14 - Revelações

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O sol brilhava intensamente neste início de tarde de sexta-feira do início do mês de Abril. Por ser véspera de fim-de-semana a excitação que pairava no ar podia ser quase palpável. Fazendo um balanço do meu último mês de aulas na nova cidade, tinha que admitir que poderia ter sido bem pior. No fim de três dias já conseguia reconhecer alguns colegas nos corredores e nos jardins e também descobri que à excepção da professora de Introdução às Ciências Sociais, a senhora Norris – a professora mal-humorada, os professores também eram bastante simpáticos e prestáveis. 

– Victória o que vais fazer no fim-de-semana? – a Erin perguntou encostando-se à parede do auditório onde iríamos ter a última aula do dia. Era Jornalismo com o professor Garisson e esperava avidamente que o meu colega do lado não aparecesse hoje. 

Não sabia que planos é que o Seth teria para nós nestes dois dias sem aulas mas também não me queria comprometer com os meus novos amigos e deixá-lo pendurado.


– Ainda não tenho nada planeado. Talvez fique a tratar de algumas coisas que ficaram esquecidas durante a semana. –sibilei tentando parecer o mais educada possível. 

Sorriu-me e retirou de dentro da mala dois pequenos bilhetes de cor vermelha.

– É de um bar aqui perto. Organizam karaoke e coisas desse género. Se estiveres interessada, podes levar o teu namorado.– sugeriu piscando-me o olho. Fiquei sem reacção a olhar para ela, mas apressei-me a desviar o olhar para o telemóvel desejando que não percebesse o efeito constrangedor que as suas palavras detiveram em mim.


A campainha soou pouco depois quebrando o silêncio que se impusera no ar. Caminhei lentamente para o lugar onde ficara no último mês e constatei com agrado que o Daniel não estava lá. Não tinha sido particularmente fácil suportar as aulas de Jornalismo. No último mês, o meu colega do lado dedicava-se a fazer-me longos interrogatórios durante o tempo de duração da aula, e quando decidia fazer gazeta era um alívio poder desfrutar da hora e meia de silêncio em que podia pensar livremente. Provavelmente e se tivesse sorte, hoje também não apareceria na aula, tal como fizera durante a semana. Porém, pouco tempo depois de me sentar e ainda antes do senhor Garisson começar a aula, a cadeira do meu lado moveu-se, deitando por terra todas as minhas intenções de permanecer bem-disposta até chegar a casa.

– Olá Victória!– saudou com um sorriso presunçoso nos lábios.

– Daniel. – retribui.

– Estás muito bem-disposta hoje! – observou pousando na mesa o caderno que trazia na mão.

– Faço os possíveis. – comentei sarcasticamente ao mesmo tempo que rabiscava distraidamente no caderno.

Não me apetecia ter de falar com ele pelo que me decidi a tentar prestar atenção ao que o senhor Garisson escrevia no quadro. Desisti segundos depois de ter tentado. O que quer que o professor estivesse a escrever não despontava o mínimo interesse em mim. Voltei-me para ao lado direito a fim de olhar para a Erin. Quando o fiz, atirou-me um pequeno papelinho que caiu no meu colo. Peguei nele e desdobrei-o.

O que raio é que o Daniel Turner está a fazer numa aula a esta hora?


Deixei escapar um risinho e tentei afastar-me o máximo possível do Daniel para que não conseguisse ler o que escrevia.


Deve ter decidido que sou uma boa vítima. Estás disposta a trocar de lugar comigo? Pago-te o almoço durante a próxima semana inteira. ;)

Por um MomentoOnde histórias criam vida. Descubra agora