Eu aceito a proposta

29 5 3
                                    


14 de setembro de 2017

St. Louis

Era entediante não ter com quem dividir o que sentia. Às vezes precisava, às vezes queria, às vezes esperava que alguém se comovesse e me abraçasse dizendo que tudo ficaria bem, mas isso só acontecia em filmes românticos.

Eu sou Amarílis Maria Flores, e no momento tenho dezessete anos, estou no último ano do ensino médio, o ano que servia para marcar a adolescência. Casaizinhos de emo, sexo, casaizinhos de famosos, drogas, casaizinhos de gays, bebidas alcoólicas, mas sexo... que não estão relacionadas a mim, digamos que eu não fazia o tipo deles. Primeiro porque moro na Rua Golden nº 25 em St. Louis, Missouri, EUA. O lugar mais afastado da cidade. Minha casa não é nenhuma mansão, na verdade nem é minha, é só um casarão velho caindo aos pedaços que as pessoas acham que é mal assombrado. Até eu tenho medo dessa casa às vezes, mesmo já tendo me acostumado com os ruídos que ouço a noite. Alugamos o casarão há um tempo, o dono já queria se livrar dela, e achou duas idiotas/ desesperadas para locar.

Eu moro com minha Nanny, e antes que pergunte, sim, ela é minha babá, e se chama Carmem Oliveira, mas eu prefiro chamá-la de Nanny, evita que eu crie algum tipo de relação com ela fora do parâmetro de cuidadora e cuidada.

Ela não é má pessoa, mas a defino como aquele tipo de garota que pessoas como eu detestam, bonita, alta, loira, dona de um par de olhos verdes sedutores, totalmente o oposto de mim, apesar de meus olhos azuis e cabelos longos e pretos, não tinha nada de tão maravilhoso para mostrar. E mesmo que eu tivesse, não poderia.

Essa era a diferença entre nós duas, por mais que me achasse bonita, em algum momento, quando via meu reflexo no espelho, só enxergava minha realidade precária, e as marcas em meu pulso, que me deixavam horrível.

A Nanny podia ser a pessoa mais chata do mundo, mas em vez disso, era imprevisível e isso fazia dela alguém inacreditavelmente interessante. Seu jeito cativante atraia as pessoas, todos a ouviam como se estivessem sendo manipulados por ela, era uma espécie de dom.

Eu já desejei ser como ela muitas vezes, mas nenhuma passou de um mero desejo, nem em meus mais preciosos sonhos eu poderia, não éramos um tipo compatível. Ela é moderna e apesar de seus quase trinta, sua beleza parecia só se fortalecer com o tempo, isso a tornava cada vez mais atraente. Carisma, simpatia, beleza são adjetivos que a definiam completamente bem.

Eu, porém, na escola sou conhecida como as Flores do cemitério de municipal, me chamam de Crisântemo* e Lisianto**. Me acham esquisita e sou mesmo culpada por isso, digamos que não sou uma garota muito sociável, a um alerta em mim que toca sempre que penso em dizer alguma coisa, mudando o que realmente digo e me fazendo parecer uma completa idiota.

A realidade é que eu me importo com o que dizem sobre mim, mesmo quando as palavras me afetam, tento não pensar nelas. Era por isso que eu preferia manter distância de todos, assim não me agarraria a ilusões e muito menos retomaria o meu passado. Não gosto de lembrar-me dele, cada detalhe é como espinho na minha carne e cada vez que penso sobre isso, acabo me machucando mais e é difícil fazer parar de doer depois. Cicatrizes? Tenho várias, por isso a Nanny está comigo, e por isso também preciso mantê-la afastada.

Tem tanta coisa que ela não sabe sobre mim, mas é melhor assim, desta forma me sinto menos culpada pelo que estou tentando fazer com a minha vida, é questão de tempo até eu conseguir.


❁ ════ ❃•❃ ════ ❁


Desde a hora em que acordei, continuei deitada na minha cama, fitando o teto, tentando afastar as imagens assustadoras do meu pesadelo rotineiro. Queria acordar e descobrir que tudo não passou de um sonho, mas era só abrir os olhos e ver o estado em que me encontrava para perceber que não era, essa era minha realidade. Às vezes me permitia pensar sobre o assunto, talvez encontrasse respostas para os problemas da minha vida, porém todas essas tentativas eram em vão, nada mudava quem eu era ou quem eu estava me tornando.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora