18 - No Promises

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Contorci-me na relva fresca tentando arranjar uma posição mais confortável. O ar, incrivelmente carregado com um aroma fresco e primaveril, entupia-me as narinas deixando-me num estado de sonolência extrema. Fechei os olhos ao mesmo tempo que gravava na memória todos os sons, o chilrear dos pássaros que sobrevoavam as árvores, o som ferrugento do baloiço que fora abandonado à pouco por uma menina loira que aparentava ter os seus seis anos e cuja mãe a chamava constantemente pelo nome num tom que declarava que a sua paciência acabara à horas. A menina chamava-se Emily e tinha qualquer coisa na sua expressão que me fazia lembrar a mim própria, pelos vídeos caseiros que via em casa. Mas para além disso, conseguia também ouvir a respiração compassada do Daniel e o barulho do flash de cada vez que ele encontrava qualquer coisa suficientemente interessante para fotografar. 

Era interessante pensar no Daniel e no modo como a nossa amizade se desenrolou no decorrer de apenas duas semanas. Começara como uma antítese perfeita daquilo que era hoje. E o mais estranho, é o modo como em tão pouco tempo me foi tão fácil considerá-lo como um amigo, e principalmente como o meu melhor amigo. Com o Daniel era demasiado fácil conversar sobre tudo em geral, tudo à excepção do meu namoro com uma das estrelas do momento do Universo do Rock. Mas tirando esse pequeno (apesar de que importante) pormenor, o Daniel era o refúgio perfeito para sobreviver a estes dias sem o Seth.

– Acho que acabei de encher o cartão de memória.– replicou à distância. Conseguia ouvir os passos pesados e arrastados a serem distribuídos pela relva. 

– Se apagares as dezenas de fotografias que me tiraste, acho que ficas com uma quantidade razoável para fotografares mais paisagens. – alvitrei ao mesmo tempo que exercia força com os cotovelos na relva para erguer o tronco. Estava farta de estar deitada e até o meu cabelo se encontrava já humedecido. Lancei um olhar divertido para cima de uma das muitas mesas de piquenique que ladeavam as diversões infantis e onde jaziam os nossos cadernos e apontamentos sobre o trabalho. O trabalho que desistíramos de fingir que fazíamos à pelo menos uma hora atrás. – Sabes, aquele trabalho não se vai fazer sozinho e um dia vamos ter que nos sentar a sério para o fazer.


Riu-se dirigindo o olhar para onde também o meu se encontrava. – Não te preocupes com o trabalho. Hoje de manhã estive a conversar com o Nathan e ele e a Sarah Miller ainda nem começaram a fazê-lo. – sentou-se ao meu lado e dirigiu um olhar significativo para o pequeno aparelho. – Sabes que se apagar as vinte e três fotografias que te tirei vou sentir a necessidade de te tirar mais. Não queres passar por outro momento de embaraço, pois não?

Levantei-me abanando a cabeça num tom negativo. – És tão parvinho. – respondi limpando a erva das calças e caminhando em direcção à mesa de madeira. Olhei o céu uma última vez e observei minuciosamente o tom amarelado que envergava. Espreitei o relógio e assustei-me com as horas que este marcava. – Bem, está a ficar mesmo tarde. – observei ao mesmo tempo que reunia os meus pertences e os guardava na minha mala cinzenta. 

– Queres jantar comigo? – perguntou aproximando-se para também arrumar as suas coisas. A pergunta dele provocou-me um leve desconforto no estômago. No decorrer da semana fora jantar com ele duas vezes e fora também motivo de piada por parte da Erin que insistia em perseguir-me com a sua teoria da relação "amor-ódio".

– Hoje não posso, tenho imensas coisas para fazer. Talvez para a próxima. – disse tentando que não descodificasse o tom da mentira nas minhas palavras. Mas na verdade, achava que era desnecessário. Iria para casa, jantaria com a Sofia e provavelmente telefonaria aos meus pais, porque de facto já lhe estava a dever uma série de telefonemas.

– Tudo bem, mas na próxima não escapas. – comentou lançando a mão para cima dos meus cabelos com o fim de me despentear. Era um vício que ele ganhara e que sabia que eu detestava. Lancei-lhe um olhar furibundo ao que ele respondeu com um sorriso inocente. – Anda, eu levo-te a casa. – sugeriu puxando-me pelo braço em direcção ao Dodge preto.

Por um MomentoOnde histórias criam vida. Descubra agora