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Matheus

Eu tenho quase certeza que azul é a cor do amor.

Escrevi essas palavras em uma folha com caneta azul. 1 ano depois dela.

***

Toda a minha família está em pedaços.

Eu odeio os choros e as lamúrias, no entanto, estou fazendo o mesmo e me questionando se apenas estou seguindo o coletivo ou se sinto isso de verdade.

Minha cabeça dói e estou anestesiado.

Parece que todo o meu corpo ficará letárgico para sempre.

Ouço os lamentos da minha mãe, vozes embargadas.

Queria dizer que estou embaixo d'água, porém tudo é tangível demais.

Ainda assim, estou no piloto automático. Pego algo, limpo algo. Por favor, me deem tarefas para fazer porque não vou aguentar mais um segundo com meus pensamentos.

Meu coração bate.

Em minha cabeça.

Vou morrer.

Igualzinho a ela.

Vou morrer.

Tenho certeza disso porque meu peito dói, e meus braços doem, e minhas pernas também, inclusive meu mindinho.

Procuro todos os sintomas na internet.

Aneurisma cerebral.

Tenho certeza que é isso. Igual ela.

Ela sentiu essas dores.

Ela delirou.

Rebecca delirou.

E agora eu estou em delírio.

Aperto a mão da minha mãe, que continua em seus soluços e ignoro o caos na minha cabeça por um segundo.

Digo frases bonitas que devem fazer algum sentido.

Eu não desejo a ninguém ver isso. Sentir isso.

- Mãe, por favor me leva. –Minha mãe repetia para algum lugar no vazio que se encontrava. –Não quero mais ficar aqui. Levaram minha filhinha, agora tem que me levar.

Ninguém deveria ver a mãe implorar a própria morte por tanta dor e luto.

Nem eu sabia se queria estar aqui também.

Eu queria viver em um mundo sem a Rebecca?

A resposta era óbvia: não.

Mas eu faria de tudo para minha mãe pensar o contrário. Que no fim do dia, valia a pena ficar. Que no fim das contas, eram as coisas boas que ficavam.

É, li isso um dia. Acho que foi em Por Lugares Incríveis.

Digo, mais um vez, repetindo a frase bonita para ela. Dizendo sobre felicidade, apesar da dor, um dia ela volta.

Não há mais frases bonitas por aqui.

Mas talvez haja momentos bons.

É o que me permito a acreditar, pouquinho, num momento curto entre a sanidade e a loucura.


Sky

Vou até o banheiro feminino e me analiso no espelho.

É o que tem para hoje. Olheiras enormes e espinhas de alguém que mal lavou o rosto ao acordar e está parecendo um zumbi.

Nem acredito que vou encontrar Marlon nesse estado depois do cursinho, porém ele disse que era importante. E também seria um bom alívio para cabeça subir para Praça da Liberdade, após fritá-la com dois horários seguidos de Matemática.

O céu é para todos [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora