Abandonei relutante, as instalações do Aeroporto e sentei-me num dos bancos metálicos que adornavam a praça de acesso. As pessoas foram abandonando o aeroporto até só restarem os passageiros que embarcavam e desembarcavam rumo aos seus destinos e o pessoal do staff. Senti-me sozinha, como se todas as pessoas do mundo tivessem desaparecido deixando-me ali abandonada.
Porém, sabia que tinha aliviado a minha consciência, pelo menos eu deteria na mente que tinha tentado sempre que me lembrasse deste episódio da minha vida. Todavia, juntamente com essa memória viriam as recordações do beijo que menosprezei e o meu coração partir-se-ia. Era como se a bonita rosa vermelha de repente ganhasse os mais horrorosos espinhos.
Fechei os olhos com a visão a ficar novamente turva. Se eu tinha aliviado a minha mágoa, se eu lhe tinha dito aquilo que me ia no coração, porque é que continuava a sentir o peso do mundo em cima de mim? Se eu lhe tinha dito que também gostava dele, porque é que ele não se voltara e correra para mim? Não conseguia deixar de ser egoísta, deixar de o querer só para mim. Afinal de contas fora a mim que ele beijara, a mim que ele dissera as três palavras que mudaram o meu mundo. "Gosto de ti." Estremeci com a réplica do sentimento que ele impusera naquelas palavras, pareciam tão desprovidas de qualquer dúvida. Interroguei-me novamente com a lágrima atrevida a escorrer-me pelo rosto. Porque é que o anjo teve de partir?
Chegou-me novamente aos ouvidos o som de passos a arrastarem-se mas não tive a vontade suficiente para erguer a cabeça. Queria ir para casa, obrigar finalmente o meu coração a aceitar que ele tinha partido e que o meu sonho se prematuramente.
Abri os olhos mas não vi o chão de granito, o que visualizei, foi o meu caderno, abandonado em cima da cama, com tantas histórias para contar. A pessoa cujos passos ouvira recentemente sentou-se no banco ao meu lado e o seu cheiro invadiu-me as narinas como uma torrente de ar. Eu podia reconhecer a sua fragrância em qualquer lugar, mesmo a quilómetros de distância, mesmo com um oceano inteiro a separar-nos. A fragrância que me fazia levitar, estava já cravejada em todos os recantos da minha mente. Era impossível esquecer. – Estava a pensar em mil e um motivos para não embarcar naquele avião quando te ouvi.
Senti um arrepio invadir toda a minha essência e levantei a cabeça agarrando-me a ele como se o amanhã estivesse em risco de não existir, como se nunca mais ninguém o pudesse separar de mim. –Seth!– repliquei contra o seu peito. As lágrimas turvam-me a visão deixando apenas uma réstia de manchas indistintas. Não tinha força para tentar lutar contra elas, não depois de quase me ser impossível suportar outra emoção avassaladora como esta. – Eu pensei que te tinhas ido embora.
Acariciou-me levemente as costas depositando-me carinhosos beijos no cimo da cabeça. – Não poderia Victória. Não depois do que aconteceu...
Afastei-me ligeiramente dele, o suficiente para ter uma melhor visão dos contornos perfeitos da sua cara. Precisava de me desculpar; pela idiotice da noite anterior, pelo beijo que não lhe cheguei a corresponder, por todas as palavras que me pareceram impróprias de lhe dizer. Como é que ele não demonstrava estar minimamente aborrecido comigo depois de tudo que o fizera passar?
Mordi o lábio estarrecida. Uma vontade assombrava-me compulsivamente a mente enquanto os meus olhos teimavam em não quererem descolar-se dos dele. A vontade de o beijar. Fechei os olhos. A mão dele descontraiu-se das minhas costas e desceu ligeiramente até à minha cintura puxando-me para mais perto dele.
Senti a sua pele quente e macia em contacto com as minhas mãos e não consegui conter o frémito que me trespassou. Abri os olhos e uni os meus lábios aos dele como se não quisesse mais nada da vida. E de facto, não queria. Era ele que fazia todo o meu corpo tremer só com um verdadeiro vislumbre dos seus olhos, daquela imensidão de azul puro que resplandecia simplicidade de um modo tão sublime, era ele que igualmente conseguia acalmar os tremores com um simples toque, era o abraço dele que me protegia e era o perfume dele que me fazia querer ganhar asas e voar livremente por esse céu fora. E apesar de não ter qualquer certeza, eu sentia que ele também precisava de mim tanto quanto eu necessitava dele. Porque completávamo-nos como duas verdadeiras metades de uma pessoa só.
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Por um Momento
Teen FictionVictória Cruz tinha um desejo - conhecer os elementos da banda que sempre protagonizavam os seus sonhos. E um dia, na mítica cidade de Lisboa, esse sonho é tornado realidade. Terá o amor a força suficiente para alterar o modo de pensar de alguém? Qu...