Abraçou-me suavemente enquanto me depositava pequenos beijos no lado direito da minha face molhada. Analisei as hipóteses que me eram apresentadas. A primeira, seria ficar em Portugal e submeter-me novamente ao sofrimento dilacerante causado pela sua ausência, essa não me parecia uma opção viável. Mas, por outro lado, não me sentia preparada para abandonar a minha família.
Resmunguei silenciosamente com a minha sorte. Porque é que me era impossível ficar com os dois, sem ter de escolher? Não me sentia capaz de abdicar de qualquer um deles. Mas tinha a certeza que não conseguia ser egoísta o suficiente de modo a pedir ao Seth que abdicasse do mundo que ele, em conjunto com os restantes elementos da banda tinha construído. Pela minha mente, cruzou algumas imagens que eu um dia vira na internet sobre os seus concertos, a turba de pessoas que se formava sempre com o intuito de os ver, enchendo pavilhões. Não, eu também não me sentia capaz de ser egoísta por elas.
Senti as lágrimas crescerem-me nos olhos quando me lembrei do rosto da minha mãe, depois o do meu pai e finalmente o do meu irmão. Será que iria ter a coragem de me separar deles? Tinha a noção de que a separação não seria definitiva, porém, com um oceano entre nós, como correria eu de volta para os braços da minha mãe se algo me corresse mal como sempre fazia, quando ela estava a apenas uns quilómetros de distância? O que era isso comparado com a imensidão de um Oceano inteiro?
Senti um beijo mais grave cravar-se na minha testa. – Não tens de me dar uma resposta já. Ainda temos alguns dias. E eu sei que não é uma decisão que se tome de ânimo leve. – assegurou-me enquanto as suas mãos exerciam pressão sobre os meus braços num abraço.
Afastei-me cuidadosamente dele. – Sinto-me completamente perdida. Por um lado, recuso-me a ter de pensar sequer na possibilidade de me afastar de ti novamente. Mas por outro, eu não sei se consigo afastar-me assim da minha família. –respondi com franqueza esperando que me compreendesse.
Sorriu-me ligeiramente.
– Não te quero pressionar. Quero que sejas tu a decidir, sem pressões, que caminho desejas escolher para prosseguir a tua vida. E não precisas de pensar nisso agora. – falou num tom de voz firme e seguro encostando a sua testa à minha.
Abanei ligeiramente a cabeça num tom afirmativo e apoderei-me dos seus lábios que estavam demasiado perto de mim para que lhes conseguisse resistir. O beijo não fora tão longo como esperava, ou como os que partilháramos anteriormente. Levantou-se e estendeu-me a sua mão para que o acompanhasse.
– Onde vamos? – inquiri curiosa. Tinha a certeza que os seus conhecimentos acerca da cidade de Lisboa não teriam melhorado, e o pouco que sabia, aprendera aquando eu, das duas vezes que aqui estivéramos.
– Eu não me teleportei dos Estados Unidos para aqui. O Simon fez questão de me acompanhar. – respondeu-me com um sorriso trocista nos lábios acompanhado de um certo tom de desagrado ao preferir o nome do guarda-costas. – Preferes permanecer à chuva ou encontrar um local seco e quente?
Era de facto uma proposta aliciante e não queria de todo continuar com as roupas molhadas a colarem-se ao meu corpo. Felizmente tinha tido a perspicácia de trazer mais uma muda de roupa, caso tivesse algum incidente. Não era propriamente um íman a desastres, mas de vez em quando era vítima de infortúnios.
O facto de mencionar o guarda-costas e a sua aparição inesperada aqui em Lisboa fez-me recordar de uma série de perguntas que me surgiram na mente quando o avistei perto da margem do rio. Esperei que estivéssemos acomodados na carrinha preta com os vidros fumados para as fazer.
– Seth, como é que soubeste onde eu estava? – perguntei apertando-lhe a mão que jazia no estofo de pele ao meu lado.
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Por um Momento
Teen FictionVictória Cruz tinha um desejo - conhecer os elementos da banda que sempre protagonizavam os seus sonhos. E um dia, na mítica cidade de Lisboa, esse sonho é tornado realidade. Terá o amor a força suficiente para alterar o modo de pensar de alguém? Qu...