5 - Encontro

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Não fui capaz de dormir durante as três horas de viagem que representavam o nosso regresso a Lisboa. Estava eléctrica demais para deixar que o sono me consumisse a mente e o corpo. E apesar de não ter dormido grande coisa na noite anterior, não me sentia capaz de deixar o cansaço tomar conta do meu espírito.

Em vez de dormir, decidi que iria dedicar o meu tempo a pensar em frases que lhe diria e, principalmente situações que teria de evitar caso me quisesse escapar a uma humilhação perturbante. Revi minuciosamente o nosso último encontro e senti cada partícula do meu corpo aquecer quando o abraço me preencheu a mente e me desarmou por completo. Agradeci a deus não me ter lembrado disto quando estivesse frente a frente com ele, caso contrário a humilhação seria indubitavelmente mais agravante.

Contudo, referente ao que lhe devia dizer, não fazia a mínima ideia do que poderia ser patético ou racional. Claro que dizer-lhe o teor dos meus sentimentos ou confessar-lhe que estava praticamente a dar em louca por sua culpa, seria uma das coisas com a etiqueta patética. Provavelmente devia manter-me calada à espera que fosse ele a iniciar uma conversa, claro se o fizesse.

Um assombro percorreu-me o corpo. E se ele não dissesse absolutamente nada? Se me ignorasse e fingisse que eu nem sequer existia? Se isso acontecesse, eu tinha a certeza que o meu mundo desmoronaria aos meus pés.

Perscrutei a Sofia que se entretinha a fazer um daqueles livros ridículos de sopa de letras. Precisava de desabafar um pouco.

– Sof? – chamei rezando que não ficasse chateada por a estar a interromper.

Levantou o olhar resignada.

– Estava a ver que ia demorar muito tempo até me dizeres que precisavas de falar. – respondeu com um sorriso a crescer-lhe nos lábios.

Tinha-me esquecido, a transparência denunciava-me. "Óptimo", pensei com sarcasmo.

– O que é que achas que vai acontecer quando estivermos à frente um do outro? – perguntei temendo que me desse uma resposta estapafúrdia. Baixei o olhar para as calças, não tinha a coragem de a observar nos olhos quando ela passasse por cima da brincadeira e o teor das suas palavras me magoassem.

– O que é que tu esperas que aconteça, Vic? O que é que tu queres? 

Não tinha a certeza se conseguia responder às suas perguntas. Eram coisas diferentes. O que eu queria pairava numa realidade muito distante daquilo que eu esperava que acontecesse.


–O que eu quero é diferente do que eu acho que vai acontecer Sofia. E mesmo assim, eu não sei o que quero. Às vezes tenho a certeza absoluta de que só vou estar completamente bem se ele estiver comigo. Mas depois, dou comigo a achar que essa é uma esperança completamente parva. Pelo amor de deus, ele só me deu um par de abraços e eu já andei para aí a divagar sobre assuntos que não lembram a ninguém. – tive a noção de que estava a elevar o meu tom de voz enquanto falava, por isso encolhi-me de modo a falar mais baixo. Não me podia censurar a mim própria, sentia cada pedaço do meu corpo desesperar-se à medida que ia falando. – E o que vai acontecer? Vai acontecer exactamente aquilo que é suposto acontecer. Ele vai ver-me como uma simples fã, falar comigo como fala com outra pessoa qualquer e acabou. Volta para a casinha dele do outro lado do Oceano e eu vou andar por aí, a recolher os pedaços do meu coração ridículo que acaba partido.

–Eu não sei quanto a ti, mas o que vi à cinco meses atrás é difícil de esquecer. O que ele disse em frente a vinte mil pessoas, o abraço. Mas claro, as pessoas mudam, os sentimentos alteram-se.Mas eu sei que vais encontrar as respostas quando o vires, vai ser tipo um clique. Se ele fizer de conta que não existes, então esquece que ele existe também. Não vale a pena lutar por quem não merece. Mas se estiveres enganada, vai ser a melhor sensação da minha vida. 

Por um MomentoOnde histórias criam vida. Descubra agora