O Príncipe Sapo

77 7 11
                                    


14 de junho de 2015

Aquela era a primeira vez em que me encontrei diante de um mar de incertezas na minha vida.

Levantei-me da cama ainda preso ao pesadelo mais assustador e sem sentido que já havia sonhado. Era algo louco e sórdido, incomum e realmente não sei o que tinha a ver comigo. Parei encarando o espelho – que por sinal tomava quase toda minha parede – sem saber o que fazer.

Eu sou Jeon Jungkook, o garoto de gelo, é como sou conhecido. Dizem que não tenho coração e que sou incapaz de nutrir algum tipo de sentimento por alguém.

E por muitos anos também acreditei que fosse verdade.

A noite tinha sido turbulenta, eles tiveram medo de que eu tivesse outra recaída, me doparam para que não visse a noite chegar. Odiava passar as noites em claro, mas confesso que odiava mais quando me roubavam a oportunidade de vê-la se despedir do dia.

Era realmente frustrante.

Estive em hospital psiquiátrico durante longos anos. Desde a morte da minha mãe para ser mais exato, fui internado lá. Dizem que na noite em que ela faleceu, eu estava surtando. Sei que não era verdade, nunca estive doente, e não precisava ser levado para lá, não precisava passar tanto tempo trancado.

O que realmente aconteceu comigo foi uma fatalidade, estava no lugar errado, na hora errada. Ainda me lembro de tudo, e com detalhes, mas a muito tempo venho dizendo que não, isso evitava os castigos dolorosos e eu podia ficar mais tempo sozinho com meus pensamentos.

Pensando nela.

Era um dia tempestuoso, o vento gritava furioso na janela e batia tão forte nas arvores que tive medo de que pudessem arrancá-las do chão. Minha mãe e eu estávamos no escritório de papai. Enquanto ela lia, entretida, algum romance bobo eu apreciava a chuva. Minha mãe era assim, e não me cansava de admirá-la, apesar de já ter passado dos 40 anos permanecia com o mesmo vigor que tivera em sua juventude, o segredo para manter sua jovialidade era sua bondade e sua transparência. Uma mulher admirável que qualquer homem em sua sã consciência gostaria de se casar, pena que infelizmente o homem que escolheu não era quem esperava que fosse.

Meu pai não era o tipo de homem que pudesse se admirar como esposo, era famoso por ser bom em seus negócios, sua empresa crescia números altos a cada ano, e a explicação para isso era sua dedicação. Mas como marido e como pai estava em débito, ele não tinha tempo para a família e hora ou outra o ouvia discutir com minha mãe, já ouvi de seus lábios que ele me odiava, porque havia descoberto que eu era um bastardo. Desde aquele dia nunca mais consegui me aproximar como antes, ele sempre me evitava.

Naquele momento agradável ao som das gotas que caiam no chão rapidamente, fazendo barulhos estalados e cativantes, minha mãe e eu tomamos chá em frente a lareira. Eu a servi como de costume. Coloquei leite como gostava e um cubinho de açúcar. Ela sorriu satisfeita, então peguei minha xícara e a acompanhei no silencio do escritório.

Observei o fogo queimar a lenha devagar. Engraçado como ele não a consumia de uma vez, o processo era tão lento que chegava a ser entediante, porem quando o trabalho terminava era gracioso ver as cinzas que se formavam, um pó preto e leve, delicado e espalhafatoso, era assim que a madeira queimada se desfazia em meio ao fogo.

Sorri ao terminar minhas conclusões e procurei os olhos de minha mãe para compartilhar com ela minhas teorias sobre o fogo, mas tudo que encontrei foi sua expressão pálida largada no sofazinho em que estava sentada com os olhos abertos. Me levantei rapidamente assustado, eu era só uma criança, não queria machucá-la.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora