17 - Amigo

2 0 0
                                    


19:36


Enfiei um dos brincos dourados no pequeno buraquinho rasgado na orelha e observei o preparado ao espelho. Não queria parecer que me tinha produzido para me encontrar com ele, mas também não queria que pensasse que não me preocupava com a forma como me vestia ou me apresentava. Por isso, perscrutei atentamente a silhueta coberta por umas calças pretas e uma camisola de tom pérola de mangas pelos cotovelos. O cabelo dourado estava solto e caído pelas costas como sempre acontecia.

– Vais sair? – olhei para trás sobressaltada para encontrar a Sofia deitada sobre a minha cama com os pés virados para a cabeceira. Anui afirmativamente colocando a carteira e o telemóvel dentro de uma mala preta que podia atravessar pela cintura. – Julguei que o Seth não voltava senão no dia 3 de Junho... – atirou tentando esconder a sua curiosidade que sabia que a estava a matar.

Sentei-me junto dela e beijei-lhe os cabelos pretos. – E sabes disso tudo porque andaste muito ocupada com o Jack ou porque adivinhaste? – perguntei relembrando-lhe que nos últimos tempos a sua atenção girara em torno da Universidade e do cantor principal dos Rush!. Via-a corar ligeiramente e levantei-me dando-lhe um pequeno empurrão. – Não és a única com segredos Sof!

Imitou o meu gesto erguendo-se e puxando-me o braço ostentando uma expressão que embora séria conseguia transparecer uma réstia de brincadeira e provocação no olhar. – Não estás a pensar dar férias ao Seth, pois não? Olha que eu desenvolvi demasiado afecto por aquele miúdo para ter de lhe dizer Adeus sem mais nem menos.– alertou. Contudo, e apesar de eu saber que ela estava a brincar não consegui evitar baixar os olhos devido ao constrangimento.

Era estranho que até a Sofia, cujos detalhes a cerca da minha saída, ainda não tinha mencionado, falasse naquele tom quase acusativo, quase como se me preparasse para realmente trair o meu namorado. – Vou jantar com o Daniel Turner. Lembraste daquele trabalho de Jornalismo que mencionei pouco tempo depois de termos cá chegado? – inquiri dando-lhe tempo para se recordar. Anuiu afirmativamente permitindo-me continuar a falar. – Bom, a verdade é que fiquei encalhada com ele e digamos que não começamos muito bem. E ele pediu-me uma segunda oportunidade para me mostrar o seu verdadeiro "ele". – conclui sentando-me novamente em cima da colcha branca.

– Parece-me justo da tua parte.– dirigiu-me um olhar divertido ao mesmo tempo que um sorriso travesso se esboçava no seu rosto de traços bem definidos. – Depois quero saber tudo sobre isso. E tenta controlar-te para não virares o sumo propositadamente por cima dele. – riu-se e caminhou descontraidamente até ao seu quarto que ficava ao fundo do corredor de paredes cor pérola.

Estava pronta e ainda faltava algum tempo até ao Daniel aparecer pelo que me decidi a adiantar alguma parte do trabalho que partilhava com o meu colega. Talvez fosse bom levar um caderno comigo para o jantar. Talvez isso o fizesse pensar que o nosso encontro seria única e exclusivamente profissional, apesar de termos combinado que ficaria a conhecer o verdadeiro Daniel Turner. Pela via das dúvidas, coloquei um caderno pequeno dentro da mala, assim sempre tinha uma desculpa, caso o jantar se tornasse inconveniente.

20:03


Ouvi o telemóvel tocar dentro da mala, depois de o ter retirado para verificar as horas, e ao ver o seu nome brilhar incessantemente no ecrã soube que tinha chegado. Saí do meu quarto despedindo-me da Sofia com um "Até Logo" apressado e fechando atabalhoadamente a porta de entrada da minha casa. Desci o rol de escadas calmamente, tentando minimizar a sensação de desconforto e o nervosismo miudinho que se fazia sentir na zona da barriga. Abri lentamente a porta de acesso ao prédio tentando através do vidro perceber onde estava estacionado o seu carro.

Por um MomentoOnde histórias criam vida. Descubra agora