem mais feliz do mundo. – apressou-se a dizer com um sorriso angelical nos lábios. Angelical? Sim, era mesmo o termo correcto. – O teu ídolo está tão apaixonado por ti Victória, eu tenho a certeza que não consegues imaginar a proporção do meu amor por ti.
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Por um Momento
TienerfictieVictória Cruz tinha um desejo - conhecer os elementos da banda que sempre protagonizavam os seus sonhos. E um dia, na mítica cidade de Lisboa, esse sonho é tornado realidade. Terá o amor a força suficiente para alterar o modo de pensar de alguém? Qu...