diario de quarentena I

174 10 3
                                    

aproximadamente 1 mês e 17 dias.

sinto-me claustrofóbica, tenho observado minha janela pelo fim da tarde e memorizei alguns tons:
o contraste do azul e do verde,
tons pastéis ao entardecer,
a suavidade dos tons neutros e
sempre uma cena do lado de lá.
ao meu ver, essa é a parte do dia mais esperançosa
apesar de já ter parado de ler noticiários.
tomo um café fresco e nem o deixo mais esfriar
todo dia penso o que eu posso fazer, mudar...
ser.

somos autorias,
verso solto, poesia.
gritaria. crio a noite,
choro de dia.
sem muita regalia
bastante amor
prego alegria!
até em tempos de pandemia?

minha mãe diria que essa coisa tal que ditam, é o choro da maioria...
questão irrita
meu peito grita
imagina o peso da morte em tantas famílias
roubando a fé que nem Deus mesmo traria
e quem move as peças é um fantoche, quem diria?
vender pra quem? se o classe média é divida?
se morrem mais a cada dia?
se não investimos nem na cura?

confesso que estou engasgada.
muitas prosas retidas que me entopem
energia canalizada estou torpe
tá tudo planejado, off
ah. agora o céu está ciano com nuvens de magenta.

até deixei o café esfriar..
e me vejo em uma peça de teatro
onde a protagonista esquece o roteiro e tira um intervalo para o cigarro
mas voltando, tempos complexos
alguns não acreditam na mídia, outros são milícias e tem o povo
que morre o tempo todo, e os tolos não respeitam nem os métodos
vivendo como se amanhã voltariam pra suas vidas normais e sacanas

sinto que os reais de alma usarão esse tempo para evoluir, sendo até um desafio, e eu acredito na mudança apesar da realidade que nos sucumbe

mas ainda me dá vontade de ir num pico ver o pôr do sol ou pegar um busão ouvindo um soul no fone, confesso.

carta de saudades da vida.

outrora penseiOnde histórias criam vida. Descubra agora