– Acho que precisas de um automóvel. – quebrou o silêncio desenhando círculos invisíveis nas minhas costas nuas. Ergui a cabeça não percebendo de onde surgira aquele tema. – Tens licença para conduzir, não tens?
– Sim, é algo recente mas tenho. Quer dizer, não sou propriamente uma profissional da condução mas acho que me safo. –concordei beijando-lhe a pele também nua do peito.
Soltou um pequeno riso abafado. – Então vou oferecer-te um automóvel à prova de bala. Nunca se sabe se podes querer acabar com os muros das redondezas. – gracejou.
Ergui-lhe uma sobrancelha tentando parecer ofendida com o seu comentário. – Então tem cuidado com os muros que ladeiam a tua casa. – respondi voltando-me de costas para ele. – Mas não quero que me ofereças um carro. Acho que posso perfeitamente comprar qualquer coisa com o dinheiro que os meus pais me enviam mensalmente.
– Não. Eu quero oferecer-te Victória. – alvitrou fazendo-me voltar de novo para ele. – Considera-o um pedido de desculpas antecipado por todas as vezes que terei de me ausentar. –disse fazendo com que o seu olhar penetrasse hipnoticamente nos meus olhos. Como era possível resistir-lhe depois de me deixar perdida naquele azul intenso?
– Só aceito se for um carro velho e a cair de podre. Ficou calado durante alguns segundos a observar-me.
– Combinado! Não tenho a certeza se os carros velhos são há prova de bala mas podemos sempre arranjar-te um tanque militar que não esteja a ser usado.
A conversa cessou depois de me deitar um olhar enviesado e me ter puxado para mais perto dele. Pouco depois adormeci com a sensação de que a despedida dos olhos dele estava demasiado próxima para conseguir digerir tudo o resto. Parecia-me injusto que agora que as coisas estavam a caminhar para o seu rumo correcto, o destino viesse e interpusesse mais qualquer coisa para ele se afastar de mim. Queria conhecer a pessoa que tinha inventado esta coisa de destino para podermos ter uma conversa séria.
No dia seguinte viajámos até à praia em Santa Mónica. Estava uma temperatura agradável e de manhã havia muita afluência para a praia.
Decidimos almoçar num pequeno restaurante italiano que ainda não tinha muita afluência.
– Como é que têm corrido os últimos dias de aulas?– inquiriu depois de engolir um pouco da sua tortilli com carne.
Ri-me com a sua pergunta. – Têm sido aceitáveis. Os professores são simpáticos, acho que consegui ser minimamente boa companhia para a Erin e o Max, tenho conversado bastante com a Emma. – silenciei para respirar fundo. – Tive uma dissertação para fazer e o idiota do Daniel Turner continua a dar cabo da minha paciência.
Ficou sério a olhar para mim.
– Quem é o Daniel Turner? – perguntou pousando o garfo.
De todas as vezes que conversávamos sobre a minha nova faculdade, não encontrara a coragem suficiente para lhe falar do colega que se sentava ao meu lado durante as aulas de Jornalismo. Na verdade, não achava propício falar-lhe sobre Daniel uma vez que ele era só um idiota que um dia iria perceber que as suas abordagens pouco convenientes durante as aulas do professor Garisson estavam a assumir um comportamento disparatado e por isso deixaria de falar comigo. Para além de que, tinha medo que o Seth pudesse interpretar mal o que lhe queria dizer sobre Daniel e pensasse nele como alguma espécie de ameaça ao nosso namoro.
– É só um idiota que se senta ao meu lado durante as aulas de Jornalismo. – confessei mordiscando nervosamente um pouco de Pasta alla carbonara. Tinha de admitir que apesar de ser um perfeito idiota quando queria, o Daniel conseguia ter um misto de charme e mistério que encantavam 95% das raparigas da Universidade. Claro que não me incluía na percentagem.
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Por um Momento
Ficção AdolescenteVictória Cruz tinha um desejo - conhecer os elementos da banda que sempre protagonizavam os seus sonhos. E um dia, na mítica cidade de Lisboa, esse sonho é tornado realidade. Terá o amor a força suficiente para alterar o modo de pensar de alguém? Qu...