22 - Encruzilhada

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Debati-me contra a minha própria estupidez. Porque lhe confessara o que sentia para depois lhe partir o coração? Definitivamente devia passar-se algo de muito errado com o meu cérebro e com o meu coração.

Senti a brisa do mar envolver-me os cabelos e puxá-los na sua direcção. Não tinha consciência de que a casa do Chuck ficava tão perto da praia. Não tinha reparado quando o Daniel me levava até festa. E mais uma vez, teria de agradecer ao meu cérebro por fazer com que me absorvesse nos meus pensamentos tão facilmente. Se calhar o meu cérebro era mesmo defeituoso. Mas mesmo que o fosse não o detestava completamente uma vez que me permitia ponderar muito em relação a tudo. E neste momento, enquanto passeava descalça pelo paredão, deixando apenas o vento e o som do mar envolver-me, era demasiado fácil abstrair-me. E de facto, necessitava de o fazer.

Comecei por pensar no Seth; já decidira que iria ter uma conversa séria e resoluta com o meu namorado onde não lhe omitiria nada. Queria que soubesse o que se passara na festa, o que o Daniel me fazia sentir e como o que sentia por Daniel divergia do que sentia por ele. Tinha medo de falar com ele, mas sabia que já não dava para adiar mais a conversa. Afinal, eram também os sentimentos dele que estavam em jogo.

Quanto ao Daniel, ainda não estava totalmente certa do que gostaria de fazer. O meu coração dizia-me para o procurar, para resolver finalmente tudo o que ficou por resolver ou dizer e afastar-me dele. Definitivamente. Já não seria egoísta novamente, nem cínica, e descobrira que se ser-se humana era brincar com os sentimentos de outras pessoas, então eu não queria mais ser humana. 

Lancei um olhar ao relógio de pulso e espantei-me com as horas. O relógio marcava que faltava pouco tempo para a Meia-Noite, e nem sequer dera pelo tempo passar. Saí da festa por volta das vinte e uma e viera directa para aqui. A temperatura descera significativamente desde que abandonara a festa mas não dera pelo arrefecimento do tempo. Desde pequena que me sentia bem perto do mar, quer estivesse um calor de morte ou frio descomunal. Calcei as sandálias e caminhei até um táxi vazio que estava estacionado do outro lado da rua perto de um restaurante. Indiquei-lhe o nome de uma rua e recostei-me no banco. 

A viagem não demorou muito até à casa dele. Pelo contrário, demorou demasiado pouco e ainda não estava plenamente convicta do que lhe deveria dizer. Aliás não estava nem certa de que ele já estivesse em casa.

Pedi ao taxista que esperasse por mim alegando que não demoraria muito e sai enfrentando o ar gélido da noite. Abotoei mais um pouco o meu casaco de malha e inspirei fundo. – Vá lá, tu consegues Vic! – encorajei-me a mim própria.

Subi os degraus do alpendre e passei ligeiramente os dedos pela bandeira do Reino Unido que estava fixa ao chão. Toquei à campainha e esperei. Talvez não estivesse em casa e depois de aguardar o que me pareceu uma eternidade voltei-me para descer os degraus. Ouvi o estalido de umas chaves a rodarem na fechadura da porta branca e voltei-me novamente para o encarar. Estava escuro dentro da casa e só conseguia ver metade da cara dele.

– O que é que queres? – a voz dele soou rouca e dura. Demasiado dura fazendo com que as minhas lágrimas picassem nos olhos.

– Eu – clareei a voz tentando parecer menos frágil e quebradiça.– – Eu quero falar contigo.

– Acho que já disseste tudo o que tinhas para dizer na festa.

Merecia aquilo. Merecia tudo o que ainda estivesse para vir.–Daniel, desculpa! Eu... 

Abriu a porta e saiu para a luz do alpendre. – Tu o quê Victória? Tens namorado e ama-lo não é? Então fizeste o que estava correcto.

Engoli em seco inspirando com força. – É verdade mas...

Por um MomentoOnde histórias criam vida. Descubra agora